domingo, 19 de julho de 2009

Responsabilidade socioempresarial: o poder e o fazer do homem

O filosofo alemão Hans Jonas no livro “O princípio da responsabilidade”, nos brinda com parte do canto do coral de Antígona, de Sófocles.

“Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelo ventos do sul, ele avança e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor!

“Os bandos de pássaros ligeiros; as hordas de animais selvagens e peixes que habitam as águas do mar, a todos eles o homem engenhoso captura e prende nas malhas de suas redes.

“Com seu engenho ele amansa, igualmente, o animal agreste que corre livre pelos montes, bem como o dócil cavalo, em cuja nuca ele assentará o jugo, e o infatigável touro das montanhas.

“Dotado de inteligência e talentos extraordinários, ora caminha em direção ao bem, ora ao mal… Quando honra as leis da terra e a justiça divina ao qual jurou respeitar, ele pode alçar-se bem alto em sua cidade, mas excluído de sua cidade será ele, caso se deixe descaminhar pelo mal.”

Este canto de grande impetuosidade humanística nos ajuda a refletir sobre o poder e o fazer do homem e a ética da responsabilidade na nossa contemporaneidade.

É inegável o poder visionário e a sensibilidade de Sófocles quanto às qualidades, força e engenhosidade do homem na alteração do seu habitat, buscando formas de vida em prol do conforto e desenvolvimento próprio e da comunidade que habita.

Também, é sábio quando o mesmo chama atenção da direção que o homem pode ter em relação ao poder e o fazer e a importância dessa atitude, pois pode levar a auto-eliminação.

Se contemporizarmos as palavras de Sófocles, expressaríamos que o homem que respeita as leis oriundas da natureza e, portanto divinas, bem como as benéficas constituídas por ele próprio, haverá aceitação da comunidade e o seu poder e fazer será em prol do desenvolvimento de si mesmo e de todos e, portanto da preservação de habitat.

Porém, se o mesmo caminhar para o mal, o que se presume de forma irresponsável, ele será excluído e extinto de seu habitat, em função de suas ações de descuido com o meio ambiente e sua comunidade. Exemplo dessa exclusão é a inconformidade da natureza, expressa pelas catástrofes climáticas envolvendo grande número de pessoas e áreas geográficas.

Ora se os Governos, Estados, Nações, empresas são formadas por homens, estes têm um papel primordial na condução de formas mais responsáveis de lidar com a vida e como os aspectos sócio-empresariais.

Porém, a ética e a responsabilidade ainda não foram traduzidas em um bom caminho trilhado pelo homem, vide que persiste o fluxo de poder socioeconômico entre países mais poderosos e menos poderosos, o que denota que continua a exploração do homem pelo homem, dos recursos materiais e da degradação da qualidade de vida aos moldes do mercantilismo medieval e que nos tempos atuais tem nova paginação: globalização.

Salvo o surgimento de países em desenvolvimento que tem melhorado seus índices de desenvolvimento, mas que convivem internamente com regiões ricas e pobres, a configuração de poder permanece ao longo do tempo e assim, cresce a responsabilidade de todos: desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos em encontrar o caminho de sustentação econômica com mecanismos responsáveis para proporcionar mais dignidade e justiça ao homem contemporâneo e a sua perpetuação.

Ao dirigir a lente para o individuo, a opção de ser um homem responsável, ético e, portanto, bem quisto e benéfico para seu habitat apresenta forma diferenciada a depender da cultura: ibérica/latina e anglicana.

Historicamente, em países com origem anglicana, as leis prevêem que o homem pode doar parte ou toda sua propriedade, em vida ou após a morte para instituições com fins diversos. A religião anglicana suscita a cooperação, o bem estar social para o desenvolvimento e preservação de todos, o que impacta em distribuição de renda menos injusta, não eximindo os de uma relação de dominância com outros países.

Exemplos desse estilo são as fundações Ford, Rockfeller e Guggenheim, inicialmente com cunho filantrópico, mas que simbolizam o inicio da temática social na gestão empresarial.

A cultura ibérico-latina, como retrata o escritor Sergio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil”, a qual influenciou preponderantemente a maior parte do Brasil, possui uma relação de propriedade ligada à hereditariedade e exemplos de doação a comunidade são menos encontrados e apresenta concentração de renda mais injusta.

Mesmo existindo maior probabilidade de uma cultura sobre a outra, no que toca ao exercício de responsabilidade social e desprendimento monetário, percebe-se em ambas as culturas, que a visão do empreendedor é que personificará os programas sócio-empresariais. Aqueles em que a alma é comprometida com o amor a humanidade, e que trilham caminhos públicos consistentes levam ao bem social e empresarial. Aqueles que trilham os caminhos da responsabilidade sócio-empresarial motivados por fatores particulares, mercadológicos ou de forma parcial no processo produtivo serão expulsos naturalmente.

É o homem no exercício de sua sabedoria que poderá atuar eticamente em suas atividades produtivas, investir socialmente, não apenas através de doações filantrópicas, mas com programas de desenvolvimento socioambiental e comunitário, materializando seu poder e fazer em políticas públicas, educacionais, ambientais e outras que levem ao mundo mais harmônico e justo para todos.

Ivana Maria Oliveira Maciel é colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. Economista, pós-graduada em administração financeira e marketing, mestra na área de energia com ênfase em serviços e participa do Instituto Integra, que objetiva a educação para a mulher e integração dos princípios femininos e masculinos através de desenvolvimento de projetos de geração de renda.

(Plurale)

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