quinta-feira, 26 de maio de 2011

Uma nova ciência: Análise do Ciclo de Vida (ACV)

Por Leonardo Boff/ Teólogo/Filósofo (*)
     A busca de um bem viver mais generalizado e o cuidado para com a situação global da Terra está aprofundando cada vez mais a nossa consciência ecológica. Agora impõe-se analisar o rastro de carbono, de toxinas, de químicas pesadas, presentes nos produtos industriais que usamos no nosso dia-a-dia. Desta preocupação está nascendo uma verdadeira ciência nova que vem sob o nome de ACV: Análise do Ciclo de Vida. Monitoram-se os impactos sobre a biosfera, sobre a sociedade e sobre a saúde em cada etapa do produto, começando pela sua extração, sua produção, sua distribuição, seu consumo e seu descarte.

     Demos um exemplo: na confecção de um vaso de vidro de um kg entram, espantosamente, 659 ingredientes diferentes nas várias etapas até a sua produção final. Quais deles nos são prejudiciais? A Analise do Ciclo de Vida visa a identificá-los. Ela se aplica também aos produtos ditos verdes ou ecologicamente limpos. A maioria é apenas verde no fim ou limpos só na sua utilização terminal como é o caso do etanol. Sendo realistas, devemos admitir que toda a produção industrial deixa sempre um rastro de toxinas, por mínimo que seja. Nada é totalmente verde ou limpo. Apenas relativamente ecoamigável. Isso nos foi detalhado por Daniel Goleman, com seu recente livro Inteligência ecológica (Campus 2009).

     O ideal seria que em cada produto, junto com a referência de seus nutrientes, gorduras e vitaminas, deveria haver a indicação dos impactos negativos sobre a saúde, a sociedade e o ambiente. Isso vem sendo feito nos EUA por uma instituição Good Guide, acessível pelo celular, que estabelece uma tríplice qualificação: verde, para produtos relativamente puros, amarelo se contém elementos prejudiciais mas não graves, e vermelho, desaconselhável por seu rastro ecológico negativo. Agora inverteram-se os papéis: não é mais o vendedor mas o comprador que estabelece os critérios para a compra ou para o consumo de determinado produto.

     O modo de produção está mudando e nosso cérebro não teve tempo suficiente ainda acompanhar essa transformação. Ele possui uma espécie de radar interno que nos avisa quando ameaças e perigos se avizinham. Os cheiros, as cores, os gostos e os sons nos advertem se os produtos estão estragados ou se são saudáveis, se um animal nos ataca ou não.

     Ocorre que o nosso cérebro não registra ainda mudanças ecológicas sutis, nem detecta partículas químicas disseminadas no ar e que nos podem envenenar. Introduzimos já 104 mil compostos químicos artificiais pela biotecnologia e pela nanotecnologia. Com o recurso da Análise do Ciclo de Vida constatamos o quanto estas substâncias químicas sintéticas, por exemplo, fazem diminuir o numero de espermatozóides masculinos a ponto de gerar infertilidade em milhões de homens.

     Não se pode continuar dizendo: as mudanças ecológicas só serão boas se não afetarem os custos e os rendimentos. Esta mentalidade é atrasada e alienada pois não se dá conta das mudanças havidas na consciência. O mantra das novas empresas é agora:”quanto mais sustentável, melhor; quanto mais saudável, melhor; quanto mais ecoamigável, melhor”.

     A inteligência ecológica se acrescentará a outros tipos de inteligência, este agora mais necessário do que nunca antes.
(*) Autor do livro Proteger o planeta, cuidar da Terra, Record 2010.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Laboratório de felicidade

Gilberto Dimenstein em 16/05/11

Cientistas da felicidade estão dando caráter científico a práticas como a meditação

Povoada de brasileiros, especialmente mineiros, uma pequena cidade americana, chamada Somerville, na região metropolitana de Boston, está se transformando num laboratório de felicidade.

Pela primeira vez, a prefeitura de uma cidade dos Estados Unidos resolveu fazer um censo buscando saber a taxa de felicidade de seus habitantes e, a partir daí, traçar políticas públicas. “Estamos querendo medir com mais precisão o grau de satisfação da população”, diz Daniel Gilbert, professor de psicologia em Harvard.

Essa experiência, que vem sendo realizada numa cidade de 72 mil habitantes -onde, aliás, se pode comer um divino pão de queijo e um pão francês com manteiga na chapa típico das nossas “padocas”-, faz parte de um experimento da ciência da felicidade.

Bobagem no estilo autoajuda? Ilusão?

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O que Harvard está tentando fazer em suas faculdades de medicina e saúde pública é tirar a felicidade do besteirol da autoajuda, colocando-a nas mãos de cientistas, com suas máquinas cada vez mais sofisticadas de investigar o cérebro e os conhecimentos sobre genética.

É uma investigação que atinge o mais profundo dos sonhos e dos pesadelos dos seres humanos. Estudo publicado na semana passada sobre os anos de vida perdidos por causa de doenças mostrou que cerca de 30% dos brasileiros já apresentaram sintomas de depressão. A tristeza ou a felicidade, além de problemas genéticos, são contagiosas?

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Pesquisa da faculdade de saúde pública de Harvard revela que sim: tanto a tristeza como a felicidade “pegam”. Usando recursos da epidemiologia, os pesquisadores mediram como pessoas que demonstram alegria propagam uma atitude mais positiva entre familiares e amigos, gerando um contágio. Viram também que a tristeza passa por fenômeno semelhante, mas (felizmente) sem a mesma intensidade da felicidade. A informação é baseada no acompanhamento de 5.000 pessoas durante 20 anos.

Os cientistas da felicidade, usando equipamentos de ressonância magnética e grupos de controle, estão dando caráter científico a práticas milenares, como a meditação. Esse conhecimento já vem sendo experimentado nos hospitais para ajudar na recuperação de pacientes.

Também nos hospitais são feitos testes que revelam como pessoas alto-astrais têm menos propensão a problemas do coração, hipertensão, diabetes ou infecções respiratórias. Vemos, assim, como determinadas sensações provocam reações bioquímicas no corpo.

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A ciência da felicidade consegue, às vezes, fundamentar o senso comum. O antigo ditado “Dinheiro não traz felicidade” parece comprovar-se. “Vemos que jogar muita atenção na aparência ou nas coisas materiais, como um carro novo, traz muito menos satisfação do que fazer trabalho voluntário, quando nos sentimos relevantes e parte de algo maior”, afirma Nancy Etcoff, responsável pelo curso de ciência da felicidade de Harvard.

O trabalho voluntário, segundo ela, aciona um sistema de recompensa no cérebro. Ela percebe, em suas pesquisas, que mulheres muito ligadas à aparência física tendem a ser menos felizes. “Muitas vezes, as pessoas procuram a satisfação no lugar errado. Percebemos isso pelo sistema de recompensa cerebral”, diz ela.

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Esse tipo de conhecimento pode mudar decisões individuais, dando força a quem defende uma vida mais simples e menos consumista, mas também tende a mudar comportamentos coletivos.

Vários países, entre os quais a Inglaterra e a França, já discutem a ideia de que medições como o PIB são ineficientes para aferir o grau de desenvolvimento de uma nação e de que a felicidade deveria entrar na contabilidade. Esse debate entrou no Brasil com um movimento pela inclusão do direito à felicidade na Constituição.

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Isso significa encontrar um jeito diferente -e mais exigente- de cobrar as promessas dos políticos.
PS- Selecionei e incluí neste link uma palestra extremamente didática, traduzida para o português, da professora Nancy Etcoff.

Fonte: Site Catraca Livre




Ver sustentabilidade como fardo é risco

Suíça Susan Svoboda é criadora do Green Transformation Lab, que treina executivos a repensar sua atuação

A missão é criar carrinhos que transportem bolinhas. Uma atividade simples para simulação de negócios, não fosse o detalhe de que, ao longo do processo, surgem demandas nem sempre conhecidas dos profissionais.

Os executivos de todas as áreas da empresa devem responder por ecoeficiência na produção dos carros, design sustentável das bolinhas, parcerias com organizações ambientalistas, marketing responsável.

Simular uma realidade cada vez mais presente no dia a dia das empresas, nem sempre de maneira organizada, foi a maneira que a suíça Susan Svoboda e o americano Stuart Hart, criadores do Green Transformation Lab, encontraram para treinar executivos no árido tema da sustentabilidade. "São departamentos e áreas que muitas vezes não conversam sobre essas novas demandas verdes. O objetivo é mostrar que, se o fizerem de maneira integrada, todos terão ganhos importantes", resume Svoboda.

De passagem pelo Brasil, Susan Svoboda concedeu a seguinte entrevista à Folha.


Folha – É possível conciliar interesses tão diversos, como de organizações ambientalistas e acionistas, dentro de um mesmo projeto?
Susan Svoboda – Sim, é possível. Por exemplo: organizações que trabalham com o ambiente geralmente cobram as empresas para reduzir a poluição ou fabricar produtos com menor impacto no planeta.

Ao mesmo tempo, fazer produtos verdes diminui os custos de produção, por exemplo em razão da redução dos gastos de energia ou da utilização de materiais de menor risco, tornando-a mais competitiva.

Como o Green Lab trabalha essa questão?
No laboratório, usamos um modelo conceitual em que os objetivos sustentáveis - como prevenção da poluição, responsabilidade com a origem do produto e as tecnologias limpas- vão ao encontro dos objetivos de negócios, como redução de custos e riscos, aumento da reputação, inovação e crescimento.

O alinhamento dessas esferas ajuda as empresas a enxergar com mais clareza estratégias de negócios realmente sustentáveis.

Um dos maiores desafios para as empresas é incorporar a sustentabilidade em diferentes áreas, evitando que funcione como um departamento isolado. Como lidar com esse desafio?
As empresas estão acostumadas a cumprir objetivos e metas, como corte de custos, inovação e ações relacionadas à sua reputação.

Os objetivos de sustentabilidade devem ser encarados da mesma maneira, ou seja, juntamente com os objetivos de negócios, e não como algo “extra” que um dia possa ser esquecido.

Quais os principais riscos relacionados à adoção de um negócio com foco em práticas sustentáveis?
Acredito que o maior risco é quando as empresas veem a sustentabilidade como um fardo, e não como uma oportunidade. Esse tipo de pensamento limita as inovações, pois as empresas entendem que só podem ser sustentáveis se sacrificarem os lucros.

As empresas devem enxergar na sustentabilidade uma oportunidade para repensar os modelos de negócios, os produtos e as tecnologias.

E dessa maneira acharão novos caminhos para oferecer valor aos clientes, fornecedores e acionistas, aumentando sua competitividade e otimizando seus resultados.


ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fonte: Jornal "Folha de São Paulo - Caderno Mercado", 28/12/2010