segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Plano de resíduos sólidos receberá contribuições da sociedade

     Nesta quinta-feira (1º/9) foi dado mais um passo para cumprir o que prevê o Decreto 7.404, de 2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A consulta pública à primeira versão do Plano Nacional de Resíduos Sólidos foi lançada pela ministra Izabella Teixeira, durante reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente, realizada no auditório do Ibama, em Brasília.
     O documento preliminar estará disponível no site do Ministério do Meio Ambiente (www.mma.gov.br) a partir de segunda-feira (05/09), pelo prazo mínimo de 60 dias, contados da data da sua divulgação. Serão realizadas audiências públicas nas cinco regiões brasileiras e em Brasília para debater as diretrizes e metas do Plano. A primeira será este mês em Mato Grosso do Sul, reunindo a região Centro-Oeste.
     O objetivo é ampliar a participação da discussão sobre o Plano, mobilizando a sociedade e envolvendo setores específicos em todo o território nacional. O Plano apresenta conceitos e propostas que refletem a interface entre diversos setores da economia compatibilizando crescimento econômico com desenvolvimento sustentável. O diagnóstico foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e "cumpriu seu papel de oferecer elementos de avaliação, de construção e de monitoramento das políticas públicas brasileiras", enfatizou o presidente da instituição, Márcio Pochmann, que participou do evento no Conama.
     Para o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (MMA), Nabil Bonduki, a determinação da lei ambiental de erradicar os lixões em todo o país até 2014 é um desafio. "Mas, olhando o diagnóstico realizado pelo Ipea, podemos ficar mais otimistas", destacou. Segundo ele, entre 2000 e 2008 o Brasil conseguiu melhorar de 38% para 58% o descarte adequado de resíduos sólidos em aterros sanitários. "Isso sem que houvesse uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esperamos avançar um pouco mais com a nova lei ambiental", afirmou.
     Provocar não só uma mudança nos padrões de consumo, mas na maneira como as pessoas se relacionam com os resíduos sólidos, além de promover a inclusão social foram os pontos destacados pela ministra Izabella Teixeira. "Com esse investimento maciço em reciclagem promovemos ainda a inclusão social dos catadores, com a formação e a construção de cooperativas, qualificando profissionalmente essas pessoas. Eles são os verdadeiros agentes ambientais no dia-a-dia das grandes cidades brasileiras. São eles que recolhem o lixo junto com os serviços de limpeza urbana", destacou.
     Izabella Teixeira acredita que "investir em reciclagem é gerar riqueza, economia, negócios verdes, negócios sustentáveis, fazer a inclusão social, dar cidadania para essas pessoas e trabalhar uma visão mais inovadora de coordenação de gestão pública com a União, que é a grande coordenadora desse processo dos resíduos sólidos nos estados e municípios onde as soluções devem ser buscadas, com as suas especificidades regionais, estaduais e locais. É um grande desafio que a sociedade brasileira terá que lidar nos próximos anos", finalizou.
     O Plano Nacional de Resíduos Sólidos terá a vigência por prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, com atualização a cada quatro anos.

por Aída Carla de Araújo, Ascom - MMA

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Lei dos Resíduos Sólidos: planos municipais devem estar prontos até 2012

Os planos municipais referentes à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) deverão estar concluídos até 2012, dois anos antes de começarem a apresentar os primeiros resultados gerais, segundo lembrou na quarta-feira, 24 de agosto, o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Nabil Bonduki. 

Na quinta-feira (25) foi o último dia do encontro em Brasília que reúne representantes da pasta ambiental, estados e municípios com o objetivo de discutir a legislação aprovada há um pouco mais de um ano, e que representa o estabelecimento de um marco regulatório para o setor de resíduos sólidos no Brasil.
”Estamos em um momento estratégico. O momento em que cabe aos estados estimular, apoiar os municípios para fazer os seus planos integrados e para colocar em prática aquilo que é o objetivo final da política”, destacou Bonduki.
O encontro na capital federal deverá promover um balanço dos consórcios intermunicipais. “A ideia é dialogar um pouco sobre os desafios que a PNRS trouxe para os estados e municípios, as oportunidades de apoio que o governo vai continuar trazendo. A expectativa é que, ao final do encontro, tenhamos traçado os próximos passos para a área de resíduos sólidos”, projetou o diretor de Ambiente Urbano do MMA, Silvano Silvério.
“Estamos conclamando os municípios a estabelecer uma parceria mais permanente com a nossa secretaria, não só porque tem a PNRS, mas tem as políticas de ambiente urbano, como a qualidade do ar, como o acompanhamento das áreas contaminadas, e toda a política ambiental voltada às APPs e áreas de proteção urbanas”, observou Nabil Bonduki.
* Publicado originalmente no site EcoD.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Desenvolvimento (ecologicamente) sustentável!

     Desenvolvimento sustentável é um termo muito falado, hoje em dia, sempre como o mais desejável para garantir a proteção da natureza. Mas seria ele um conceito que corresponde aos anseios do Movimento Ecológico?
     Analisando este conceito vemos que ele surge como uma diferenciação do conceito de desenvolvimento.
     O ultimo um conceito da modernidade que procura descrever a ocupação de territórios de modo a incorporá-los no processo produtivo econômico e criar ambientes para uma vida humana moderna.
     Conceito influenciado por um contexto positivista que pregava o desenvolvimento como altamente desejável, pois significava que a região e seus moradores haviam atingido um padrão de renda e uma vida de conforto e tranquilidade. Nesta mesma visão o destino final de todas as nações. Tanto que o mundo foi dividido em países e territórios desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos.
     Nos anos sessenta, esta visão otimista, começou a ser questionada. Paralelo à geração de riqueza e as zonas de ótimas condições de vida, foram surgindo também grandes focos de concentração de miséria e espaços degradados pelos processos produtivos e os resíduos da civilização.
     Os crescentes problemas ambientais e o crescimento da população miserável puseram em cheque o conceito de desenvolvimento.
     É neste momento, ainda no âmbito das ciências econômicas, que surge a ideia do desenvolvimento sustentável. Um conceito que pregava a noção de um modo de vida e produção que garantisse as necessidades das atuais gerações sem comprometer as necessidades das gerações futuras.
     A primeira vista um conceito muito claro, mas que dá abertura a muitas interpretações.
     Do ponto de vista de uma grande corporação desenvolvimento sustentável é àquele que garante a produção atual sem comprometer a produção futura da empresa. Caso a empresa trabalhe com papel e produza celulose hoje sem comprometer a capacidade futura de produção da empresa então é desenvolvimento sustentável. Se a equação não considera o bioma deslocado pelas árvores plantadas, populações retiradas de seus territórios tradicionais ou mesmo uma empresa concorrente, mesmo assim, do ponto de vista desta suposta corporação será visto como desenvolvimento sustentável.
     Do ponto de vista de uma nação pode se fazer uma interpretação parecida. Se meu país vai bem, no presente e nosso modo de vida atual não atrapalha as perspectivas de vida das futuras gerações desta pátria então o é desenvolvimento sustentável. Mesmo que possa significar problemas ambientais e econômicos em outras nações.
     Pode se ver que desenvolvimento sustentável é um conceito antropocêntrico, calcado na ideia de que qualidade de vida é uma decorrência direta de altas produções econômicas. No fundo uma variante pouco consistente do velho conceito de desenvolvimento para aplacar consciências quando as suas responsabilidades como geradores de miséria e degradação ambiental pelo mundo afora.
     A questão, do ponto de vista ecologista, é que o conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo justamente interpretado, principalmente sob uma ótica econômica relacionada à perpetuação dos atuais processos produtivos sabidamente concentradores de riqueza e degradadores da natureza. Mais tenuemente ele é aceito na perspectiva da reprodução no tempo de certas organizações sociais economicamente privilegiadas. Pouco mais que uma simples cosmética retórica para ocultar a cara feia da nossa situação atual.
     Ainda estão fora desta visão a grande maioria da população humana e todas as demais formas de vida do planeta que não são úteis aos processos produtivos atuais.
      Por isto é que no seio do Movimento Ecológico falamos em desenvolvimento ecologicamente sustentável.
     Um conceito que visa à construção de vários modelos de vida interdependentes e complementares entre si que resultem em processos produtivos que visem, em primeiro lugar, a perpetuação de todas as formas de vida do planeta dentro de um patamar de plena existência para as atuais gerações sem comprometer as mesmas possibilidades para as futuras gerações.
     A primeira vista não parece muito diferente do anterior, mas o conceito de desenvolvimento ecologicamente sustentável pede um olhar diferente para todo o planeta. Ele deixa claro não ser toleráveis todos os problemas sociais e ambientais atuais. Ao contrário aponta que eles são uma prova cabal de que as boas intenções dos que pregam o desenvolvimento sustentável ainda não compreenderam o verdadeiro dilema contemporâneo e não estão, de fato, dispostos a criar um novo paradigma que considere todos os aspectos da existência da vida na Terra e faça frente às ameaças criadas pelo paradigma da modernidade a sua continuidade no tempo.
     Ainda temos muito por fazer para construirmos uma sustentabilidade dentro desta perspectiva para as atuais e futuras gerações. Ainda precisamos desenvolver uma ética que enxergue a totalidade do planeta e todas as suas manifestações vitais. Uma ética que questione se precisamos mesmo de mais atividade econômica ao invés de concentrar nossos esforços em distribuir melhor a riqueza já gerada e reprogramar às bases como ela é produzida.
     Em relação ao passado já evoluímos, na medida em que se reconhece que não basta só o desenvolvimento para trazer o equilíbrio às sociedades humanas e garantir a reprodução das demais formas de vida. Mas não podemos nos acomodar no conceito de desenvolvimento sustentável porque ele ainda esta contaminado da lógica desenvolvimentista do passado para o qual ele é um tênue contraponto.
      O modo de produção da natureza sempre trabalhou em outras bases. Sempre primou pelo emprego ao máximo da diversidade, eficiência e complementariedade. Uma formula que mesmo perdendo algumas espécies pelo caminho tem sabido manter a vida na Terra. Processo já imitado, com muito sucesso, por várias formas de organização social humana no passado e no presente.
     Quem sabe dedicar mais tempo a estes modelos possa nos inspirar e motivar para a construção de um conceito diferente de levar a nossa vida neste mundo tão bonito e rico de possibilidades.

Arno Kayser, Agrônomo Ecologista Escritor.
Blog: http://arnokayser.wordpress.com/

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Uma nova ciência: Análise do Ciclo de Vida (ACV)

Por Leonardo Boff/ Teólogo/Filósofo (*)
     A busca de um bem viver mais generalizado e o cuidado para com a situação global da Terra está aprofundando cada vez mais a nossa consciência ecológica. Agora impõe-se analisar o rastro de carbono, de toxinas, de químicas pesadas, presentes nos produtos industriais que usamos no nosso dia-a-dia. Desta preocupação está nascendo uma verdadeira ciência nova que vem sob o nome de ACV: Análise do Ciclo de Vida. Monitoram-se os impactos sobre a biosfera, sobre a sociedade e sobre a saúde em cada etapa do produto, começando pela sua extração, sua produção, sua distribuição, seu consumo e seu descarte.

     Demos um exemplo: na confecção de um vaso de vidro de um kg entram, espantosamente, 659 ingredientes diferentes nas várias etapas até a sua produção final. Quais deles nos são prejudiciais? A Analise do Ciclo de Vida visa a identificá-los. Ela se aplica também aos produtos ditos verdes ou ecologicamente limpos. A maioria é apenas verde no fim ou limpos só na sua utilização terminal como é o caso do etanol. Sendo realistas, devemos admitir que toda a produção industrial deixa sempre um rastro de toxinas, por mínimo que seja. Nada é totalmente verde ou limpo. Apenas relativamente ecoamigável. Isso nos foi detalhado por Daniel Goleman, com seu recente livro Inteligência ecológica (Campus 2009).

     O ideal seria que em cada produto, junto com a referência de seus nutrientes, gorduras e vitaminas, deveria haver a indicação dos impactos negativos sobre a saúde, a sociedade e o ambiente. Isso vem sendo feito nos EUA por uma instituição Good Guide, acessível pelo celular, que estabelece uma tríplice qualificação: verde, para produtos relativamente puros, amarelo se contém elementos prejudiciais mas não graves, e vermelho, desaconselhável por seu rastro ecológico negativo. Agora inverteram-se os papéis: não é mais o vendedor mas o comprador que estabelece os critérios para a compra ou para o consumo de determinado produto.

     O modo de produção está mudando e nosso cérebro não teve tempo suficiente ainda acompanhar essa transformação. Ele possui uma espécie de radar interno que nos avisa quando ameaças e perigos se avizinham. Os cheiros, as cores, os gostos e os sons nos advertem se os produtos estão estragados ou se são saudáveis, se um animal nos ataca ou não.

     Ocorre que o nosso cérebro não registra ainda mudanças ecológicas sutis, nem detecta partículas químicas disseminadas no ar e que nos podem envenenar. Introduzimos já 104 mil compostos químicos artificiais pela biotecnologia e pela nanotecnologia. Com o recurso da Análise do Ciclo de Vida constatamos o quanto estas substâncias químicas sintéticas, por exemplo, fazem diminuir o numero de espermatozóides masculinos a ponto de gerar infertilidade em milhões de homens.

     Não se pode continuar dizendo: as mudanças ecológicas só serão boas se não afetarem os custos e os rendimentos. Esta mentalidade é atrasada e alienada pois não se dá conta das mudanças havidas na consciência. O mantra das novas empresas é agora:”quanto mais sustentável, melhor; quanto mais saudável, melhor; quanto mais ecoamigável, melhor”.

     A inteligência ecológica se acrescentará a outros tipos de inteligência, este agora mais necessário do que nunca antes.
(*) Autor do livro Proteger o planeta, cuidar da Terra, Record 2010.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Laboratório de felicidade

Gilberto Dimenstein em 16/05/11

Cientistas da felicidade estão dando caráter científico a práticas como a meditação

Povoada de brasileiros, especialmente mineiros, uma pequena cidade americana, chamada Somerville, na região metropolitana de Boston, está se transformando num laboratório de felicidade.

Pela primeira vez, a prefeitura de uma cidade dos Estados Unidos resolveu fazer um censo buscando saber a taxa de felicidade de seus habitantes e, a partir daí, traçar políticas públicas. “Estamos querendo medir com mais precisão o grau de satisfação da população”, diz Daniel Gilbert, professor de psicologia em Harvard.

Essa experiência, que vem sendo realizada numa cidade de 72 mil habitantes -onde, aliás, se pode comer um divino pão de queijo e um pão francês com manteiga na chapa típico das nossas “padocas”-, faz parte de um experimento da ciência da felicidade.

Bobagem no estilo autoajuda? Ilusão?

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O que Harvard está tentando fazer em suas faculdades de medicina e saúde pública é tirar a felicidade do besteirol da autoajuda, colocando-a nas mãos de cientistas, com suas máquinas cada vez mais sofisticadas de investigar o cérebro e os conhecimentos sobre genética.

É uma investigação que atinge o mais profundo dos sonhos e dos pesadelos dos seres humanos. Estudo publicado na semana passada sobre os anos de vida perdidos por causa de doenças mostrou que cerca de 30% dos brasileiros já apresentaram sintomas de depressão. A tristeza ou a felicidade, além de problemas genéticos, são contagiosas?

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Pesquisa da faculdade de saúde pública de Harvard revela que sim: tanto a tristeza como a felicidade “pegam”. Usando recursos da epidemiologia, os pesquisadores mediram como pessoas que demonstram alegria propagam uma atitude mais positiva entre familiares e amigos, gerando um contágio. Viram também que a tristeza passa por fenômeno semelhante, mas (felizmente) sem a mesma intensidade da felicidade. A informação é baseada no acompanhamento de 5.000 pessoas durante 20 anos.

Os cientistas da felicidade, usando equipamentos de ressonância magnética e grupos de controle, estão dando caráter científico a práticas milenares, como a meditação. Esse conhecimento já vem sendo experimentado nos hospitais para ajudar na recuperação de pacientes.

Também nos hospitais são feitos testes que revelam como pessoas alto-astrais têm menos propensão a problemas do coração, hipertensão, diabetes ou infecções respiratórias. Vemos, assim, como determinadas sensações provocam reações bioquímicas no corpo.

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A ciência da felicidade consegue, às vezes, fundamentar o senso comum. O antigo ditado “Dinheiro não traz felicidade” parece comprovar-se. “Vemos que jogar muita atenção na aparência ou nas coisas materiais, como um carro novo, traz muito menos satisfação do que fazer trabalho voluntário, quando nos sentimos relevantes e parte de algo maior”, afirma Nancy Etcoff, responsável pelo curso de ciência da felicidade de Harvard.

O trabalho voluntário, segundo ela, aciona um sistema de recompensa no cérebro. Ela percebe, em suas pesquisas, que mulheres muito ligadas à aparência física tendem a ser menos felizes. “Muitas vezes, as pessoas procuram a satisfação no lugar errado. Percebemos isso pelo sistema de recompensa cerebral”, diz ela.

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Esse tipo de conhecimento pode mudar decisões individuais, dando força a quem defende uma vida mais simples e menos consumista, mas também tende a mudar comportamentos coletivos.

Vários países, entre os quais a Inglaterra e a França, já discutem a ideia de que medições como o PIB são ineficientes para aferir o grau de desenvolvimento de uma nação e de que a felicidade deveria entrar na contabilidade. Esse debate entrou no Brasil com um movimento pela inclusão do direito à felicidade na Constituição.

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Isso significa encontrar um jeito diferente -e mais exigente- de cobrar as promessas dos políticos.
PS- Selecionei e incluí neste link uma palestra extremamente didática, traduzida para o português, da professora Nancy Etcoff.

Fonte: Site Catraca Livre




Ver sustentabilidade como fardo é risco

Suíça Susan Svoboda é criadora do Green Transformation Lab, que treina executivos a repensar sua atuação

A missão é criar carrinhos que transportem bolinhas. Uma atividade simples para simulação de negócios, não fosse o detalhe de que, ao longo do processo, surgem demandas nem sempre conhecidas dos profissionais.

Os executivos de todas as áreas da empresa devem responder por ecoeficiência na produção dos carros, design sustentável das bolinhas, parcerias com organizações ambientalistas, marketing responsável.

Simular uma realidade cada vez mais presente no dia a dia das empresas, nem sempre de maneira organizada, foi a maneira que a suíça Susan Svoboda e o americano Stuart Hart, criadores do Green Transformation Lab, encontraram para treinar executivos no árido tema da sustentabilidade. "São departamentos e áreas que muitas vezes não conversam sobre essas novas demandas verdes. O objetivo é mostrar que, se o fizerem de maneira integrada, todos terão ganhos importantes", resume Svoboda.

De passagem pelo Brasil, Susan Svoboda concedeu a seguinte entrevista à Folha.


Folha – É possível conciliar interesses tão diversos, como de organizações ambientalistas e acionistas, dentro de um mesmo projeto?
Susan Svoboda – Sim, é possível. Por exemplo: organizações que trabalham com o ambiente geralmente cobram as empresas para reduzir a poluição ou fabricar produtos com menor impacto no planeta.

Ao mesmo tempo, fazer produtos verdes diminui os custos de produção, por exemplo em razão da redução dos gastos de energia ou da utilização de materiais de menor risco, tornando-a mais competitiva.

Como o Green Lab trabalha essa questão?
No laboratório, usamos um modelo conceitual em que os objetivos sustentáveis - como prevenção da poluição, responsabilidade com a origem do produto e as tecnologias limpas- vão ao encontro dos objetivos de negócios, como redução de custos e riscos, aumento da reputação, inovação e crescimento.

O alinhamento dessas esferas ajuda as empresas a enxergar com mais clareza estratégias de negócios realmente sustentáveis.

Um dos maiores desafios para as empresas é incorporar a sustentabilidade em diferentes áreas, evitando que funcione como um departamento isolado. Como lidar com esse desafio?
As empresas estão acostumadas a cumprir objetivos e metas, como corte de custos, inovação e ações relacionadas à sua reputação.

Os objetivos de sustentabilidade devem ser encarados da mesma maneira, ou seja, juntamente com os objetivos de negócios, e não como algo “extra” que um dia possa ser esquecido.

Quais os principais riscos relacionados à adoção de um negócio com foco em práticas sustentáveis?
Acredito que o maior risco é quando as empresas veem a sustentabilidade como um fardo, e não como uma oportunidade. Esse tipo de pensamento limita as inovações, pois as empresas entendem que só podem ser sustentáveis se sacrificarem os lucros.

As empresas devem enxergar na sustentabilidade uma oportunidade para repensar os modelos de negócios, os produtos e as tecnologias.

E dessa maneira acharão novos caminhos para oferecer valor aos clientes, fornecedores e acionistas, aumentando sua competitividade e otimizando seus resultados.


ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fonte: Jornal "Folha de São Paulo - Caderno Mercado", 28/12/2010

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Felicidade e progresso não andam sempre juntos - Entrevista com Eduardo Giannetti

A pergunta motriz

O que realmente importa? Essa é a pergunta. É a pergunta que a discussão da felicidade inspira, a ponto de provocar Eduardo Giannetti a unir as pontas da Filosofia e da Economia, em busca das questões viscerais do indivíduo e da civilização. “Nós queremos ter mais tempo para conviver com os nossos amigos, nossos filhos, para buscar o conhecimento, para usufruir da natureza?

Ou queremos competir violentamente para consumir cada vez mais e ficar com uma sensação crescente de falta de tempo?”, pergunta o autor de livros como Felicidade, Autoengano e O Valor do Amanhã (Companhia das Letras).

Ph.D. pela Universidade de Cambridge e professor do Insper, Giannetti esmiúça um dos grandes paradoxos da história humana, calcado no Iluminismo, quando se fez acreditar que o aumento contínuo da prosperidade elevaria o grau da felicidade.
Mas calma lá. Mesmo que a discussão da felicidade invalide o argumento do capitalismo, baseado no crescimento econômico perpétuo, a equação matemática é mais complicada.

Há 4 bilhões de pessoas que ainda precisam atingir o nível de conforto básico, a partir do qual passariam a aspirar outras formas de felicidade, para além do consumo material. Os recursos naturais limitados darão conta de prover esse conforto mínimo para todos? Uns diriam que a saída está na tecnologia.

Giannetti discorda. A tecnologia até pode ser a resposta, mas qual é mesmo a pergunta? O que nos remete ao início.

O que o levou a se debruçar sobre o tema felicidade? O senhor acredita que este é o valor supremo, que move todos os seres humanos?
Eu sempre me preocupei com um tema que é central: a ética, a melhor vida ao meu alcance. E acabei me voltando para um estudo sistemático, na história da filosofia, das diferentes concepções da melhor vida para o ser humano. A certa altura, percebi que havia um esforço recente de pesquisa empírica, especialmente por economistas, sobre os determinantes da felicidade. E me ocorreu juntar as pontas.

De um lado, a discussão de felicidade que vem pelo menos desde a Grécia Antiga. E, de outro, um esforço mais empírico de estudo sobre o que se passa com a vida humana na medida em que as condições externas, de renda, de saúde, de longevidade, alteram-se.

Sempre me interessou e inquietou muito a relação entre a dimensão objetiva da vida, aquilo que pode ser observado e medido, e a dimensão subjetiva, que se passa na interioridade e na imaginação humanas. E esse tema da felicidade é particularmente rico, porque os resultados mostram que não há uma relação bem-comportada entre uma e outra. Os filósofos e economistas imaginaram, no passado, que, quanto mais progredisse a civilização, mais os homens se tornariam felizes.

É aquela pergunta norteadora do seu livro, Felicidade...
Sim, da harmonia preestabelecida entre o processo civilizatório e a felicidade humana. Alguns autores, no passado, questionaram essa ideia. E os resultados empíricos  confirmam que não há uma relação tão linear. O que é uma boa notícia para quem se preocupa com sustentabilidade. Se houvesse uma relação direta entre aumento de renda e do bem-estar subjetivo, não haveria argumento para propor um mundo em que a maximização da renda, o domínio da natureza pela tecnologia e o progresso em sentido econômico deixassem de ser a grande prioridade. Já que não há essa relação a partir de certo nível de renda, outras coisas mais importantes devem ser consideradas.

A felicidade desmente a tese capitalista do crescimento econômico contínuo?
O crescimento não é um fim, é um meio para a realização e para o bem-estar humano. Mas é um meio que se esgota. A partir de um determinado nível de renda, que não é lá tão alto, não há evidência de que mais renda se traduza em vidas mais plenas, felizes e dignas de serem vividas.

Esse seria um parâmetro que deveria orientar o desenvolvimento, enquanto se rediscute esse conceito para além do desempenho econômico?
Nós sabemos hoje que o progresso econômico não redunda em níveis crescentes de felicidade e nós sabemos que o progresso econômico ameaça o equilíbrio ecológico do planeta. Estas são as duas grandes realidades do século XXI.

E nós precisamos entender quais são os caminhos alternativos que podem emergir a partir desses limites. Que outros valores podem, daqui para a frente, orientar as vidas humanas.

E quanto a outros valores,a como justiça, liberdade, democracia? Ao usar a felicidade como valor norteador não se corre o risco de encobrir dilemas, dores e sofrimentos que são necessários ao aperfeiçoamento humano e da sociedade?
Nada é tudo. Nem a felicidade é tudo. E não é o único parâmetro da espécie humana. Depende muito de como você concebe a felicidade. Uma coisa é estar feliz. É um estado de ânimo. Outra coisa é o ser feliz: o que eu fiz da minha vida, e até que ponto a vida que tenho é satisfatória ou é algo em que eu me reconheça.

O que interessa mais para a perspectiva filosófica é a dimensão existencial e ética do ser feliz. E, nessa dimensão, a maximização da felicidade local nem sempre é o melhor caminho. Uma vida plena contempla uma dose razoável de frustração, descontentamento, infelicidade. Porque é uma vida criativa que busca ser alguma coisa que não é.

Eu posso conceber uma vida que tenha momentos alucinadamente felizes e, no entanto, no arco de uma trajetória, não seja bem vivida. A relação entre o ser e o estar feliz não é trivial. Os jovens, de um modo geral, pensam a felicidade na dimensão do estar feliz. O que a maturidade traz, quando ela vem, é uma perspectiva de que a melhor vida não é uma que olha só para o que eu posso fazer agora em termos de prazer. E aceita que, muitas vezes, para você conseguir alguma coisa que faça sentido no tempo, é preciso abrir mão de outras que fazem sentido localmente. Esse é um passo difícil para o ser humano, especialmente na juventude, quando tudo clama pelo momento.

Já que estamos falando de limites e frustrações... a sustentabilidade tem muito disso. Na sua veia mais ambientalista, tem impregnada a defesa do comedimento, da privação do consumo considerado frívolo, uma preocupação constante com o futuro. Esse discurso coaduna com felicidade?
Sem dúvida. Nós estamos falando de duas dimensões que têm uma estrutura comum. Na vida pessoal, a ideia de que a melhor vida requer uma boa dose de abnegação e de sacrifícios, em nome de objetivos futuros, e também de aposta, porque não temos nenhuma certeza de que esses objetivos serão alcançados. E, na dimensão coletiva, aceitar que a frustração e o descontentamento são os grandes motores da mudança. E que consumir todos os recursos do planeta a curto prazo para maximizar um hedonismo certamente comprometerá as gerações futuras e a própria viabilidade
biológica da espécie.

Então não há uma incoerência entre sustentabilidade e felicidade quando se concebe essa dimensão do sacrifício?
Depende como você concebe a felicidade. A pergunta que nós precisamos nos fazer é: consumo, renda, progresso econômico indefinidamente dão sentido ao esforço coletivo da humanidade? Ou será que nós já chegamos ao  momento em que podemos colocar o econômico no segundo plano e buscar outro tipo de realização, mais ligado a valores da criação, da existência, dos relacionamentos, da harmonia com a natureza, da estética, da busca do conhecimento?

Conforme falamos, alcançado determinado nível de renda, em torno de US$ 10 mil anuais per capita, o aumento da renda para de exercer influência sobre a satisfação e o bem-estar. Mas há cerca de 4 bilhões de pessoas no mundo vivendo sob condições indignas e que ainda precisam chegar lá. Nesse caso, será inevitável aumentar o consumo e a renda. Mas, considerando-se a limitação de recursos, de energia, pico climático, pico do petróleo... haverá um conforto mínimo para todos? Ou seja, a felicidade será possível para todos?
O primeiro ponto é que as condições de vida não garantem a felicidade de ninguém. As condições de vida podem aumentar o escopo da busca da felicidade. Mas nenhuma solução externa vai resolver para cada um de nós esse anseio de uma vida bem vivida. Foi um mito do século XX a ideia de que um sistema econômico daria conta da busca da realização e do bem-estar. Isso só pode partir do indivíduo. O que nós podemos esperar de um sistema econômico e de um arranjo institucional é que não cerceiem o desenvolvimento do potencial de cada ser humano. Na terminologia do Amartya Sen, é a capacitação.

Certo, mas essa conta fecha?
Essa conta não fecha. Se você começar a extrapolar o aumento do consumo de leite, de carne, de automóvel, de ar condicionado, não fecha.

Eu me refiro a condições mínimas para que as pessoas tenham conforto e tranquilidade suficientes para buscar a felicidade, inclusive pela via imaterial.
Alguns colegas meus economistas responderiam à sua pergunta dizendo que a tecnologia e a ciência vão fazer essa equação fechar. Eu não compartilho desse otimismo tecnológico.

Deverá ser uma mudança pela dor?
Ou será uma mudança por modo de vida, valores, por antecipação, ou será uma mudança imposta de fora e  provavelmente com o sacrifício de muitas liberdades com as quais nós estamos familiarizados.

E aí a felicidade entra onde?
Aí vai ser um processo muito mais doloroso para todos. A imagem que me vem à mente é a de um fumante inveterado que tem um diagnóstico de enfisema pulmonar. Ou ele continua fumando e isso vai piorar, ou ele muda de vida e encontra outras fontes de satisfação que não o tabagismo. Como humanidade, nós estamos nessa situação. Por enquanto continuamos fumando como se nada tivesse acontecido. Por tudo que se estuda e se conhece sobre felicidade, é muito mais um assunto da imaginação do que do bolso.

É ocupar um lugar relativo de honra na mente do semelhante. Isso é uma coisa que Adam Smith já falava. A partir de um determinado nível de renda, que é baixo, as pessoas se preocupam muito mais com a posição que têm na sociedade, com o modo como os outros as percebem, do que com a satisfação direta com o consumo.

Será que a atitude contrária, que repele o consumismo, também não está se tornando uma espécie de distinção em alguns círculos? Ou seja, quanto mais “eco alguma coisa”, tanto maior é a respeitabilidade, o capital simbólico, o status?
As pessoas vão competir de uma maneira ou de outra. Isso está dado. O importante é saber se essa competição resulta em alguma coisa que contribui para a melhoria da vida ou se essa competição vai resultar na destruição da vida. Tal como está moldada hoje, é a corrida armamentista do consumo e está nos levando para uma situação extremamente perigosa. Os gregos competiam no teatro, competiam no esporte, competiam na política. A competição econômica não era um valor dominante na Antiguidade.

Quando a economia passou a ter esse peso tão gigantesco? Foi com o Iluminismo? Com a Revolução Industrial?
Eu tendo a crer que foi do século XVIII pra cá. E é uma democratização, de certa forma, porque nas sociedades pré-modernas havia uma estrutura social na qual você já estava com a sua vida razoavelmente definida ao nascer. O modelo americano é que você não é reconhecido socialmente pela posição aristocrática, mas por aquilo que fez. E a moeda comum de reconhecimento social é o sucesso no mercado, a grande aspiração daqueles que querem ser winners e não loosers. Isso começa na Europa, mas foram os Estados Unidos que levaram isso às últimas consequências.

E aí isso vem a marcar toda a cultura ocidental...
Virou o grupo de referência. Todo mundo, no passado, comparava-se com o seu grupo de referência, que era o bairro, a comunidade. Com os meios de comunicação de massa, o grupo de referência da humanidade virou a mídia. Hoje você vive na imaginação um grupo de referência que está muito pouco vinculado à sua circunstância local. Um sujeito da favela do Rio, eventualmente, está se imaginando no mundo do consumo californiano.

Tem uma discussão que se iniciou num país budista, o Butão, em relação à Felicidade Interna Bruta (FIB). O Reino Unido planeja adotar um indicador nacional de felicidade, e essa discussão está no Brasil também. Haveria aí um movimento inverso, da filosofia oriental influenciando a cultura ocidental?
Acho muito bem-vindo esse questionamento do PIB como a métrica do progresso e do desenvolvimento. Se as pessoas vivem numa cidade muito poluída e passam a ter de trabalhar mais para pagar por serviços médicos, o PIB aumenta. Mas a sociedade empobreceu. É muito grave. As pessoas não têm muita noção do problema que existe em medir o progresso por um indicador exclusivamente monetário. A busca hoje é por indicadores mais abrangentes que reflitam as condições de vida e de bem-estar.

O senhor acha que a tendência é de se reverem medidas de desenvolvimento com base na felicidade? Em que ritmo isso está andando? Há muito que melhorar nas metodologias?
O ritmo é lento. Acho que não há ainda uma percepção generalizada de quão limitados são os indicadores que nós temos. Mas há uma insatisfação latente que está muito disseminada. O que afinal de contas realmente importa? Essa é a pergunta. Nós queremos ter mais tempo para conviver com os nossos amigos, nossos filhos, para buscar o conhecimento, para usufruir da natureza? Ou nós queremos competir violentamente para consumir cada vez mais e ficar com uma sensação crescente de falta de tempo? Esse é um dos grandes paradoxos dessa história toda. Tudo nos é vendido como tecnologia para economizar o tempo e, no entanto, nós carecemos cada vez mais de tempo para fazer aquilo que desejamos. O Werner Herzog, cineasta alemão, dizia que a solidão humana aumentará na proporção exata do avanço dos meios de comunicação. Nós estamos no mundo das solidões interativas. As pessoas estão hiperconectadas e cada vez mais solitárias. E têm muita dificuldade de estabelecer vínculos humanos permanentes. São relações muito fluidas, superficiais. Eu tenho milhares de amigos numa rede social e não conheço ninguém.

Sobre essa questão do indivíduo e da solidão, podemos dizer que a dimensão coletiva da busca da felicidade se perdeu em certo momento da História? Talvez depois do século XVIII, como falamos? Desde quando a busca da felicidade passou a ser feita individualmente e deixou de ser uma questão coletiva?
Mas a felicidade é as duas coisas. O economista, o filósofo, o intérprete da realidade tem que se preocupar com duas coisas: com as condições gerais de existência, ou seja, a saúde, a renda, a violência, e também com o que as pessoas vão fazer de suas vidas a partir das condições com que se deparam. Felicidade tem a ver com essas duas dinâmicas.

Os grandes economistas e filósofos do Iluminismo estavam muito preocupados em melhorar as condições gerais, acreditando que isso por si só garantiria vidas cada vez mais felizes e dignas. O que a experiência vem mostrando é que não é tão simples. A humanidade avançou muito nos indicadores biométricos, econômicos e gerais de bem-estar objetivo, mas não houve uma contrapartida observável de realização, de felicidade.

No passado, muitos filósofos tinham uma ideia substantiva de qual era a melhor vida. “Devemos viver assim.” A minha postura não é tão ousada e tão ambiciosa. Eu acho que nós podemos imaginar quais são as condições que, ao serem atendidas, permitirão a cada indivíduo encontrar e realizar a sua própria visão da melhor vida.

Aí entra um componente de liberdade?
Sim, de liberdade. E de descoberta. O valor da liberdade é permitir aos indivíduos, dentro de certos parâmetros, experimentar.

Quando se pensa em indicadores, ou numa política pública, como se pode trabalhar um grau tão variado de interpretações?
A política pública deve dar condições para que os indivíduos possam perseguir à sua maneira a sua visão da melhor vida. Não vai dizer: “Viva desse jeito”. As tentativas de tolher demais essa liberdade acabam gerando resultados ruins e não antecipados.

Mas, então, como é que se afere a felicidade?
Você pergunta para os indivíduos: como é que você se sente em relação à vida que você leva? É autodeclaratório. A outra linha de pesquisa é a felicidade no sentido do estar feliz. Os sentimentos que você tem ao longo de um intervalo de tempo.

Quer dizer, se um dá uma nota 5, outra pessoa na mesma condição em outro país pode dar uma nota 10.
Eu evito comparar países. Eu acho mais interessante olhar no tempo um determinado país ou cultura. E há outros indicadores: tentativas de suicídio, número de vezes em que se precisou de ajuda profissional em relação a problemas de ordem psíquica. Até a genética conta na felicidade individual. Tem pessoas com maior capacidade de desfrutar a vida do que outras. Mas eu acho que o mundo é melhor pelo fato de existirem muitas visões diferentes do que é viver bem. Eu gosto de estar num mundo em que isso pode ser definido por um Casanova, por um Fernando Pessoa,
por uma Janis Joplin, por um Kant... Pessoas buscando novas possibilidades de realização e dedicando suas vidas a isso, mesmo sabendo que podem não encontrar nada.

A sustentabilidade tem um bottom line social que leva em conta um sistema complexo, interdependente, e não o plano individual. Será que o indivíduo, na resposta que dá sobre felicidade a uma pesquisa, leva em conta essa relação?
Não. Quando você pergunta para o indivíduo, ele vai olhar para si mesmo, para a dimensão subjetiva da sua existência e para o seu nível de aspiração. Quanto maior o meu nível de aspiração, menor a chance de eu me declarar satisfeito com a vida que eu tenho. Toda infelicidade humana resulta de uma discrepância entre o que eu desejo e o mundo como ele é. Tem duas maneiras de reduzir esse descolamento. Ou você altera o mundo para que ele seja mais próximo daquilo que você deseja, ou, ao contrário, altera os seus desejos e as suas expectativas de modo que, não importa o que aconteça, isso não perturbe o seu bem-estar.

O que pode parecer conformista.
São duas estratégias puras. Uma é voluntarista, a outra é adaptativa. O mundo ocidental é uma aposta gigantesca no primeiro caminho. É a tecnologia, o domínio da natureza, o progresso econômico. É a tentativa de moldar o mundo de modo a que ele atenda a todos os meus caprichos e vontades. A estratégia tradicional do Oriente é a da resignação: não importa qual seja o estado de coisas, não se pode permitir que isso altere a minha paz interna e o meu estado de imperturbabilidade.

Toda vida humana individual é uma combinação de estratégias transformadoras e adaptativas. Eu acho que nós estamos caminhando para um estado em que teremos de aceitar limites e buscar maneiras alternativas de encontrar a realização. Lamentavelmente, o Oriente, que era um grande e fiel depositário dessa visão mais contemplativa e menos arrogante, embarcou de maneira muito entusiasmada no projeto iluminista do progresso.

O senhor se refere a que Oriente?
Estou falando da China, da Índia, dos mercados emergentes que estão aspirando novos níveis de consumo. As pessoas estão desesperadamente buscando alcançar equiparação com um grupo de referência que é a Europa e os Estados Unidos. Essa conta não fecha. E aí tem um paradoxo que eu estava estudando recentemente.
Tecnologias que aparentemente melhoraram a relação consumo-produto, ou seja, dependem de menos energia e menos recursos naturais para gerar utilidade e satisfação, não melhoram coletivamente a situação ambiental. O ar condicionado é um exemplo: se você obtém um ar condicionado a um custo muito menor de energia, você massifica o  produto, e aí a demanda se torna muito maior.

É o chamado efeito ricochete, ou rebound effect.
É. Eu vi um dado espantoso. O consumo hoje de energia nos Estados Unidos só para refrigeração é maior do que era o  consumo todo de energia nesse país nos anos 1950. E agora isso está se espalhando em uma escala planetária.

O que mostra que a tecnologia não será a única resposta...
A tecnologia pode ser a resposta, mas qual é a pergunta? (risos) (Em Felicidade, Giannetti cita um button ecológico dos anos 70, com a expressão “Technology is the answer. But, what’s the question?”)

Mas quando uma ideia que parte de um país como o Butão, oriental, com toda a filosofia budista, e vai se consagrar no centro do capitalismo, como no caso do Reino Unido, não tem aí uma mudança?
Eu acho que há certa mistificação nessa história, porque o Butão é um Estado autoritário. Eu quero ir à rua no Butão e perguntar para as pessoas se elas podem escolher como se  vestem, se podem viajar como gostariam, se estão satisfeitas com o seu nível de renda... Nós precisamos de um processo que venha de baixo para cima.

E o Brasil? O senhor acha que o País alimenta uma obsessão pela alegria?
Existe um exibicionismo hedônico no Brasil. O que me preocupa é que há muita ênfase no estar feliz em lugar do ser feliz. O Brasil é imbatível quando se trata de desfrutar o momento que se oferece. Mas, quando se trata de aceitar algum tipo de sacrifício agora para conquistar objetivos futuros, a dificuldade é enorme e às vezes intransponível.

Por um lado, é legal e bonito. Desperta certa perplexidade no resto do mundo. Como é que essas pessoas, que vivem  em condições objetivas tão precárias, podem desfrutar a vida a cada momento de maneira tão plena? É o componente  africano pré-moderno e indígena. Mas isso tem que ser moderado com uma perspectiva temporal que nos permita também resolver problemas permanentes da nossa convivência.

Tem um mito grego que capta bem isso: o dos irmãos semideuses, Prometeu e Epimeteu. Em grego, Prometeu significa “o que pensa antes de agir” e Epimeteu é “o que age antes de pensar”. Os dois foram punidos pelos deuses. O Prometeu porque roubou o fogo, a tecnologia, que representa o que custou à humanidade a prudência excessiva, a racionalidade. E o Epimeteu, que vive e desfruta o momento de forma muito livre, também foi punido. Ele se casa com Pandora e abre a caixa nupcial da qual saem todas as mazelas. No fundo, Epimeteu e Prometeu refletem essa realidade do ser feliz e do estar feliz. O que nós buscamos, e essa é a minha utopia de Brasil, é a civilização sem o mal-estar. É o conforto, a segurança, a racionalidade de Prometeu, com a alegria de viver, a espontaneidade e o doce sentimento da existência de Epimeteu.

O risco dessa utopia é buscar o melhor dos dois mundos e terminar no pior: o mal-estar sem a civilização. Você não alcançou um padrão de civilização razoável, mas ao mesmo tempo já perdeu aquela alegria característica dos povos pré-modernos.

Então o caminho seria esse, o de buscar o ser e o estar feliz ao mesmo tempo?
É encontrar maneiras de tensionar o ser e o estar feliz de uma forma nova. O que pode alimentar essa pretensão é o fato de que culturas pré-modernas permanecem de maneira muito viva e porosa na cultura brasileira. Isso nos dá um diferencial. A Argentina, se tudo der certo, é um país europeu medíocre. O Brasil e o México, na América Latina, têm alguma coisa diferente, têm um passo rico que pode ser metabolizado de uma maneira nova nesse processo de civilização e participação no mundo moderno.


Entrevista: Eduardo Giannetti – Revista Pagina 22 – Março/2011 – Págs. 15-19.
Por Amália Safatle colaborou Carolina Derivi foto Milena Mendes
Fonte:
http://www.fgv.br/ces/pagina22/

quinta-feira, 31 de março de 2011

Políticas e gestão no rumo da sustentabilidade

por Vilmar Berna
   
     Entre as declarações de políticas e promessas ambientais e a realidade, existe um vazio proporcionalmente tão grande e profundo quanto nossa capacidade de sonhar. Um vazio que pode e precisa ser preenchido com gestão, planejamento, investimento de tempo e dinheiro.
       Apesar da mudança para a sustentabilidade ser tarefa e obrigação de todos, aquelas pessoas e organizações já conscientizadas e engajadas no processo de mudança devem ser o exemplo que querem ver no outro, até por uma questão de credibilidade do discurso e promessas.
      Penso especialmente nas empresas com políticas de responsabilidade social, nas prefeituras com secretarias de meio ambiente, nos órgãos de controle e fiscalização ambiental, nas comissões de meio ambiente de parlamentos, nos organizadores de eventos ambientais, nas escolas com programas de educação ambiental ou cursos na área de meio ambiente.
       Deveriam ser os primeiros a demonstrarem na prática a implantação de políticas e gestão ambiental que vá além do marketing.
      Deveriam ter um sistema de gerenciamento de resíduos que vá além do descarte ambientalmente correto de um produto, para abranger não apenas a ponta final do consumo, mas todo o ciclo do produto, desde o processo de aquisição adotando uma política ecológica de compras que considere a redução do consumo, a origem ambientalmente correta dos produtos, a substituição de tecnologias sujas e desperdiçadoras de recursos por outras mais ecoeficientes e reaproveitáveis, e dê preferência a produtos locais com menor pegada carbônica e promova a geração de trabalho e renda na base da pirâmide social.
      E mesmo assim, ainda com uma gestão ambiental cuidadosa e responsável, não existe impacto zero. Então, deveriam fazer o inventário das pegadas ambientais como a pegada hídrica, a pegada florestal, a pegada carbônica, e compensar e neutralizar essas pegadas através, entre outras soluções, do plantio de árvores nativas da região para a produção de água, recuperando nascentes e matas ciliares, preservando as árvores das unidades de conservação, recuperando as árvores das reservas florestais legais, etc.
      Também deveriam adotar uma política de comunicação ambiental para todos os públicos de interesse, pois a informação sobre os bons resultados ambientais ajuda a fortalecer a motivação dos que estão produzindo as mudanças e estimula a caminhada de quem ainda não começou.
      E ainda mais. Deveriam interligar a política de gestão ambiental com a de educação ambiental, pois a mudança não se dá de fora para dentro e muito menos por portaria de cima para baixo, mas de dentro para fora.

A informação e a educação ambiental que libertam

      Tanto a informação quanto a educação têm o poder de influir e estimular novas mudanças, valores, atitudes, comportamentos. O desafio está em usar uma linguagem que seja acessível a todos, o que pode ser uma grande dificuldade numa sociedade ainda com grandes massas de analfabetos funcionais, pessoas que sabem ler e escrever, mas não conseguem compreender as idéias contidas num texto.
      As mudanças dependem de nossas escolhas e estas dependem das informações e valores que recebemos.
      O que temos nas mãos é a possibilidade aqui e agora de arregaçar as mangas e trabalhar pelas mudanças, a partir de nós próprios, assumindo que somos os resultados de nossas escolhas, e que o nosso sucesso ou fracasso resultarão de nossos sonhos e da capacidade realizá-los.

As raízes da crise

      A nossa doutrinação para o consumismo começa nas escolinhas de catecismo que se transformaram a babá-televisão e a babá-videogame, quando somos crianças, e estamos mais vulneráveis aos apelos criativos do marketing e da publicidade e, neste ponto, o Brasil é famoso pelo talento dos seus profissionais que ganham prêmios atrás de prêmios. Este talento tem sido colocado mais a serviço da escravização da sociedade ao consumismo que à sua libertação.
      As crianças brasileiras passam em média 4 horas e 54 minutos diante da televisão enquanto ficam em média 4 horas e 26 minutos na escola, segundo pesquisa do Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana. A cada dois ou três minutos, durante a programação infantil, as crianças são doutrinadas ao consumo através de anúncios criativos e bem elaborados que as estimulam a pedir aos pais para comprar brinquedos, roupas, alimentos. Para manter o alto padrão de consumo, os pais precisam trabalhar, e muito fora de casa, e com eles fora do caminho, sem possibilidade de estabelecer limites ou refletir sobre valores com as crianças, a babá-televisão fica à vontade para cumprir o seu papel de associar entretenimento a consumo, felicidade a consumo, prazer a consumo. Na maioria dos países democráticos, este assédio além de considerado imoral é ilegal. No Brasil, existe mais de uma centena de iniciativas no parlamento para tentar impedir ou limitar a propaganda para a infância, mas sem sucesso até agora.
      Se mudar já não é fácil, persistir na mudança é mais difícil ainda. O consumismo equipara-se a uma espécie de vício. Nossa sociedade é viciada em desperdício, em consumir além das necessidades e mesmo além da capacidade de pagar, o que torna aos consumidores uma espécie de escravos, entregando tempo de vida, talento, criatividade, para produzir numa ponta e consumir na outra.
      Por detrás de todo vício existem raízes e motivos mais profundos, que na maioria das vezes permanecem ocultos, no consumismo também.
      Há muito o consumo deixou de atender nossas necessidades materiais para atender as nossas necessidades espirituais.
      É através da capacidade de consumir que se dá o rito de passagem para a vida adulta, em nossa sociedade. Um jovem só é devidamente aceito depois que alcança sua autonomia para consumir sem depender dos adultos.
      É também através da capacidade de consumir que se dá o pertencimento à sociedade. Somos avaliados a que classe social pertencemos pelo poder do consumo. Daí a associar poder de consumo à importância social é um pulo, explorado pela propaganda para vender produtos com a promessa de felicidade e reconhecimento social, levando muitas vezes as pessoas a se endividarem, não para atender a necessidades materiais, mas a desejos espirituais de estarem na moda para serem reconhecidos socialmente ou se sentirem bem.
Numa sociedade assim o valor das pessoas não é mais medido pelo seu caráter ou sabedoria, mas na quantidade e na qualidade dos bens que demonstra possuir ou que é capaz de doar ou de presentear. O afeto precisa ser traduzido em bens materiais, em lembrancinhas e presentes, transformando datas comemorativas em pretexto para mais consumo como o Dia dos Namorados, das Crianças, dos Pais, o Natal.

Sustentabilidade e desigualdade social

      Não basta mudar na superfície atacando os efeitos, é preciso ir à raiz do problema e atacar as suas causas.
      De maneira simplificada, a crise não é ambiental, é civilizatória, ética, moral, espiritual. As mesmas forças que superexploram o Planeta são as que superexploram o trabalho humano e a grande arma de dominação não são os mísseis ou correntes, mas a manipulação da informação. Pelo lado ambiental, a crise se baseia num sistema de superexploração dos recursos naturais fundamentado no princípio do crescimento crescente e ilimitado, em larga escala, com a falsa idéia de que o Planeta é uma propriedade da espécie humana e seus recursos são inesgotáveis. Pelo lado social, baseia-se na superexploração do trabalho humano, que cria e se prevalece das desigualdades sociais como forma de se apropriar mais e melhor dos recursos naturais que são patrimônio comum de todos.
      Então, mudar não pode significar a mesma coisa para todos. Como a pegada ecológica é desigual, os que pegam demais e desperdiçam terão de pegar mais leve e com maior responsabilidade, entretanto, não devemos enganar ou sermos ingênuos neste ponto. Gerações antes de nós tentaram que os poderosos cedessem em seus privilégios e poder, só conseguindo a duras penas e com grande sofrimento. Então, não será agora que conseguiremos apenas no amor e no convencimento. Os poderosos só pegarão mais leve se virem alguma forma de continuar lucrando no novo modelo, caso contrário, aproveitarão os recursos que sobrarem dos que estiverem pegando leve - por escolha própria ou por impossibilidade mesmo - para pegarem mais pesado ainda.
      A saída passa pela mudança para outra economia. Os que ganham dinheiro com as tecnologias sujas e impactantes do Planeta precisam ser estimulados a ganhar dinheiro com as tecnologias limpas e perdê-lo se escolherem persistir com as antigas práticas poluidoras. Os consumidores conscientes podem ajudar, mas não é o mercado quem cria as regras, ele apenas aproveita as oportunidades e só consegue ser uma solução para quem está dentro dele e tem dinheiro. Para os demais, são necessárias políticas públicas. Os lucros dependem de existir um Estado que estabeleça as regras do jogo e seja capaz de garantir que as regras valham para todos, e, claro, que não gaste mais do que arrecada, para não ter de sangrar a parte da população que paga impostos com uma sobrecarga que torne melhor negócio produzir na China, na base do trabalho quase escravo e consumindo energia a partir do carvão.
      O Planeta é um só, e não significa mudança deixar de poluir aqui para financiar a poluição e a exploração injusta do trabalho humano do outro lado do Planeta.

Os quatro pilares da mudança para a sustentabilidade

      Não se pode ser ingênuo de imaginar que todos querem mudar. Alguns irão reagir para manter as coisas como estão, ou por insegurança quanto a um futuro que desconhecem ou para manter privilégios e lucros.
      Uma política para mudança deve considerar quatro pilares.  O primeiro é o da informação que esclarece e convence, pois a maioria das pessoas colabora e muda naturalmente apenas recebendo a informação sobre como proceder diante das mudanças.
Outra parcela precisa de sensibilização, de formação, de treinamento, e por isso a educação é o segundo pilar da mudança, uma educação que promova novos valores para a mudança.
      O terceiro pilar é o do incentivo, pois muitos se movem se tiverem alguma vantagem, ou reconhecimento, ou lucros.
O quarto pilar é a punição para aqueles que mesmo sabendo das novas mudanças e dos estímulos, escolhem resistir e permanecer com as mesmas práticas anteriores, ou preferem ir mais devagar, assumindo riscos de forma calculada e ajustando condutas.

As várias faces da mudança

      Precisamos sonhar com a possibilidade de um futuro, de um mundo melhor, pois os sonhos nos motivam para a ação, nos animam a romper com a inércia e a suportar a dor do esforço no rumo a outro jeito de ser e estar no Planeta e na sociedade, ambientalmente sustentável e socialmente mais justo. Os sonhos nos dão energia para as boas práticas e a confiança de que é possível.
      Mudar é um processo com várias etapas. A primeira delas é em nosso mundo interior, onde criamos e recriamos nossas utopias e inventamos e reinventamos o mundo. Como uma espécie de iceberg, a parte visível de nós é a menor. A maior parte do que somos, nosso mundo interior, é oculta aos sentidos e é onde habitam nossos sonhos, desejos, subjetividades. Então, antes de mudar, antes de transbordar em boas práticas, precisamos estar cheios de boas idéias, de boas intenções, de boa motivação, dai a importância de uma informação e educação para a sustentabilidade, para que nossos sonhos e idéias não sejam comprometidos por falsas informações e falsos valores, que apenas aprofundarão a crise e não nos farão evitar o colapso já anunciado.
      É natural que entre a intenção e o gesto exista um tempo de maturação para que promessas se transformem em realidade. Se os sonhos forem pouco ambiciosos - apenas para produzir uma pequena mudança, o esforço requerido para realizá-los será menor, mas os resultados podem nem valer à pena. Não adianta fazer pouco e tentar compensar depois no marketing, por que o tiro pode sair pela culatra, e uma reputação manchada é de difícil recuperação depois. Se os sonhos forem grandes demais, parecerão inatingíveis. Ainda assim poderão valer a pena, pois podem nos ajudar a seguir em frente, apesar das adversidades. Muitas mudanças na Humanidade começaram em pequenos desvios, às vezes imperceptíveis, como o empreendedorismo dos tropeiros que se arriscavam no comércio ambulante entre as cidades da Idade Média e que resultaram no mercantilismo e no fim da estrutura feudal de poder.
      A maneira como cada um lida com as mudanças é diferente de um para outro. Enquanto uns se limitam a reclamar, geralmente dos outros, e se satisfazem em encontrar alguém para colocar a culpa, outros tentam encontrar um jeito de fazer a parte que é possível ser feita. Enquanto uns só conseguem ver o que está errado, outros só querem saber do que pode dar certo, e outros, ainda, preferem manter um olho no lado cheio do copo e o outro no lado vazio, aprendendo tanto com as boas práticas quanto aprendendo com os erros alheios.
Precisamos ajustar nossas percepções para saber aproveitar as oportunidades como elas se oferecem e não como gostaríamos que aparecessem. E saber lidar com a frustrações e com a dor do esforço e da incapacidade de alcançar certos objetivos, por que talvez ainda não seja a hora ou ainda não estejamos prontos.
      Alguns sonhos podem ser sonhados sozinhos, e ainda assim serem possíveis de se realizar, como o de sermos consumidores mais responsáveis, ou menos gananciosos e mais solidários. Outros, devido à complexidade e ao tamanho da mudança, precisam ser sonhados juntos, e requerem o esforço de sensibilizar e convencer aos demais. A mudança de uma sociedade inteira para a sustentabilidade é uma obra coletiva, que irá requerer não só a ajuda de muitos, mas por muito tempo. As catedrais da Idade Média, por exemplo, levavam gerações para serem concluídas, e ainda assim puderam ser realizadas por que existiram pessoas que sabiam que se não fizessem bem a sua parte, a geração que viria depois teria de começar do zero. Ainda que não colhamos os frutos agora, terá valido a pena ter começado a luta pela mudança, pois poderá ser a única esperança de futuro para os que virão depois de nós.


* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente ( www.portaldomeioambiente.org. ). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas - www.escritorvilmarberna.com.br

sábado, 19 de março de 2011

Governo tem até junho de 2011 para definir logística reversa

     Comitê Orientador da logística reversa tem de para apresentar os critérios de aprovação para os estudos de viabilidade técnica e econômica da logística reversa e a forma de realização de consulta pública relativa às propostas de implementação.

     O Comitê Orientador da logística reversa - um dos órgãos previstos no decreto que legisla sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - tomou posse no dia 17 de fevereiro de 2011 e aprovou o calendário inicial de atividades. O grupo tem até junho para apresentar os critérios de aprovação para os estudos de viabilidade técnica e econômica da logística reversa e a forma de realização de consulta pública relativa às propostas de implementação desses sistemas.

     As duas primeiras atividades respondem diretamente ao principal objetivo do Comitê: estabelecer normas e prazos em forma de acordos setoriais que regulem a coleta dos materiais recicláveis pelos fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores, após o descarte do consumidor final.

     Isabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente e presidente do Comitê, destacou a importância da criação antecipada dos critérios a serem adotados. "Temos de investigar quais são os requisitos para que isso seja de fato operacional. Já temos, por exemplo, empresas recolhendo voluntariamente o lixo eletroeletrônico, mas isso ainda não acontece em todo País", disse. Isabella reforçou, no entanto, que a solução para a questão dos resíduos sólidos não depende só do setor produtivo, mas envolve o governo e a sociedade e pressupõe mudança de comportamento.

     Além da ministra, o Comitê Orientador é composto pelos ministros da Saúde; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e da Fazenda. Estiveram também presentes na cerimônia de posse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e os secretários-executivos dos outros ministérios que compõem o comitê, além de representantes do Comitê Interministerial de Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Recicláveis, recentemente instituído.

     A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi regulamentada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2010 e tem a logística reversa como um dos pontos fundamentais para o sucesso da gestão de resíduos no país.

     Agrotóxicos e suas embalagens; eletroeletrônicos e seus componentes; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; pneus; e, pilhas e bateriais, sãos os grupos de resíduos que a lei determina a logística reversa.

     O Comitê encoraja os diversos setores a encaminharem suas propostas de logística reversa a enviarem desde já suas propostas. A Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) foi a primeira instituição a encaminhar seu projeto no dia 17 de janeiro de 2011, antes mesmo da instalação do Comitê.

     A PNRS estabelece também que todos os lixões do país devem ser fechados até o dia 2 de agosto de 2014 e apenas os resíduos que não podem ser reciclados serão enviados a aterros sanitários, onde serão estocados de forma adequada para evitar a contaminação dos solos e das águas. Os municípios com mais de 200 mil habitantes têm até 2 de agosto de 2012 para apresentar seus planos de gestão de resíduos, incluindo a implementação dos aterros.

     O Brasil gasta R$ 8 bilhões anualmente por não reciclar os resíduos gerados, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Fonte: http://www.gestaoderesiduos.com.br/materias.php?id=1326