terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Amazônia do “Brazil”!

A Amazônia é de soberania de seus estados nacionais, contrapondo os interesses de alguns países que desejavam uma soberania compartilhada, tendo influência na gestão de seus bens. No âmbito internacional existe uma disputa pelos estoques de riquezas naturais. Os avanços das novas tecnologias, principalmente nos países ricos, têm um contraste com as reservas naturais que estão localizadas nos países mais periféricos.

     A região amazônica sul-americana, ou Grande Amazônia, tem cerca de 7.500.000 km², distribuídos por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. A Amazônia Legal brasileira corresponde a quase 60% do território nacional, com uma superfície aproximada de cinco milhões  de km², abrangendo oito estados.

     A economia dessa região sempre teve como base o infinito, tanto de suas terras como de seus recursos naturais. O grande desafio é assegurar o crescimento econômico da região com a conservação dos recursos naturais, da biodiversidade e a inclusão social dos povos amazônicos. Para o economista Ignacy Sachs, que participou, em 2009, do 3º Fórum Amazônia Sustentável, é preciso pensar um desenvolvimento baseado em valores humanos, com grande conteúdo de ciência, conhecimentos tradicionais e baixas emissões de carbono. O futuro da Amazônia, acrescenta, deve passar por um investimento em pesquisas sobre a biodiversidade, implementando de forma mais efetiva o zoneamento econômico ecológico e a exigência de certificações para todos os produtos florestais.

Desmatamento

     A região amazônica tem cerca de 60% de toda floresta tropical do mundo, sendo 35% delas em território brasileiro. O pesquisador do Imazon Adalberto Veríssimo defende a regularização fundiária como um dos fatores importantes para o controle do desmatamento e um esforço político de efetuar uma nova economia de baixo carbono. 

     Existe um enorme potencial com base no chamado REDD (Programa Colaborativo das Nações Unidas sobre Redução de Emissões Derivadas do Desflorestamento). Poderíamos gerar serviços ambientais fundamentais para o clima mundial e, em consequência, criar atividades mais bem remuneradas para os povos da Amazônia, fazendo com que a floresta tenha mais valor em pé do que derrubada.

     Florestas e terras são bens públicos, e o Estado deve ser soberano em exercer o poder de decisão sobre os interesses da nação. Não podemos ter empresas do agronegócio (soja), indústrias, madeireiras e pecuaristas se expandindo e degradando o meio ambiente. Um tema que chamou a atenção na campanha eleitoral passada foi o novo código florestal, que regula as áreas cobertas por vegetação natural e as que podem ser desmatadas ou alteradas. Existem os que defendem a manutenção das regras atuais e os que querem flexibilizá-las. É um projeto polêmico que será de fundamental importância para o futuro da agricultura e a proteção florestal.

Desafios

     O desafio político atual é efetivar novas estratégias, baseadas em conhecimento, informação e uso da ciência e tecnologia em prol de pesquisas científico- tecnológicas nacionais. O governo não pode ser omisso e tolerante com modelos de desenvolvimento não sustentáveis. É urgente e necessário fomentar programas que possam agregar as comunidades locais e os ribeirinhos, aproveitando sua diversidade cultural. Estabelecer normas rigorosas com relação aos direitos de propriedade e uso dos recursos naturais e adotar práticas em sistemas de uso intensivo e que tenham manejo sustentável, preservando a cobertura florestal e a biodiversidade da Amazônia.

     Para Bertha K. Becker, professora de Geografia e estudiosa da Amazônia, é preciso implementar outro modelo de exploração do patrimônio natural, com base na ciência e na tecnologia. Sempre houve apropriação de recursos naturais sem agregação de valor. É necessário que tenhamos empresas modernas, com tecnologia avançada e de acordo com as questões ambientais e sociais. A cadeia produtiva não pode ser voltada apenas para exportação. Gerar o desenvolvimento é também pensar nas cidades e nos povos nativos.

Sugestão de Leitura:
Amazônia: Geopolítica na Virada de III Milênio, de Bertha K. Becker. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

Sugestão de Sites:

por Emerson de Fraga Freitas, formado em administração e integrante da equipe Mundo Jovem. Endereço eletrônico: emerson@pucrs.br
Twitter: www.twitter.com/EmersonFraga

Artigo publicado no Jornal Mundo Jovem, edição nº 413, Fevereiro/2011, página 8.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Arca de Noé e as Mudanças Climáticas

Há muito anos (período do Regime Militar) circulou um artigo que tinha como título “A Arca de Noé”. Falava de ditadura, repressão e oferecia a “saída armada” como a Arca de Noé. Com um pouco de criatividade pode ser reescrito para o cenário atual.;

Nele era contada uma pequena estória. Nela o planeta passava por uma fase muito complicada e, para resolvê-la, um tal Noé sugeriu construir uma grande arca de modo a colocar um casal de cada ser vivo e, quando o dilúvio chegasse, este grupo sobreviveria para repovoar o planeta.

A estória evolui com a intervenção de um grupo de “iniciados” que aceitaram a idéia, mas consideraram que este era um empreendimento de grande porte e, desta forma, não poderia ser simplesmente conduzido por tal Noé. Seria necessário estruturar uma empresa que pudesse conduzir a complexidade da construção da arca mudando o nome do projeto para “Arca das Mudanças Climáticas”.

Os “iniciados” começaram a estruturação da macro empresa: eleição de presidente, diretorias, assessorias, núcleos de pesquisa, contratação de especialistas, secretárias, motoristas, sede própria e sedes descentralizadas em diferentes locais do planeta, enfim, o imprescindível para que um grande empreendimento pudesse ser desenvolvido sem risco.

As tarefas foram divididas em vários Grupos de Trabalho, com reuniões realizadas não nas regiões do planeta onde eram inevitáveis os primeiros efeitos do dilúvio, mas sim em lugares aprazíveis onde os grupos pudessem trabalhar em condições adequadas a importância do projeto.

Inevitável, estes grupos acabaram se dividindo entre “prós e contras” e cada um, sem se preocupar com o dilúvio a caminho, resolveu ignorar a variável tempo, consumindo o tempo disponível em apresentar estudos e pesquisas que reforçassem as suas posições. Isso demandou uma grande quantidade de recursos, que foram logo disponibilizados pelos países mais ricos do planeta.

Surgiram políticos especialistas, agentes de financiamento especialistas, centros de pesquisa especializados, típicos do entorno de um grande empreendimento.

De imediato a sociedade foi relegada a um segundo plano, dado que, na visão da cúpula do poder, este assunto não era percebido pela sociedade, que naquele momento nem sabia do dilúvio. Na verdade, logo no início, as informações foram passadas a sociedade, mas em linguagem complicada que levou a um progressivo afastamento do tema, deixando aos “iniciados” a discussão e decisão sobre o assunto.

E o tempo foi passando. Países que tinham “madeira” para a construção da arca tentaram impor condições ao andamento do projeto, mas foram logo afastados por aqueles que “detinham a tecnologia do corte da madeira”, de modo a, progressivamente, ir reduzindo o tamanho do grupo dos “iniciados”. Foram observadas denúncias (“ArcaGate”), mas, para os “não iniciados”, acabou ficando a dúvida de quem realmente tinha à razão.

Concluindo, passado alguns anos veio o aviso que o dilúvio seria no dia seguinte.

No empreendimento “Arca das Mudanças Climáticas” um desespero total; perdidos entre muitas alternativas, não tinham tido tempo para concluir a arca. Ou seja, era inevitável que o dilúvio seria fatal para todos do planeta.

Mas, do alto da torre de trinta andares construída para fazer funcionar o mega projeto, no dia seguinte, quando a água quase cobria o edifício, foi possível ver uma arca de madeira, com os “não iniciados” liderados por um tal Noé, passando ao largo.

Você já pensou em que grupo está?
Ainda há tempo para escolher o grupo certo.

Roosevelt S. Fernandes, M. Sc., Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA.
Endereço eletrônico: roosevelt@ebrnet.com.br


sábado, 11 de dezembro de 2010

Excesso, consumo e reciclagem: desvio de foco na educação ambiental

Consciência limpa

Vejo, com frequência, o aumento considerável de campanhas em favor da reciclagem nos mais diversos setores socioeconômicos, promovendo o estímulo à reinserção na cadeia produtiva de um sem número de escórias provenientes de nossa sociedade baseada no consumo. Por um lado, acredito que seja um dos primeiros passos para se estabelecer uma consciência coletiva quanto à escassa disponibilidade de recursos do planeta. Novas gerações passam a ser relativamente conscientes da importância de se preservá-los. Não se pode prescindir da reciclagem, já que são óbvias as suas vantagens em comparação a não fazê-la. Geram-se empregos (mesmo que em grande parte informais, outro desafio), reduz-se a pressão na extração dos recursos virgens, adiando uma real possibilidade de colapso na sua disponibilidade e ainda diminui-se o volume de resíduos nos aterros, prorrogando sua vida útil.

Com o estímulo prioritariamente dado à reciclagem, porém, o grande foco da educação ambiental vem sendo dado na redução do desperdício pós-consumo. E talvez aí haja uma perspectiva falha, já que o real problema não vem sendo combatido com a mesma intensidade em suas raízes, isto é, na preservação de recursos baseada no consumo consciente. Aniquilar o consumismo, principal alicerce do modelo desenvolvimentista adotado, seria um grande risco para o capitalismo industrial, já que o consumo em si é a sua força motriz. O que se “vende”, portanto, como ícone das ações de conscientização ambiental, é o estimulo à reciclagem, não à redução efetiva do consumo. E quem recicla, sem repensar o dispêndio supérfluo, lava as mãos e limpa a sua consciência, acreditando que já fez a sua parte. No caso de algumas empresas, o exemplo fica claro quando se contempla o cartão postal da suposta sustentabilidade organizacional: apenas alguns coletores seletivos que nem sempre acondicionam resíduos segregados adequadamente.

Felicidade condicionada ao consumo

Infelizmente a palavra de ordem do nosso modelo é “consumir para ser feliz”. Se o sujeito não consome, ele não faz jus à sociedade contemporânea. Fica marginalizado, como que invisível aos perversos olhos do sistema. O ser humano é o que ele “tem”, não o que ele realmente “é”. Aliás, a busca do indivíduo pela sua essência real nem é cogitada pelo capitalismo, pois, uma vez que se encontre tal essência numa jornada intrapessoal, poucas necessidades materiais realmente seriam importantes. E o sistema mercadológico naufragaria. Mas este é um assunto para artigos futuros.

Os valores fundamentais de uma sociedade mais harmoniosa, portanto, são desprezados pelo ideal do “ter-e-então-ser”. E o resultado disso é o estímulo permanente ao consumismo, deixando a equação da sustentabilidade sem solução real. No caso da geração indiscriminada de resíduos, a falsa sustentabilidade disfarçada de reciclagem, continua privilegiando o consumo (ter), pois só assim será permitido ao indivíduo agir (ser) no meio social.

Outro exemplo que me faz lembrar recorrentemente sobre o consumismo desenfreado é a venda de complexos vitamínicos que prometem alívio do estresse diário, maior disposição sexual e uma vida incondicionalmente feliz com o seu uso. O que isto quer dizer? Que, apesar de estarmos numa sociedade dos excessos, o indivíduo deve remediar suas consequências, e não o próprio vício pelos excessos. Ele deve consumir medicamentos para garantir a melhoria do seu desempenho cotidiano, do seu bem estar, da sua depressão. Que enfoque é este? Não é na mudança do seu desgastante estilo de vida, que é baseado, sobretudo, no ritmo frenético para manter ou aumentar o seu padrão de consumo. Assim, o indivíduo se sente infeliz, é claro, mas dispõe de placebos para se consolar e suportar a carga diária imposta pela pressão social que exige eficiência de consumo. E a raiz dos problemas continua lá: o excesso de trabalho, de desperdício, de resíduos, consumismo e suas nefastas consequências sociais e ambientais.

Educação ambiental: mudança de enfoque
É evidente que a reciclagem é necessária. Suficiente? Longe disso. A conscientização ambiental voltada para o “ser” deve ser priorizada como forma de combater a pressão sobre os recursos naturais. Assim, a mudança de enfoque na educação deve prestigiar um novo sistema capitalista, que começa no valor do indivíduo e da sua relação com o coletivo. Esta mudança priorizará o compartilhamento dos recursos e serviços naturais disponíveis, visando ao bem estar econômico, social e ambiental. Decreta-se, destarte, o fim do consumismo como um ardiloso meio para se atingir a felicidade e um equilíbrio perene.

Por Giuliano Moretti, Engenheiro Químico, Especialista em Sistemas de Gestão Ambiental, Mestre em Gestão Ambiental, Vice-Coordenador do Núcleo de Estudos Científicos em Sustentabilidade (NECS) e Diretor de Operações Sustentáveis da Preserva Ambiental Consultoria.
Site: necs.preservaambiental.com/

domingo, 28 de novembro de 2010

Desenvolvimento Sustentável: É possível?

Em seu mais recente livro "Cuidar da Terra, Proteger a Vida", Leonardo Boff assevera que: "Em 1961, precisávamos de metade da Terra para atender às demandas humanas. Em 1981, empatávamos: precisávamos de uma Terra inteira. Em 1995 ultrapassamos em 10% sua capacidade de reposição, mas era ainda suportável".

No entanto, os alarmes disparados continuaram anunciando a expansiva agressão sofrida pela Terra. O calendário marcava o dia 23 de setembro de 2008 vaticinado pelos estudiosos como o Earth Overshoot Day, ou seja, o dia da ultrapassagem da Terra. A partir dessa data constatou-se, em escala universal, que a Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de suporte e reposição.

A partir disso, o que pensar, o que fazer? Continuar de forma desenfreada a exploração/dilapidação dos recursos naturais sem limites ou fazer a reversão de forma rápida? Continuar priorizando o mercado que exige mercadorias diversificadas a todo instante ou olhar com respeito e atenção redobrada para a qualidade de vida? Continuar com a prédica traçada desde os trabalhos seminais das ciências econômicas que pontuam que crescimento econômico é remédio eficaz para a cura dos males sociais ou fazer com que essa mesma ciência esteja submetida ao projeto de vida, cuja essência é a qualidade e não a quantidade?

Respostas a essas dúvidas estão soltas por aí, embora haja mais dissenso que consenso em matéria de se pensar a intrincada relação economia - natureza -recursos - desejos - produção - consumo.

Eric Hobsbawn, um dos maiores intelectuais do século XXI, a esse respeito já se posicionou: "Ou ingressamos num outro paradigma ou vamos de encontro à escuridão". Por outro paradigma, o renomado historiador quer dizer que não basta fazer mudanças no sistema, é preciso mudar o sistema.

Destruir a natureza em troca dos apelos da voracidade do mercado de consumo é, antes disso, destruir as teias que sustentam a vida. O mercado, assim como toda a economia, depende de algo que está acima de tudo isso: a natureza. A economia, como atividade produtiva, é apenas um subproduto do ambiente natural e depende escandalosamente dos mais variados recursos que a natureza emana. Nós, seres humanos, como todos os seres vivos, somos partes e não o todo desse ambiente natural que contempla a riqueza do viver.

É forçoso ressaltar que não estamos na Terra; somos a Terra. Não ocupamos a natureza como meros partícipes dela; somos a própria natureza a partir do fato de sermos feitos de poeira estelar. Dependemos da natureza, das terras agricultáveis, da água, do ar, do sol, da chuva, do fitoplâncton (algas microscópicas unicelulares) e dependemos das estrelas. Isso não é prosa nem verso; é fato! São as estrelas, com uma capacidade ímpar de brilhar e, por isso, com o poder de nos afastar o medo da noite, que convertem hidrogênio em hélio pela fusão nuclear e, dessa combinação, permite-se aflorar o potássio, o oxigênio, o carbono, o ferro que vão se localizar nos aminoácidos (unidades químicas que compõem as proteínas) e nas proteínas (que formam os músculos, os ligamentos, os tendões, as glândulas, enfim, que permitem o crescimento ósseo). Sem isso a vida não seria possível. Somos natureza ainda por razões filológicas (estudo científico de uma língua). Não por acaso, somos originários do Adão bíblico (Adam, em hebraico, significa "Filho da Terra"), ainda que isso seja puramente metafórico. Somos natureza quando nos damos conta ainda de que pelo aspecto filológico a palavra homem/humano vem de "húmus", cujo significado é "terra fértil".

Cada vez que percebemos avançar esses assuntos, mais ainda vamos aprofundando a importância do tema. As preocupações ecológicas, vistas num passado não muito distante como apenas retóricas românticas, hoje, para nossa felicidade, ocupam a agenda das principais lideranças governamentais.

Em certa medida, parece ser consenso que estamos falando de uma perspectiva que envolve, na essência, a manutenção da vida pelos íntimos laços que temos para com a mãe Terra, também chamada Gaia.

Isso é do interesse de todos e de todas, e não mais dos praticantes da militância verde - os primeiros a chamar a atenção para esses graves assuntos.

Nesse pormenor, é oportuno resgatarmos a argumentação do educador canadense Herbert M. McLuhan (1911-1980): "Na espaçonave Terra não há passageiros. Todos somos tripulantes".

A economia, sendo um espaço de conhecimento das ciências humanas, não pode prescindir de ajudar na disseminação de um discurso em prol da vida, e não a favor do deus mercado como tem sido freqüente desde o surgimento da Escola Clássica no século XVIII.

Discutir desenvolvimento pelas lentes das ciências econômicas é, antes de mais nada, pensar em aspectos qualitativos, e não na atual dimensão econômica dos projetos que apontam, unicamente, para o aspecto quantitativo. Perceber a economia apenas pela quantidade de coisas produzidas é um erro abissal que somente tem feito provocar ainda mais a cultura do desperdício e da falta de parcimônia em matéria de regular a atividade produtiva, ao passo que aprofunda o consumismo, essa chaga do sistema capitalista.

Ainda hoje, mesmo diante dos mais contundentes e acirrados discursos sobre a grave crise ambiental que se estabelece, apresenta-se como sendo uma boa política econômica aquela capaz de fazer o PIB subir, independente se esse crescimento se dará nas bases da exploração/destruição ambiental.

Esquecem ou ignoram os apedeutas que tudo que cresce muito, ou explode ou esparrama. Explodir, esparramar, significa, grosso modo, perdas, desperdícios. Crescer por crescer é a base das células cancerígenas. A economia não pode mais trilhar esse caminho. Isso leva à morte. Ora, isso não é solidificável; é altamente destrutível. O caminho de qualquer economia que apenas prioriza e faz de tudo para atender aos ditames do mercado que clama por mais produção e consumo, atingindo picos de crescimentos inimagináveis, é por todos conhecido: destruição, desmatamento, poluição, escassez, extinção das espécies.

É em nome desse modelo perverso e criminalmente responsável por mortes que o mercado é abastecido enquanto a natureza é descapitalizada, ao passo que a vida é posta em risco. Uma hora qualquer - e que não seja tarde demais - alguém irá perceber que as palavras do cacique Seatlle ditas ao governante norte-americano em 1854 estavam pontualmente certas: "(...) Eles vão perceber que não dá para comer dinheiro".

Para o bem de todos é necessário aludir que não se pode medir crescimento de uma economia quando se derruba uma árvore, se polui um rio, se contamina uma nascente. Isso tem outro nome: insanidade.

Não há economia que prospere sustentavelmente nas bases dessa patologia. Para atenuar esse discurso, os economistas modernos criaram a expressão desenvolvimento sustentável. No entanto, não são poucos os que cometem outro equívoco na vã esperança de que essa palavra mágica (sustentável) seja de fato algo aplicável.

Todavia, resta-nos indagar: sustentável para quem? Como? Quando? Onde? A continuar a exploração desenfreada, não é possível sustentar esse crescimento. Logo, a expressão é, por si, falaciosa. Num projeto de desenvolvimento que se pauta pelas linhas mestras da competição, não é factível que seja algo sustentável, uma vez que essa competição, feita pelos mecanismos conhecidos, apenas produz exclusão à medida que uns poucos ganham e triunfam sobre a derrota de centenas de milhões de pessoas.

Se milhares são (e serão cada vez mais) os que engrossam (e vão engrossar) as fileiras da miséria e da penúria, como é possível afirmar se tratar de desenvolvimento sustentável? Só há sustentabilidade quando todos/todas participam, sem exclusão. Exclusão é conceito que não combina com a abrangência do termo sustentabilidade.

Ademais, argumenta-se, insistentemente, que o desenvolvimento sustentável é exeqüível, pois, um belo dia, a natureza irá responder pelas demandas dos recursos renováveis. Esquecem-se os que assim argumentam que o universo é finito; não aumentará de tamanho. Os recursos, muitos deles, vão acabar; muitos não são renováveis.

Assim, uma vez mais é oportuno chamar a atenção de que o termo "sustentável" é pouco confiável. L. Boff refletindo sobre isso no livro citado no início dessas palavras pondera que "(...) sustentabilidade deve ser garantida, primeiramente, à Terra, à humanidade como um todo, à sociedade e a cada pessoa". A economia (ciência) em seus poucos mais de 230 anos precisará avançar muito ainda para englobar com primazia esse termo em seus predicados. Exclusivamente pelas raias da competição nada se conseguirá.

De toda sorte, a escala de valores que deve predominar então, caso queiramos priorizar a vida, deve incluir a cooperação, a partilha, a solidariedade, a comunhão, o compartilhamento. Definitivamente, o projeto econômico precisa estar à serviço da vida em suas dimensões, incluindo, principalmente, a perspectiva ecológica. Urge pensarmos na perspectiva de que o modelo aí posto está errado e já passou da hora de propor alternativa. A vida tem pressa e o relógio do tempo passa rápido demais.


Por Marcus Eduardo de Oliveira, para a Adital, Economista brasileiro, especialista em Política Internacional. Articulista do site "O Economista", do Portal EcoDebate e da Agência Zwela de Notícias (Angola)

(Envolverde/Adital)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A saúde do planeta

     Documento muito esperado entre estudiosos do meio ambiente e que se publica a cada dois anos é o relatório Planeta Vivo, do WWF 2010. Sua versão de 2010 acaba de sair em várias línguas, inclusive português (ótima tradução). O texto consiste em importante contribuição para que se conheça a saúde do planeta. Ele emprega conceitos como o da pegada ecológica, que mostra a medida da pressão humana sobre a natureza e sobre sua capacidade regenerativa (“biocapacidade”). O conceito da pegada ecológica surgiu no início dos anos 1990 na Universidade de British Columbia, Canadá. Evoluiu até sua forma atual graças à ONG Global Footprint Network, parceira do WWF, junto com a Sociedade Zoológica de Londres, na preparação do Planeta Vivo Relatório 2010. A principal conclusão do trabalho é de que os indicadores empregados “demonstram claramente que o aumento sem precedentes da busca por riqueza e bem-estar nos últimos 40 anos está exercendo pressões insustentáveis sobre o nosso planeta”. Registra-se um declínio na saúde das espécies que formam a base dos serviços ambientais necessários a tudo o que os humanos podem fazer. De fato, a pegada ecológica global indica que as demandas humanas de recursos naturais dobraram desde os anos 1960, enquanto o índice da vitalidade da Terra caiu de 30%. O pior é que, devido ao comércio internacional, os índices relativos aos países tropicais e aos países mais pobres do mundo sofreram queda ainda maior: de 60% desde 1970.

     O que acontece é que a economia não paira no vácuo. Ela se assenta em alicerces biofísicos. Decorre daí a capacidade de carga, equivalente ao “calado” de um navio, que a Terra pode suportar. É assim que se deve entender a noção de sustentabilidade. A economia não pode fingir que não depende de leis físicas, se o que ela faz é transformar recursos em artefatos úteis (que depois se degradam e viram lixo, inexoravelmente). Dessa forma, os limites do ecossistema planetário são testados, coisa de que fala a WWF. Retira-se do planeta, hoje, mais do que ele pode dar em cada período. Em 2007, por exemplo, a sobrecarga imposta pelas atividades humanas foi 50% maior que a capacidade regenerativa do planeta. Cria-se assim uma economia de bolha, pura ilusão. O fenômeno se retrata em termos do que a aceleração do crescimento faz no tocante à demanda de alimentos, bebidas, energia, transportes, produtos eletrônicos, espaços de vida e de descarte de resíduos, como o dióxido de carbono derivado da queima de combustíveis fósseis. O Brasil cresce atualmente de 8% ao ano – dizem. Terá então em 2020 uma economia 4,7 vezes maior do que a atual: haverá cinco vezes mais carros nas ruas (ou mais até), cinco vezes mais consumo nos shopping centers, em cada momento, etc. Não é, certamente, um cenário luminoso.

     Convém lembrar que o que interessa à sociedade é elevar a qualidade de vida desta e das futuras gerações. Crescer por crescer é a filosofia da célula cancerosa. Elevar a qualidade de vida significa menos violência e insegurança, menos doenças e cidades medíocres. Significa comer bem (não fast food, junk food, comida-lixo, mas comida decente, gostosa, que junte as pessoas). Significa mais alegria de viver, segurança, emprego, habitação; mais justiça, mais (e melhor) educação, mais paisagens belas, confraternização, solidariedade, paz; mais liberdade, mais cidadania; mais horas de lazer (menos horas perdidas). Significa mais amor (alguma dúvida?). Ou seja: máximo de felicidade com mínimo impacto ecológico e ético. Esse é o verdadeiro desenvolvimento que se busca. O que nós vemos, como mostra o WWF, é enganoso. Daí, a preocupação dos ambientalistas quanto à eleição de Marina Silva, cujo programa de governo, Agenda por um Brasil Justo e Sustentável, falava exatamente disso.


Clóvis Cavalcanti, Economista ecológico e pesquisador social.
E-mail: clovis.cavalcanti@yahoo.com.br

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Resíduos sólidos: a lei é boa para o ambiente e para a economia

Por Sérgio Abranches (*), do Ecopolítica

A nova lei de resíduos sólidos, que entrará em vigor em três meses, é um bom exemplo de como medidas de natureza ambiental podem ter impactos econômicos positivos.

Um caso exemplar é o da definição de que o produtor é responsável por todo o ciclo de vida de seu produto. Isso significa que, ao final da vida útil do produto, o fabricante é responsável por sua coleta e disposição final. Isso se aplica a toda a linha eletro-eletrônica, computadores, no-breaks, pilhas, baterias, lâmpadas, enfim uma ampla gama de produtos. É a chamada logística reversa. Os contrários e pessimistas podem pensar nela como pura elevação de custo. Os que têm uma visão positiva, verão nela uma oportunidade de bons negócios.

Algumas empresas já fazem isso: recolhem seus produtos com o ciclo de vida esgotado, levam para um galpão, desmontam, e separam o que é reutilizável, o que é reciclável e o que tem que ser destruído de forma ambientalmente segura. As peças reutilizáveis, reduzem o custo de produção. As recicláveis, geram receita com sua venda para as recicladoras. A destruição ambientalmente correta demanda serviços específicos. Essas empresas fazem isso porque faz parte de seu programa global de redução de emissões e da “pegada ecológica” ou por força de cláusula contratual exigida por seus clientes, pelas mesmas razões. Em vários casos as duas razões estão presentes: tanto fornecedor quanto clientes têm programas que exigem a redução da pegada ecológica e das emissões.

Haverá, contudo, empresas que, por causa de seu porte, ou por razões técnicas, não serão capazes de fazer essa “desconstrução” por conta própria. Importadoras de equipamentos, por exemplo, terão que se responsabilizar pelos produtos que vendem, após o uso, já que o fabricante não estará submetido à legislação brasileira.

Aí entrarão as empresas de serviços de logística reversa, que se responsabilizarão pela coleta, desmonte, comercialização e descarte final do material. Como parte de seu faturamento virá da venda de reutilizáveis e recicláveis, podem oferecer preços atraentes às empresas que queiram terceirizar suas obrigações legais com os produtos que fabricam ou comercializam, após o uso. Bom negócio para todas as partes. Os produtores e comerciantes se asseguram de que seus produtos descartados terão o destino legal correto. Os prestadores de serviços de logística reversa terão um negócio com demanda garantida e em expansão, pois ela será determinada pelo crescimento da demanda doméstica, pela intensidade de uso e pela elevada taxa de obsolescência que caracterizam grande parte desses produtos. Quanto mais tecnologia embutida tiverem, maior a taxa de obsolescência.

Tenho notícia de que pelo menos uma empresa de logística reversa já está em organização no Brasil, juntando investidores locais e uma das empresas líderes de logística reversa no EUA. E o jogo ainda nem começou. Há outros exemplos. O investimento em aterros sanitários vai gerar investimentos, aumentar o grau de reciclagem de produtos. Em vários casos os aterros podem ser combinados a projetos de geração de energia e receber créditos de carbono.

Abrem-se oportunidades de negócios, investimentos e empregos, em função de uma determinação legal que tem efeitos positivos para o ambiente, a saúde pública e a economia.

(Envolverde/Ecopolítica)

Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010 - Conheça a lei na íntegra:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm

sábado, 10 de julho de 2010

Vai a sanção a Política Nacional de Resíduos Sólidos

A proposta, que tramitou por 21 anos na Câmara dos Deputados, havia sido aprovada à tarde por quatro comissões do Senado, em reunião conjunta.

Legislação prevê destinação adequada aos resíduos sólidos
Por Djalba Lima - Agência Senado

Um dos mais sérios problemas do país, que é a ausência de regras para tratamento das 150 mil toneladas de lixo produzidas diariamente nas cidades brasileiras, é o principal alvo de um projeto aprovado na noite desta quarta-feira (7) pelo Plenário do Senado. O substitutivo da Câmara dos Deputados ao projeto de lei do Senado (PLS 354/89) que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos será encaminhado à sanção do presidente da República.

A proposta, que tramitou por 21 anos na Câmara dos Deputados, havia sido aprovada à tarde por quatro comissões do Senado, em reunião conjunta: Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Assuntos Econômicos (CAE), Assuntos Sociais (CAS) e Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, esteve presente durante a votação.

Lixões

O projeto proíbe a criação de lixões, nos quais os resíduos são lançados a céu aberto. Todas as prefeituras deverão construir aterros sanitários adequados ambientalmente, onde só poderão ser depositados os resíduos sem qualquer possibilidade de reaproveitamento ou compostagem. Será proibido catar lixo, morar ou criar animais em aterros sanitários. O projeto proíbe a importação de qualquer lixo.

Com 58 artigos que ocupam 43 páginas, a Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta algumas novidades, entre elas a "logística reversa", que obriga fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores a realizarem o recolhimento de embalagens usadas. Foram incluídos nesse sistema agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas (todas elas) e eletroeletrônicos.

Responsabilidade

Além disso, é introduzida na legislação a "responsabilidade compartilhada", envolvendo a sociedade, as empresas, as prefeituras e os governos estaduais e federal na gestão dos resíduos sólidos. A proposta estabelece que as pessoas terão de acondicionar de forma adequada seu lixo para a coleta, inclusive fazendo a separação onde houver coleta seletiva.

A proposta prevê que a União e os governos estaduais poderão conceder incentivos à indústria de reciclagem. Pela nova política, os municípios só receberão dinheiro do governo federal para projetos de limpeza pública e manejo de resíduos sólidos depois de aprovarem planos de gestão. Os consórcios intermunicipais para a área de lixo terão prioridade no financiamento federal. As cooperativas de catadores de material reciclável foram incluídas na "responsabilidade compartilhada", devendo ser incentivadas pelo poder público.

Incentivo

Com os incentivos e as novas exigências, o país tentará resolver o problema da produção de lixo das cidades, que chega a 150 mil toneladas por dia. Desse total, 59% vão para os "lixões" e apenas 13% têm destinação correta, em aterros sanitários. Em 2008, apenas 405 dos 5.564 municípios brasileiros faziam coleta seletiva de lixo.

O projeto foi relatado, na CMA, por Cícero Lucena (PSDB-PB) e, na CCJ, na CAE e na CAS, por César Borges (PR-BA). Participaram da reunião conjunta, além dos integrantes das quatro comissões, os presidentes da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO); da CMA, Renato Casagrande (PSB-ES); e da CAS, Rosalba Ciarlini (DEM-RN).

Fonte: Agência Senado/EcoAgência

terça-feira, 15 de junho de 2010

O tiro sai pela culatra - Código Florestal Brasileiro (CFB)

A pressão para atualizar o Código Florestal Brasileiro (CFB) aflorou nos últimos dois anos, fomentada especialmente por parlamentares ligados aoagronegócio. Tal como outros intentos governamentais que atritam com a área ambiental, imprime-se a esse projeto caráter de necessidade quaseemergencial.

A pretendida reforma deveria remover o estrangulamento para a expansão de terras agrícolas, hoje supostamente bloqueada pela combinação de áreas depreservação permanente (APP) e reservas legais (RL). Só que esse bloqueio não existe.

A suposta escassez de terras agricultáveis não resiste a estudo mais criterioso, como o recentemente coordenado pelo professor Gerd Sparovek, da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq).

Realocando para cultivo agrícola terras com melhor aptidão, hoje ocupadas com pecuária de baixa produtividade, e aumentando a eficiência da pecuárianas demais, por meio de técnicas já bem conhecidas, a área cultivada no Brasil poderá ser quase dobrada, sem avançar um hectare sequer sobre avegetação natural.

A reforma também pretende retirar da ilegalidade muitas propriedades que não mantêm as APP e RL estipuladas. Para isso, pensa-se em fundir as APP com as RL e flexibilizar o uso destas últimas.

No entanto, as APP e as RL são áreas que exercem papel complementar na conservação das paisagens rurais e não deveriam ser tratadas comoequivalentes. Ademais, o uso de RL com espécies exóticas representa uma completa descaracteriz ação dessas áreas.

Sob a desculpa de proteger as pequenas propriedades, as APP e RL serão colapsadas, reduzidas e drasticamente transformadas, levando a amplosdesmatamentos e perda de áreas protegidas, que não se destinam apenas a conservar espécies e a promover o uso sustentável de recursos naturais.

Elas asseguram uma gama de serviços ambientais indispensáveis à qualidade de vida humana e à própria qualidade e produtividade agrícola. Da proteçãodessas áreas dependem a regulação de cursos de água, o controle da erosão, a polinização de diversas plantas cultivadas, o controle de pragas, osequestro do carbono atmosférico e muitos serviços mais.

Qual a participação da comunidade científica competente na formulação dessas alterações? Quase nula. Há muitos grupos científicos pesquisando ativamente a conservação e restauração da biodiversidade e o desenvolv imento de metodologias que permitam a produção agrícola com a efetiva preservação do ambiente.

Nem os pesquisadores mais reconhecidos dessas áreas nem as sociedades científicas relevantes foram ouvidos. Os parlamentares decidiram quem são oscientistas que merecem atenção e desqualificaram ou ignoraram todos os demais.

Passado quase meio século de intensas transformações, é necessário atualizar o CFB, facilitar a produção agrícola em pequenas propriedades, mas sem deixar de fortalecê-lo nos objetivos essenciais.

Se esses objetivos forem soterrados, haverá sérias consequências para o próprio agronegócio, porque não apenas se comprometerá os serviçosambientais, mas o mero cumprimento formal de legislação ambiental inócua não irá assegurar certificação ambiental respeitada.E quem duvida de que tal certificação será cada vez mais exigida para comercializar qualquer commodity brasileira?É hora de os agroparlamentares e demais envolvidos compreenderem que as demandas ambientais representam componentes indispensáveis da boaagricultura, bem como da melhor qualidade de vida.
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THOMAS LEWINSOHN é prof. da Unicamp e presidente da Assoc. Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação.
JEAN PAUL METZGER é prof. da USP, onde coordena o Laboratório de Ecologia de Paisagens.
CARLOS JOLY é prof. titular da Unicamp e coordenador do Prog. Biota-Fapesp.
RICARDO RODRIGUES é professor titular da Esalq-USP, onde coordena o Laboratório de Restauração.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Brasil perde R$ 8 bilhões anualmente por não reciclar

Ipea apresentou relatório de pesquisa no Ministério do Meio Ambiente e fará parte de grupo de trabalho

Relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta sexta-feira, 14, no Ministério do Meio Ambiente revela que o País perde R$ 8 bilhões por ano quando deixa de reciclar todo resíduo reciclável que é encaminhado para aterros e lixões nas cidades brasileiras.

O presidente do Ipea, Marcio Pochmann, e o técnico do Instituto Jorge Hargrave apresentaram o estudo intitulado Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos, que traz a estimativa dos benefícios econômicos e ambientais da reciclagem e propõe instrumentos como pagamento por produtividade e acréscimos compensatórios graduados, a fim de aumentar a renda dos catadores, e crédito cooperativo para aumentar a organização e formalização das cooperativas.

A partir dos dados da pesquisa, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, instituiu um grupo de trabalho entre o Ipea e os Ministérios para avançar na reestruturação do primeiro Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos associado à coleta de lixo e ao cooperativismo dos catadores.

O grupo tem 45 dias para definir como será a operacionalização do programa, propor fontes de recursos e forma de repasse. “Queremos consolidar uma nova política pública em torno da remuneração adequada para os catadores, da retirada do lixo do meio ambiente e de um resultado econômico não só para as indústrias que reciclam, mas para as cooperativas de catadores com facilidades de crédito e novo perfil de renda”, afirmou a ministra.

O diretor de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano, Silvano Silvério, ressaltou que o programa, além de melhorar a renda e as condições de trabalho dos catadores, tem como objetivo incentivar a reciclagem do País, onde apenas 12% dos resíduos sólidos urbanos e industriais são reciclados e somente 14% da população brasileira são atendidas pela coleta seletiva.

O Secretário de Articulação Institucional e Parcerias do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ronaldo Garcia, alertou que o incentivo financeiro para a cooperativa não será suficiente para aumentar a formalização. “É necessário ter uma assistência técnica continuada às cooperativas para que subsistam e mudar o tipo de financiamento, saindo da modalidade convencional do edital que ajuda a quem menos precisa.” Segundo Ronaldo, o envolvimento dos municípios é decisivo para que a política avance.

Leia a íntegra do Relatório de Pesquisa Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos

Veja a apresentação do Relatório


Fonte:
IPEA

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sustentabilidade já é realidade nas pequenas empresas

Além de trazer vantagens, os custos são compatíveis com orçamentos.

A responsabilidade ambiental deixou de ser uma exclusividade das grandes corporações no Brasil. Visando a ampliar os lucros e a obter vantagens no futuro, as pequenas e médias empresas começam a investir em sustentabilidade. A informação está na edição de abril da revista AméricaEconomia.

Um bom exemplo é a oficina Mecânica do Gato, em São Paulo, que pretende reduzir o consumo de energia e dar o destino correto a 100% dos resíduos produzidos durante o processo de reparação de automóveis. Para isso, a empresa substituiu ventiladores por filtros movidos a energia eólica (gerada a partir do vento), além de aperfeiçoar o processo de despejo de óleo e a separação de metais e papel.

O investimento em tecnologias sustentáveis está alinhado com o orçamento de uma pequena ou média empresa. “Não foi um valor exorbitante, não é algo impossível. É trabalhoso, sim, mas está ao alcance dos menores, não só das grandes corporações”, afirma Carla Garcia, gerente da Mecânica do Gato.

Além dos custos compatíveis, ser ambientalmente responsável traz outras vantagens. Um processo produtivo mais eficiente resulta em economia e maior lucratividade. E, em breve, as licitações do Governo Federal devem ter como critério eliminatório a sustentabilidade da empresa.

Confira algumas dicas sobre como começar a ser sustentável:

- Promova noções de consumo consciente entre os funcionários;
- Faça a coleta seletiva do lixo;
- Desenvolva um programa de reutilização de resíduos;
- Projete uma forma de aproveitar a luz externa e troque as lâmpadas comuns por frias;
- Estimule atitudes sustentáveis de seus fornecedores;
- Inclua o tema de sustentabilidade na agenda com stakeholders;
- Apóie movimentos ligados ao meio ambiente.

A Spring Editora, sob direção de José Roberto Maluf, é responsável pela versão nacional da ROLLING STONE, conhecida internacionalmente, além das revistas AMÉRICAECONOMIA, ESPN, AERO MAGAZINE, DOCOL, OAS, DAY BY DAY, VOETRIP e REVISTA DA INDÚSTRIA – FIESP. Desde 2008, representa a Mídia de Bordo TRIP, que desenvolve conteúdo e ações de marketing personalizados e segmentados para o público da TRIP Linhas Aéreas, a maior companhia regional da América do Sul.

Fontet: (Envolverde/Pauta Social)



quarta-feira, 7 de abril de 2010

Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Mudança Climática

Os países em desenvolvimento podem mudar suas pegadas de carbono enquanto promovem o desenvolvimento e reduzem a pobreza, mas isso depende de assistência técnica e financeira de países de alta renda, de acordo com o Relatório sobre Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Alterações Climáticas. (World Development Report 2010: Development and Climate Change).

Países de alta renda também precisa agir rapidamente para reduzir as suas pegadas de carbono e impulsionar o desenvolvimento de fontes alternativas de energia para ajudar a combater as alterações climáticas. Se agirmos agora, um mundo "climaticamente inteligente" é possível e os custos para atingi-lo serão altos, mas ainda administráveis. Mas para atingirmos esta transformação, destaca o Relatório, precisamos agir agora, agir juntos e agir de modo diferente.

Agir agora

É essencial agir agora ou outras opções irão desaparecer e os custos aumentarão à medida que o mundo se compromete com caminhos de alto carbono e trajetórias de aquecimento global em grande parte irreversíveis. A mudança climática ja compromete os esforços para melhorar padrões de vida e para se alcançar as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Ficar perto do nível de 2°C acima dos níveis pré-industriais de temperatura, provavelmente o melhor que pode ser feito, exige uma verdadeira revolução energética.

Agir juntos

Agir em conjunto é fundamental para manter os custos baixos e garantir uma abordagem eficaz de adaptação e mitigação. É preciso que os países de alta renda comecem a adotar medidas agressivas para reduzir suas próprias emissões. Isso criaria um espaço "livre de poluição" para os países em desenvolvimento, mas, ainda mais importante, estimularia a inovação e a demanda por novas tecnologias que possam ser rapidamente ampliadas.

Agir de maneira diferente

Agindo de forma diferente é necessário para permitir um futuro sustentável em um mundo em mudança. Nas próximas décadas, os sistemas mundiais de energia serão modificados para que as emissões globais baixem de 50% a 80%. É preciso construir uma infraestrutura capaz de resistir a novos extremos climáticos. Para alimentar 3 bilhões de pessoas a mais sem criar uma ameaça adicional a um ecossistema já estressado, a produtividade agrícola e o eficaz uso da água devem melhorar.

Saiba mais sobre o "Relatório sobre Desenvolvimento Mundial 2010: Desenvolvimento e Mudança Climática", lendo o resumo executivo em português. (PDF)

Visite também o site em inglês do Relatório e tenha acesso ao conteúdo integral do documento.

Fonte: Banco Mundial


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

2010 – O ano da biodiversidade


Os diversos tipos de relação entre as espécies de uma floresta tropical criam um equilíbrio dinâmico essencial para a auto-suficiência da mesma. Como exemplo simplista, muitas árvores dependem de insetos polinizadores para gerar sementes, a população destes insetos é controlada por uma espécie de rã, que por sua vez serve de alimento para uma espécie de cobra; caso estas cobras sejam extintas teremos muitas rãs e, conseqüentemente, poucos insetos para polinizarem as árvores que proporcionam refúgio e alimento para centenas de outras espécies. Quebrar um destes elos pode causar uma reação em cadeia que resulte na extinção de diversas espécies, muitas das quais nem temos conhecimento.

Desde 1957, por decisão da Assembléia Geral da ONU, a UNESCO implementa o chamado Ano Internacional. A cada ano que passa um assunto é nomeado como prioridade para a agenda socioambiental mundial: 2001 foi o ano do voluntariado, 2003 foi a vez da água potável e 2010 é o ano da biodiversidade. O intuito é chamar a atenção da sociedade civil e dos tomadores de decisão para questões essenciais à tão cobiçada sustentabilidade. Espera-se que essa conscientização gere um engajamento que, por sua vez, seja traduzido em mais recursos e tempo para estas causas, ou seja, em projetos concretos.

A biodiversidade, para quem não sabe, tem desde 1994 uma conferência própria organizada pela ONU, a Conferência sobre Diversidade Biológica (CBD, na sigal em inglês) e que, neste ano, terá sua décima edição realizada no mês de outubro em Nagoya, Japão. No entanto, apesar de ser umas das principais ameaças ambientais sobre a economia global, a perda de biodiversidade sempre foi o “primo pobre” das mudanças climáticas, que ganhou ainda mais destaque na mídia internacional em 2009. Por este motivo, essa nomeação, aparentemente aleatória, poderia passar batida como uma estratégia de marketing verde que não pegou, não fosse o momentum criado por uma série de fatores recentes.

A disparidade entre a importância que a sociedade percebe dos temas biodiversidade e mudanças climáticas é completamente equivocada e tem duas causas principais que se relacionam. Uma é a complexidade na compreensão da relação entre biodiversidade e as atividades humanas e a outra é o espaço desproporcional dado pela mídia aos dois temas. Tudo isso é fruto de uma falha grave que acredito ser o maior desafio para a sustentabilidade como um todo, a comunicação. O caminho para um desenvolvimento sustentável passa por grandes mudanças no modelo de produção, no estilo de vida e recai, em última instância, no indivíduo. A questão é que uma pessoa não vai mudar seu comportamento sem que seja convencida de que isso será bom para si mesma, para seus filhos, para seu bolso e, por fim, para o mundo.

Pois bem, os bilhões de genes das milhares de espécies que compõem os ambientes naturais da Terra são as peças de um maquinário único e cujos produtos são extremamente diversos, conhecidos em conjunto como serviços ambientais. Nossa economia depende fortemente dos serviços ambientais de diversas formas diferentes, e estes serviços dependem da biodiversidade para funcionar. Por isso, uma vez extinta, uma espécie coloca em risco toda uma cadeia produtiva e todos os indivíduos que nela trabalham.

Da manutenção da fertilidade do solo à “produção” de chuvas os serviços ambientais têm uma importância enorme para todos os setores produtivos, isso sem mencionar a nossa saúde. Um destes serviços, a estocagem de carbono, foi um dos assuntos mais discutidos na COP15 em Copenhagen, e sem dúvida aquele cuja evolução no sentido de um acordo global foi mais perceptível. Isso porque REDD, um mecanismo para geração de créditos de carbono por desmatamento evitado, é o elo mais claro entre as duas principais conferências da ONU, clima e biodiversidade. A conservação das florestas previne que mais CO2 seja lançado para a atmosfera agravando as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, garante a permanência do habitat de aproximadamente 60% de todas as espécies do planeta.

Apesar de o movimento ambientalista ser muito mais antigo e ter como bandeira histórica a luta contra a extinção das espécies, ele nunca chegou próximo de tamanha mobilização promovida em 2009 pelas mudanças climáticas. O motivo para tal fiasco foi a falha em se quantificar e comunicar o valor econômico da biodiversidade. Foi só a partir do início deste século, através do caminho do carbono, que finalmente a conservação ambiental fez sentido na lógica da macro–economia. Bastou a devida valoração de apenas um dos muitos serviços ambientais para percebermos que uma floresta vale mais em pé do que derrubada, imaginem quando conseguirmos quantificar e valorar todos os outros!

Este é o desafio de um projeto ambicioso chamado “The Economics of Ecossistems and Biodiversity-TEEB” (www.teebweb.org), cujo resultado final deverá ser apresentado em Nagoya, em outubro deste ano. Números preliminares já apontam para 50 bilhões de euros o prejuízo que temos todos os anos com a degradação ambiental e conseqüente perda da biodiversidade.

Foi um longo caminho percorrido, mas com a aproximação dos objetivos das duas conferências da ONU promovido pelo REDD, com os esforços para a valoração dos serviços ambientais através do TEEB, e com o sucesso de diversos projetos de pagamentos por serviços ambientais implementados pelo mundo; tudo indica que 2010 será realmente o ano da biodiversidade. Estas tendências são essenciais para despertar uma consciência global de que o problema é um só, o desequilíbrio ambiental provocado pela forma predatória com que nos relacionamos com nosso planeta. Agora é a hora de acertamos as contas do passado e escolhermos um novo caminho para nosso desenvolvimento.

Por Beto Strumpf
http://gvces.wordpress.com/2010/01/13/2010-%E2%80%93-o-ano-da-biodiversidade/