quinta-feira, 16 de julho de 2009

Reciclar carro reduz 70% de furtos e roubos


Na Argentina, legalização do desmanche desmotivou indústria do crime; Brasil só recicla 1,5% da frota


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A preocupação com o ambiente atingiu não só as montadoras, que fabricam carros mais econômicos, mas também a reciclagem de veículos. Iniciativas no exterior reduziram a poluição e os desmanches ilegais, diminuindo em até 70% o furto e o roubo de veículos.

Foi o que aconteceu em Buenos Aires, quando o Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) da Argentina, em 2007, abriu uma unidade de reciclagem de veículos. Não há financiamento do governo argentino, que apenas regulamenta os desmanches.

Hoje as seguradoras argentinas cedem os carros sinistrados para o centro de reciclagem e recebem 40% do lucro obtido com a venda das peças.

As partes que não podem ser aproveitadas são recicladas, e sua matéria-prima, usada na fabricação de outros produtos.

Já as peças utilizáveis no reparo de um novo veículo são tratadas e vendidas para oficinas ou diretamente para proprietários. Em geral, são 30% mais baratas que as originais.

"As peças precisam de etiquetas de identificação oficiais e nota fiscal, facilitando a ação da polícia", revela Fabián Pons, gerente do Cesvi argentino.

Um processo semelhante acontece no Cesvi da Espanha, que também criou uma unidade voltada para o tratamento de veículos fora de uso.

Reciclagem

"A legislação europeia incentiva a reciclagem de veículos e obriga as montadoras a utilizar, na construção dos carros, materiais facilmente recicláveis", explica o gerente do Cesvi espanhol Ignácio Pérez.

O número de desmanches diminuiu de 3.000 para 500 unidades de reciclagem. "Pela lei, elas fazem maiores transformações", explica Pérez.

O Brasil, porém, ainda está distante desse cenário. Segundo o Sindinesfa (Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa), apenas 1,5% da frota brasileira que sai de circulação vai para o processo de reciclagem -na Europa e nos EUA, esse índice chega a 95%.

Segundo José Aurélio, diretor de operações do Cesvi Brasil, "a entidade, sem o apoio de outras empresas, não tem dinheiro para abrir um centro de reciclagem". Na Espanha, ele custou 8 milhões (R$ 24 milhões).

(RICARDO RIBEIRO)

Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

Nenhum comentário: