sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Logística reversa terá apoio de cooperativas de catadores

Relatório final sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos destaca as cooperativas de catadores como modelo a ser seguido

Em relatório final sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresentado pelo Grupo de Trabalho (GT) formado para discutir o assunto na Câmara, as cooperativas de catadores são citadas como modelo a ser adotado por fabricantes de embalagens para garantir a implantação da logística reversa, ou seja, do processo de retorno de resíduos e embalagens para reutilização, após o consumo do produto nelas contido. De acordo com o relatório, o texto representa um consenso entre os diversos setores envolvidos com o tema.

Segundo o coordenador do GT, deputado Arnaldo Jardim (PPS/SP), a lei não pode privilegiar, mas demonstra preferência pelas associações e cooperativas de catadores, devido ao seu já comprovado poder de realizar a tão buscada inclusão social. ''Os comandos da legislação são claros no sentido de fortalecer as cooperativas, mas não podemos impor parceria com cooperativas no caso de uma determinada empresa optar por adotar outra medida para o retorno de insumos'', comentou.

Para o diretor executivo da Abralatas, Renault Castro, o mecanismo de logística reversa previsto na proposta do GT parece razoável e exequível para todos os segmentos, embora não tenha ainda sido analisado com profundidade por todos os participantes da cadeia de produção de latas. Tudo indica que a proposta admite o compartilhamento de responsabilidades sobre os resíduos e a utilização de modelos já existentes. A preocupação do setor de latas de alumínio é que seja preservado o atual sistema de coleta dessa embalagem, que funciona de modo autônomo e é considerado referência internacional. O modelo, que permitiu ao país alcançar um índice de 96,5% de reciclagem da lata em 2007, baseia-se fortemente no trabalho de cooperativas e, graças ao elevado valor das latas de alumínio, tem estimulado até mesmo a coleta de outros materiais menos lucrativos para o catador.

''Ao que tudo indica, o modelo de logística reversa previsto pelo relatório não exige mudança em sistema de coleta que já funciona bem, como o da lata de alumínio; estimula a responsabilidade compartilhada, mas não obriga uma substituição de atores, o que pode até contribuir para a maior formalização deles. Nesse caso é preciso verificar a viabilidade do sistema proposto do ponto de vista tributário para não correr o risco de enfraquecer as associações e cooperativas'', observa Renault.

PNRS - A nova proposta de projeto de lei define um marco regulatório para o tratamento do lixo urbano e introduz o conceito de corresponsabilidade em relação ao destino do lixo, envolvendo o setor público e o produtivo (fabricantes, comerciantes e até consumidores). O texto prevê a criação de um Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos e incentivos tributários como o desconto de até 50% de IPI na compra/importação de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados à reciclagem.

O projeto aponta ainda quatro setores que passariam a ser obrigados a implementar o sistema de logística reversa de forma independente do serviço público de limpeza. São eles os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus e óleos lubrificantes, incluindo seus resíduos e embalagens. Para Arnaldo Jardim, a implementação do sistema nesses segmentos virá gradativamente, com a garantia desse princípio na lei.

Fonte: Abralatas


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Lixo que vira literatura

Programa de educação ambiental muda a vida de Maria Clara


Transformar lixo em livros pode ser uma tarefa complicada. A extensionista da Emater Maria Clara Picoli pensa diferente. E a comunidade agrícola de Cristal também. Graças à ação e ao empenho de Maria Clara, com criatividade e colaboração mútua, os produtores do Sul do Estado mostram que é possível fazer milagre e, de quebra, reduzir o impacto ambiental no campo.

Ao coordenar a coleta seletiva no interior do município, a extensionista lidera uma ação aplaudida no meio rural e na cidade.

– É um esforço inédito e único no Estado. Exercer a educação ambiental no meio rural é uma lacuna que devia ser preenchida em várias outras regiões – exalta a diretora da Biblioteca Municipal, Simone Silva.

No projeto Luxo Que Vem do Lixo, a prefeitura mobiliza a população da separar e recolher o lixo seco. Parte dos resíduos é vendida e destinada à manutenção da biblioteca pública, que recebe assinaturas de revistas e jornais. Jogos educativos e eventuais reformas no local, como a pintura do prédio e a conservação dos jardins, também são adquiridos com o recurso. A renda anual chega a R$ 3 mil.

Outra parte do lixo inorgânico é transformada em utensílios para uso dos produtores e para venda. É aí que entra o papel de Maria Clara.

Por meio de oficinas de garrafa PET para produtoras do interior de Cristal, a pelotense de 46 anos também ajudou a diminuir o acúmulo de resíduos e passou a agregar renda à família rural. Com o material recolhido, são confeccionados objetos como pufes, mesas e cortinas.

Graças a esse trabalho, a extensionista foi uma das 12 premiadas com o prêmio do governo do Estado Semente de Vida. Formada técnica em Economia Doméstica pela KVG Consultoria, recebeu o troféu na categoria Gestão Ambiental, em Rio Grande.

– Meu maior prêmio é ver em prática estas ações de conscientização ambiental – diz a colaboradora.


Como tudo começou
A necessidade do projeto no campo partiu dos próprios produtores. Até então, o grande número de sacolas e garrafas plásticas era enterrado, queimado ou depositado em sangas.


FERNANDO HALAL | Rio Grande/ Campo e Lavoura
Jornal Zero Hora - 14 de agosto de 2009 | N° 16062



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Empresas sustentáveis têm funcionários motivados

Crise econômica eleva a importância do movimento de responsabilidade social empresarial para o mercado de trabalho.

Entre os grandes desafios que a transição para um novo modelo econômico deverá enfrentar nos próximos anos está o de gerar novos empregos, os chamados empregos verdes, não só para repor os postos de trabalho que serão fechados junto com as atividades pesadamente emissoras de carbono quanto para atender às demandas das novas gerações.

O tema foi discutido no congresso internacional Sustentável 2009, em mesa integrada por Fabián Echegaray, diretor da consultoria Market Analysis, Paulo Sergio Moçouçah, coordenador de Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, e Luiz Eduardo Rubião, sócio-fundador da Chemtech, moderados por Roberta Cardoso, da FGV. Houve também a participação, via teleconferência, de Bob Willard, autor de The Sustainability Advantage e de The Next Sustainability Wave.

Os empregos verdes vêm crescendo aceleradamente nos últimos anos. De acordo com Paulo Sérgio Moçouçah, da OIT Brasil, a expressão ganhou popularidade a partir da sua inclusão no programa de governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Agora, com a crise econômica, segundo ele, diversos países vêm centrando os esforços para a recuperação econômica investindo em atividades sustentáveis, sobretudo em energias renováveis.

Segundo Moçouçah, a experiência tem comprovado, como argumentava o plano de Obama, que as atividades sustentáveis geram mais empregos que os setores tradicionais. Países como a China, que atualmente investe em atividades sustentáveis cerca 20% do total dos investimentos de sua economia, e a Índia, que também tem investido pesadamente em energia solar, são exemplos dessa capacidade da nova economia.

O elevado potencial para gerar empregos das atividades de baixa emissão é comprovado também por um estudo desenvolvido pela OIT, juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em setembro do ano passado. O estudo revelou que, ao contrário do que se pensou, a crise econômica vem ajudando a superar os altos níveis de desemprego ocorridos a partir de meados dos anos 1990, quando o modelo econômico baseou-se nas atividades do setor financeiro.

Segundo o coordenador da OIT, a crise recolocou a geração de empregos no centro das políticas públicas: “O emprego verde surge com a divulgação do relatório de mudanças climáticas, em 2007, exatamente quando a crise econômica também se inicia. Foi o crescimento do conceito que levou a OIT a assumir a tarefa de tratar da questão das mudanças climáticas no âmbito do mundo do trabalho, por meio do programa global Quero o Verde de Volta”, conclui.

Os impactos da nova economia sobre o mundo do trabalho foram analisados também por Fabián Echegaray, diretor da consultoria Market Analysis, que desenvolveu uma pesquisa para saber como os trabalhadores de 32 países, inclusive do Brasil, estão percebendo as ações de RSE praticadas por suas empresas. Foram entrevistados mais de 3.460 funcionários de grandes empresas, independentemente do cargo.

O estudo, concluído no início deste ano, revelou que nove em cada dez brasileiros apoiam a atuação da empresa como canal pedagógico; para 92% deles, quanto mais socialmente responsável for a empresa, mais motivado e leal será o seu funcionário. Os resultados mostram que, pelas práticas da empresa, os funcionários também desenvolvem maior sentido de autoeficácia pessoal como consumidores, tornando-se capazes de influir no comportamento das empresas por meio da compra consciente.

De acordo com Echegaray, a pesquisa mostra que a empresa sustentável tem funcionários mais receptivos ao seu ativismo na área e que legitimam seu papel educativo. “Eles reagem com entusiasmo e fidelidade diante de uma atuação socioambiental positiva e tendem a acreditar mais na comunicação da empresa sobre suas ações e resultados dos seus investimentos sociais”, conclui ele.

Por Celso Dobes Bacarji, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos

(Envolverde/Instituto Ethos)