domingo, 19 de julho de 2009

Responsabilidade socioempresarial: o poder e o fazer do homem

O filosofo alemão Hans Jonas no livro “O princípio da responsabilidade”, nos brinda com parte do canto do coral de Antígona, de Sófocles.

“Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelo ventos do sul, ele avança e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor!

“Os bandos de pássaros ligeiros; as hordas de animais selvagens e peixes que habitam as águas do mar, a todos eles o homem engenhoso captura e prende nas malhas de suas redes.

“Com seu engenho ele amansa, igualmente, o animal agreste que corre livre pelos montes, bem como o dócil cavalo, em cuja nuca ele assentará o jugo, e o infatigável touro das montanhas.

“Dotado de inteligência e talentos extraordinários, ora caminha em direção ao bem, ora ao mal… Quando honra as leis da terra e a justiça divina ao qual jurou respeitar, ele pode alçar-se bem alto em sua cidade, mas excluído de sua cidade será ele, caso se deixe descaminhar pelo mal.”

Este canto de grande impetuosidade humanística nos ajuda a refletir sobre o poder e o fazer do homem e a ética da responsabilidade na nossa contemporaneidade.

É inegável o poder visionário e a sensibilidade de Sófocles quanto às qualidades, força e engenhosidade do homem na alteração do seu habitat, buscando formas de vida em prol do conforto e desenvolvimento próprio e da comunidade que habita.

Também, é sábio quando o mesmo chama atenção da direção que o homem pode ter em relação ao poder e o fazer e a importância dessa atitude, pois pode levar a auto-eliminação.

Se contemporizarmos as palavras de Sófocles, expressaríamos que o homem que respeita as leis oriundas da natureza e, portanto divinas, bem como as benéficas constituídas por ele próprio, haverá aceitação da comunidade e o seu poder e fazer será em prol do desenvolvimento de si mesmo e de todos e, portanto da preservação de habitat.

Porém, se o mesmo caminhar para o mal, o que se presume de forma irresponsável, ele será excluído e extinto de seu habitat, em função de suas ações de descuido com o meio ambiente e sua comunidade. Exemplo dessa exclusão é a inconformidade da natureza, expressa pelas catástrofes climáticas envolvendo grande número de pessoas e áreas geográficas.

Ora se os Governos, Estados, Nações, empresas são formadas por homens, estes têm um papel primordial na condução de formas mais responsáveis de lidar com a vida e como os aspectos sócio-empresariais.

Porém, a ética e a responsabilidade ainda não foram traduzidas em um bom caminho trilhado pelo homem, vide que persiste o fluxo de poder socioeconômico entre países mais poderosos e menos poderosos, o que denota que continua a exploração do homem pelo homem, dos recursos materiais e da degradação da qualidade de vida aos moldes do mercantilismo medieval e que nos tempos atuais tem nova paginação: globalização.

Salvo o surgimento de países em desenvolvimento que tem melhorado seus índices de desenvolvimento, mas que convivem internamente com regiões ricas e pobres, a configuração de poder permanece ao longo do tempo e assim, cresce a responsabilidade de todos: desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos em encontrar o caminho de sustentação econômica com mecanismos responsáveis para proporcionar mais dignidade e justiça ao homem contemporâneo e a sua perpetuação.

Ao dirigir a lente para o individuo, a opção de ser um homem responsável, ético e, portanto, bem quisto e benéfico para seu habitat apresenta forma diferenciada a depender da cultura: ibérica/latina e anglicana.

Historicamente, em países com origem anglicana, as leis prevêem que o homem pode doar parte ou toda sua propriedade, em vida ou após a morte para instituições com fins diversos. A religião anglicana suscita a cooperação, o bem estar social para o desenvolvimento e preservação de todos, o que impacta em distribuição de renda menos injusta, não eximindo os de uma relação de dominância com outros países.

Exemplos desse estilo são as fundações Ford, Rockfeller e Guggenheim, inicialmente com cunho filantrópico, mas que simbolizam o inicio da temática social na gestão empresarial.

A cultura ibérico-latina, como retrata o escritor Sergio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil”, a qual influenciou preponderantemente a maior parte do Brasil, possui uma relação de propriedade ligada à hereditariedade e exemplos de doação a comunidade são menos encontrados e apresenta concentração de renda mais injusta.

Mesmo existindo maior probabilidade de uma cultura sobre a outra, no que toca ao exercício de responsabilidade social e desprendimento monetário, percebe-se em ambas as culturas, que a visão do empreendedor é que personificará os programas sócio-empresariais. Aqueles em que a alma é comprometida com o amor a humanidade, e que trilham caminhos públicos consistentes levam ao bem social e empresarial. Aqueles que trilham os caminhos da responsabilidade sócio-empresarial motivados por fatores particulares, mercadológicos ou de forma parcial no processo produtivo serão expulsos naturalmente.

É o homem no exercício de sua sabedoria que poderá atuar eticamente em suas atividades produtivas, investir socialmente, não apenas através de doações filantrópicas, mas com programas de desenvolvimento socioambiental e comunitário, materializando seu poder e fazer em políticas públicas, educacionais, ambientais e outras que levem ao mundo mais harmônico e justo para todos.

Ivana Maria Oliveira Maciel é colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. Economista, pós-graduada em administração financeira e marketing, mestra na área de energia com ênfase em serviços e participa do Instituto Integra, que objetiva a educação para a mulher e integração dos princípios femininos e masculinos através de desenvolvimento de projetos de geração de renda.

(Plurale)

Sustentabilidade. O futuro não é mais como era antigamente?

Definitivamente, não. Mas fiquem calmos, leitores (as). Como estamos falando de futuro, tudo pode mudar e esta é a nossa única certeza: mudança. Para o bem ou para o mal, a escolha é sempre nossa. Não existem os culpados, só existe a nossa responsabilidade: diante do planeta, do país, da cidade e das organizações das quais participamos. E é nelas que eu quero me focar.

Públicas ou privadas – as organizações humanas são as alavancas capazes de construir outra realidade para o mundo no que diz respeito às dimensões econômicas, ambientais e sociais. A articulação entre governo, empresas, cidadania, instituições educacionais e imprensa, entre outras, é uma fórmula poderosa para encontrarmos soluções conjuntas para os desafios que temos pela frente.

Mudanças climáticas, biodiversidade em risco, hábitos e processos ambientalmente devastadores, lixo, escassez de água, necessidades energéticas, centros urbanos em crescimento caótico, produção de alimentos, educação, saúde e lucros. Mudança de hábitos...

Não é uma agenda pequena, não será simples dar conta. Mas nunca foi fácil enfrentar desafios envolvendo tanta gente junta (se a Terra é nossa única “espaçonave”, vamos precisar nos relacionar com gente que pensa diferente, age diferente, entende diferente). Mas isso a globalização já tinha nos mostrado que seria o principal desafio. E é aqui onde a comunicação entre em cena.

Através do diálogo participativo, lúcido, tolerante a novas abordagens, pontos de vista diferentes; através de canais interativos (e a web já nos ampliou esses horizontes de contato) e na vontade de manter relacionamentos de longo prazo, vamos ser capazes de dar conta deste futuro que se apresenta. Pronto, alguns vão me achar por demais utópico, sonhador – tudo bem. Gosto de sonhar, pois adoro, mais ainda, transformar sonhos em realidade. E trabalhar com comunicação para a sustentabilidade tem me dado esta satisfação. Tem me permitido a possibilidade de conhecer mudanças que de fato estão saindo do papel e acontecendo.

Tenho encontrado empresas que buscam novos caminhos, aprendendo com erros e refazendo processos de maneira inovadora em diferentes setores. Gente comprometida, dentro das organizações, realizando, dia após dia, pequenas evoluções, mas que num conjunto e num espaço de tempo relativamente curto vão frutificar. É o novo pedindo passagem e remodelando velhos paradigmas.

Desde o setor de mineração, de energia até o setor farmacêutico, bancário e cosmético. Sempre com a comunicação como fio condutor dessa evolução cultural, processual e, sim, emocional. Costurando redes sociais pioneiras (ONGs sendo ouvidas em grupos, por exemplo) e possibilitando a troca de experiências (comunidades indígenas dialogando com técnicos e engenheiros) e colocando pessoas diferentes e necessidades múltiplas em colaboração.

Portanto, acredito: é através de um modelo mais sustentável de negócios e relações, pois redes amplas dão maior visão do todo - numa abordagem sistêmica das atividades humanas, que vamos fazer com que o futuro seja mais promissor. Com mais qualidade nas ações, melhor aproveitamento de recursos, menos desperdício, menos injustiças sociais e maior respeito ao meio ambiente. Um legado de grande valor às gerações que ainda estão por vir.

Luiz Antônio Gaulia é Colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. É especialista em Comunicação Empresarial e Comunicação para a Sustentabilidade. Atualmente é consultor da Rebouças & Associados trabalhando com Comunicação para Transformação em empresas como Petrobras, Light S.A. entre outras. http://gaulia.blogspot.com/

(Envolverde/Revista Plurale)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Mercados verdes, produtos mais verdes

Por Redação da Revista Idéia Socioambiental

Com a nova realidade global e a crescente demanda por produtos verdes, grandes corporações começam a repensar suas estratégias de negócios visando adaptar-se a um mercado consumidor cada vez mais engajado e sensível às questões socioambientais. A partir do investimento em pesquisa e em novas tecnologias, alternativas mais sustentáveis surgem a cada dia, inspiradas em casos mundiais já clássicos de inovação verde, como a linha Ecoimagination, da General Eletric, e os veículos híbridos Prius da Toyota.

Segundo Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da GE na América Latina, a inovação para produtos mais sustentáveis começou a ganhar força na empresa a partir de 2004. “Foi quando sentimos que havia a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias, que deveriam ser mais limpas e mais amigáveis em relação ao meio ambiente. Essa era uma preocupação em comum dos nossos clientes da GE. Assim resolvemos lançar a Ecoimagination”, afirma.

De acordo com Alfredo, existe uma forte consciência socioambiental em ascensão no Brasil. O consumidor - acredita - está cada vez mais exigente e cobra ações eficientes por parte das empresas, do governo e das ONGs. “Existe uma consciência muito presente. Por conta disso, identificamos várias oportunidades na área. Não abraçamos esse tema porque queremos ser simplesmente corretos, mas porque é uma unidade de negócios que pode gerar muito retorno financeiro”, explica o diretor.

A linha Ecoimagination será lançada oficialmente no Brasil em 2009. Mas os primeiros bons resultados comprovam o sucesso do empreendimento. Em três anos, mais de 5.000 projetos da linha foram lançados, gerando uma economia energética de 97 milhões de dólares e a redução de 600 mil toneladas de CO2 por metro cúbico, contabilizados produção e consumo. O segmento de produtos mais sustentáveis já rendeu à General Eletric um lucro de aproximadamente 14 bilhões de dólares.

Inovações para o mercado verde

Algumas empresas já têm uma posição consolidada em relação a práticas ambientalmente responsáveis. É o caso da Natura. Considerada uma pioneira em sustentabilidade no país, a empresa fez investimentos importantes, na última década, visando substituir elementos fósseis por outras substâncias na composição de seus produtos, e também o álcool comum pelo álcool orgânico na perfumaria e nos desodorantes da marca.

Segundo Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da empresa, o processo de modificação dos produtos pode levar de um a dois anos de estudo. “É necessário garantir que a matéria-prima esteja disponível na quantidade necessária e que a nova fórmula não altere as características sensoriais da composição. Não adianta desenvolver algo sustentável, natural, mas que não agrade o consumidor”, conta.

As inovações na formulação dos cosméticos da Natura só foram possíveis após anos de trabalho no campo de pesquisa e desenvolvimento, com o auxilio de cerca de 200 profissionais de diferentes formações. Para Gonzaga, a união entre as empresas é fundamental para que resultados eficientes possam ser alcançados em menor prazo. “Muitas vezes, temos projetos interessantes do ponto de vista tecnológico, mas que não conseguem ser viabilizados economicamente porque são poucas as empresas interessadas em desenvolvê-los”. Esse tipo de parceria representa o conceito de Open Innovation (Inovação Aberta), uma tendência no mercado que leva empresas a expandirem seus conhecimentos para além dos laboratórios, permitindo economia de tempo e de recursos.

Outra tendência no segmento de produtos mais verdes são os concentrados. Um bom exemplo é a nova versão do Confort de 500 ml, cuja vantagem ambiental é, mantendo o mesmo rendimento da versão de 2 litros, gerar uma economia de cerca de 20% para os consumidores, além de reduzir custos na produção e na confecção de embalagens. Na avaliação de Jorge Lima, gerente de assuntos governamentais e socioambientais da Unilever Brasil, o caso do Confort não reflete apenas o universo dos bens de consumo de limpeza, mas uma tendência global. “O consumidor está sendo convidado a mudar um pouco a sua cultura em benefício do meio ambiente. Acredito que, no futuro, mais produtos serão concentrados”, avalia.

Em relação às embalagens, a Unilever tem feito várias inovações. A redução do tamanho da caixa do sabão em pó Omo, por exemplo, evita o corte de 2,4 mil árvores por mês e reduz em 9% o consumo de combustível para transporte interno e externo. O desodorante Rexona, que antigamente vinha com uma tampa de plástico na embalagem, também passou por uma reformulação para eliminar esse item que terminava na reciclagem pós-consumo. A transição de vidro para PET das embalagens da maionese Hellmann´s, é outro exemplo eficiente, na medida em que resulta em economia anual de 1.029 toneladas de vidro e de 26.000 litros de água.

No mercado desde maio de 2008, esses novos produtos e embalagens, seguem ao pé da letra a nova cartilha da sustentabilidade, estimulando – segundo Lima - uma importante mudança de hábito nos consumidores. “O brasileiro opta tradicionalmente por custo e benefício. Mas hoje, há um terceiro pilar em questão: se o produto possui o selo verde e tem compromisso com a responsabilidade social”, ressalta o gerente da Unilever.

A Tetra Pak, empresa líder no setor de processamento, envase e distribuição de alimentos, também tem disseminado a idéia da sustentabilidade por toda a sua cadeia produtiva A preocupação ambiental com o descarte de seus produtos, aliada à produção recorde de 137 bilhões de embalagens em 2007, levou a empresa a desenvolver uma tecnologia específica para fabricação de diversos objetos a partir da mistura de plástico e alumínio, após a separação do papel que compõe a embalagem – utilizado posteriormente na produção de caixas de papelão e de papel reciclado.

As soluções desenvolvidas pela empresa estimulam o desenvolvimento das recicladoras e geram parcerias eficientes de negócios. Na fábrica Eco-Futuro, por exemplo, embalagens da Tetra Pak já utilizadas passam por um processo de prensagem, resultando em telhas. Na fábrica Polares, o material chamado pellet (mistura de alumínio e plástico) tem sido utilizado na produção de vassouras.

Segundo Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak, a quantidade de clientes que compram embalagens da companhia aumentou consideravelmente nos últimos anos. “É benéfico para uma empresa ter seu nome associado a uma cadeia de fornecedores socioambientalmente responsáveis”, afirma.

Além de criar novos produtos verdes, há um mercado empenhado em tornar mais sustentáveis os já existentes Um exemplo dessa evolução é a indústria automobilística. O novo conceito Flex Start, desenvolvido atualmente pela Bosch, pode resultar na produção de carros menos prejudiciais ao meio ambiente. Um veículo que possui o Flex Start está apto, por exemplo, a fazer uma “partida a frio”, sem precisar do reservatório dos veículos comuns, proporcionando uma redução de até 40% na emissão de poluentes. A previsão é de que esta nova tecnologia esteja disponível no mercado brasileiro a partir de 2009.

Outra novidade que pode ser muito eficiente nas grandes cidades é o sistema Start Stop, que reconhece uma série de condições de uso do carro e desliga o motor automaticamente quando o automóvel está parado em marcha lenta por longo período, sendo acionado novamente apenas com o uso dos pedais. Esse sistema pode reduzir em até 8% o consumo de combustível e em até 5% as emissões de CO2. O Star Stop já integra os veículos europeus e deve estar disponível no Brasil a partir de 2010.

De acordo com Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produtos da unidade sistemas a gasolina da Robert Bosch América Latina, a introdução dessas novas tecnologias no mercado, avaliada juntamente com o impacto no custo final dos veículos, tem gerado bons resultados. “É perceptível a disposição crescente dos consumidores para comprar produtos ambientalmente corretos”, destaca Ferreira.

Empresas mais conscientes

A necessidade de conscientizar os novos consumidores também se mostra um desafio para as empresas que investem em produtos mais sustentáveis. Segundo o diretor da GE, o Brasil tem uma nova classe média com grande poder de consumo e, por isso mesmo, inegável capacidade de influenciar os negócios. “Essa mudança reflete na habilidade do país crescer de uma maneira sustentável e na forma como a GE se prepara para atender a essa demanda”.

Para ajudar a fortalecer a consciência socioambiental nessa nova sociedade em formação, a GE aposta na Convocação Regional, evento que está no quinto ano e acontece pela primeira vez na América Latina e no Brasil. Cerca de 20 lideres de opinião, entre governo, empresas e ONGs, se reunirão na segunda semana de outubro para trocar experiências sobre um determinado tema, que, neste ano, será a sustentabilidade. Segundo Alfredo, como os negócios geram um impacto importante para a sociedade, deve partir das empresas o desenvolvimento de alternativas e soluções mais sustentáveis.

Na mesma linha de conscientizar consumidores, a Natura foi a primeira no país a destacar uma tabela ambiental no rótulo de produtos. “Elas contém informações a respeito da quantidade de matéria-prima proveniente de fontes renováveis e quais embalagens são recicladas ou recicláveis”, afirma Gonzaga.

Para Lima, da Unilever, quanto mais consumidores engajados, mais empresas devem aderir às práticas sustentáveis. “De modo geral, quando os consumidores são exigentes, a indústria procura se melhorar. O que temos feito é levar em consideração toda a preocupação durante o processo de produção de novos produtos”, ressalta.

Para Von Zuben, da Tetra Pak, o mais importante na relação com os consumidores é a transparência. “A empresa deve comunicar apenas a realidade. No final das contas, é muito fácil vender. Demora-se anos para se construir credibilidade. E pouco tempo para perdê-la”.

Tendências no mercado verde

Redução de embalagens

Parcerias para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas
Reformulação de produtos para redução do impacto ambiental
Desenvolvimento de novos produtos concentrados

(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental) - 03/09/2008 - 11h09

A polêmica do plástico oxibiodegradável

Para quem pensava que as sacolas oxibiodegradáveis seriam a resposta para o problema do acúmulo de plásticos na natureza, há uma má notícia: é cada vez mais freqüente, entre os especialistas, a opinião de que o modelo é poluente.

Um dos maiores especialistas em degradação de plásticos do mundo, o americano Joseph Greene esteve em Porto Alegre, no fim de junho, para o 8º Simpósio do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), no qual mostrou os resultados de uma pesquisa sobre o impacto de alguns tipos de plástico no ambiente. Com base no estudo, a Califórnia abandonou a idéia de adotar o plástico oxibiodegradável no Estado - Greene apurou que esse plástico não se desintegra.

- Não queremos que o plástico acabe com o planeta. Plástico é maravilhoso, mas pode se tornar um veneno - avaliou o americano.

Segundo o presidente do Plastivida, Francisco de Assis Esmeraldo, o plástico oxibiodegradável se esfarela com o tempo e é ingerido por peixes e outros animais, o que poderia levar a um desastre ecológico. Ainda assim, a Fundação Verde (Funverde), que divulga o oxibiodegradável no Brasil, afirma que há centenas de laudos comprovando a degradação do material em até 18 meses.

Enquanto isso, o Plastivida estuda alternativas para reduzir o impacto do uso do plástico no Brasil. Em agosto, lançará o Programa Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, que promove duas soluções de curto prazo: convencer os consumidores a deixar de lado a mania de usar sacolas duplas e a acomodar mais produtos em cada uma delas.

Prévia de pesquisas realizadas pelo Plastivida em São Paulo mostram que 13% da população utiliza a sacola em duplicidade e que 61% usam apenas metade da capacidade que elas podem suportar - seis quilos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

- A culpa não é só do cliente, as sacolas são muito frágeis - aponta Esmeraldo.

Se o instituto alcançar o objetivo - de que apenas 6,5% da população utilize sacolas em duplicidade e 30% aproveite toda sua carga -, a redução no uso de sacolas plásticas pode chegar a 37%. O programa é uma parceria da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Será feito um trabalho de incentivo ao uso consciente com empacotadores e caixas. Além disso, haverá cartazes sobre o projeto nas lojas e um selo com a carga que cada sacola suporta.

Dúvidas verdes

A capa do Ambiente do mês passado, Carregando um problema, motivou uma série de e-mails de leitores com dúvidas sobre o uso de sacolas plásticas. O coordenador da área de Gestão Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Darci Campani, responde às questões de Sidney Charles Day, Andréa Cruz e Octavio Augusto de Souza.

É correto usar sacolas plásticas como saco de lixo?

O grande problema não é o fato de utilizá-las para a colocação de lixo, mas sim a imensa quantidade de sacolinhas que levamos para casa e que não têm outra utilidade senão essa. Às vezes, são tão fracas que nem para colocar o lixo servem. Aí, acabamos gastando mais ainda. As sacolas utilizadas para o transporte dos resíduos sólidos, na sua maioria, irão para aterros sanitários e nunca mais serão aproveitadas. Fazer isso com material virgem é um desperdício.

Por que as sacolas precisam ser feitas de material virgem?

Porque material reciclado pode não ter a garantia da desinfecção necessária ou a ausência de substâncias contaminadas, portanto não podem ser utilizadas para transportar alimentos. Para o transporte de alimentos, o ideal é usar embalagens não descartáveis e que dêem garantia de higiene.

Os sacos de lixo à venda se degradam mais rapidamente do que as sacolas plásticas?

Como os sacos de lixo são feitos de material reciclado, a sua diferença em relação às sacolas não é a velocidade da degradação, mas sim o fato de já terem sido utilizados várias vezes. Sempre que reutilizamos ou reciclamos algo estamos evitando a extração de material virgem, e com isso aumentando a vida útil das reservas naturais.

Há sacolas plásticas mais poluidoras do que outras?


Existem sacolas feitas com compostos metálicos e que, ao se decomporem, liberam essas substâncias no ambiente.

É correto usar sacolas plásticas para recolher fezes do cachorro ou é melhor colocá-las nos canteiros, porque viram adubo?

Depende do tamanho do cachorro e do canteiro. O ideal seria que as fezes passassem por um processo de fermentação aeróbia, por meio de uma composteira. A aplicação contínua de material não degradado pode levar a uma concentração elevada de coliformes fecais. Se você ainda não faz compostagem, utilize um saco pequeno em vez de uma sacola de supermercado para juntar as fezes e coloque-o junto com os resíduos comuns.


ZERO HORA - 31 de julho de 2008.

Reciclar carro reduz 70% de furtos e roubos


Na Argentina, legalização do desmanche desmotivou indústria do crime; Brasil só recicla 1,5% da frota


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A preocupação com o ambiente atingiu não só as montadoras, que fabricam carros mais econômicos, mas também a reciclagem de veículos. Iniciativas no exterior reduziram a poluição e os desmanches ilegais, diminuindo em até 70% o furto e o roubo de veículos.

Foi o que aconteceu em Buenos Aires, quando o Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) da Argentina, em 2007, abriu uma unidade de reciclagem de veículos. Não há financiamento do governo argentino, que apenas regulamenta os desmanches.

Hoje as seguradoras argentinas cedem os carros sinistrados para o centro de reciclagem e recebem 40% do lucro obtido com a venda das peças.

As partes que não podem ser aproveitadas são recicladas, e sua matéria-prima, usada na fabricação de outros produtos.

Já as peças utilizáveis no reparo de um novo veículo são tratadas e vendidas para oficinas ou diretamente para proprietários. Em geral, são 30% mais baratas que as originais.

"As peças precisam de etiquetas de identificação oficiais e nota fiscal, facilitando a ação da polícia", revela Fabián Pons, gerente do Cesvi argentino.

Um processo semelhante acontece no Cesvi da Espanha, que também criou uma unidade voltada para o tratamento de veículos fora de uso.

Reciclagem

"A legislação europeia incentiva a reciclagem de veículos e obriga as montadoras a utilizar, na construção dos carros, materiais facilmente recicláveis", explica o gerente do Cesvi espanhol Ignácio Pérez.

O número de desmanches diminuiu de 3.000 para 500 unidades de reciclagem. "Pela lei, elas fazem maiores transformações", explica Pérez.

O Brasil, porém, ainda está distante desse cenário. Segundo o Sindinesfa (Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa), apenas 1,5% da frota brasileira que sai de circulação vai para o processo de reciclagem -na Europa e nos EUA, esse índice chega a 95%.

Segundo José Aurélio, diretor de operações do Cesvi Brasil, "a entidade, sem o apoio de outras empresas, não tem dinheiro para abrir um centro de reciclagem". Na Espanha, ele custou 8 milhões (R$ 24 milhões).

(RICARDO RIBEIRO)

Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009