Para quem pensava que as sacolas oxibiodegradáveis seriam a resposta para o problema do acúmulo de plásticos na natureza, há uma má notícia: é cada vez mais freqüente, entre os especialistas, a opinião de que o modelo é poluente.
Um dos maiores especialistas em degradação de plásticos do mundo, o americano Joseph Greene esteve em Porto Alegre, no fim de junho, para o 8º Simpósio do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), no qual mostrou os resultados de uma pesquisa sobre o impacto de alguns tipos de plástico no ambiente. Com base no estudo, a Califórnia abandonou a idéia de adotar o plástico oxibiodegradável no Estado - Greene apurou que esse plástico não se desintegra.
- Não queremos que o plástico acabe com o planeta. Plástico é maravilhoso, mas pode se tornar um veneno - avaliou o americano.
Segundo o presidente do Plastivida, Francisco de Assis Esmeraldo, o plástico oxibiodegradável se esfarela com o tempo e é ingerido por peixes e outros animais, o que poderia levar a um desastre ecológico. Ainda assim, a Fundação Verde (Funverde), que divulga o oxibiodegradável no Brasil, afirma que há centenas de laudos comprovando a degradação do material em até 18 meses.
Enquanto isso, o Plastivida estuda alternativas para reduzir o impacto do uso do plástico no Brasil. Em agosto, lançará o Programa Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, que promove duas soluções de curto prazo: convencer os consumidores a deixar de lado a mania de usar sacolas duplas e a acomodar mais produtos em cada uma delas.
Prévia de pesquisas realizadas pelo Plastivida em São Paulo mostram que 13% da população utiliza a sacola em duplicidade e que 61% usam apenas metade da capacidade que elas podem suportar - seis quilos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
- A culpa não é só do cliente, as sacolas são muito frágeis - aponta Esmeraldo.
Se o instituto alcançar o objetivo - de que apenas 6,5% da população utilize sacolas em duplicidade e 30% aproveite toda sua carga -, a redução no uso de sacolas plásticas pode chegar a 37%. O programa é uma parceria da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Será feito um trabalho de incentivo ao uso consciente com empacotadores e caixas. Além disso, haverá cartazes sobre o projeto nas lojas e um selo com a carga que cada sacola suporta.
Dúvidas verdes
A capa do Ambiente do mês passado, Carregando um problema, motivou uma série de e-mails de leitores com dúvidas sobre o uso de sacolas plásticas. O coordenador da área de Gestão Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Darci Campani, responde às questões de Sidney Charles Day, Andréa Cruz e Octavio Augusto de Souza.
É correto usar sacolas plásticas como saco de lixo?
O grande problema não é o fato de utilizá-las para a colocação de lixo, mas sim a imensa quantidade de sacolinhas que levamos para casa e que não têm outra utilidade senão essa. Às vezes, são tão fracas que nem para colocar o lixo servem. Aí, acabamos gastando mais ainda. As sacolas utilizadas para o transporte dos resíduos sólidos, na sua maioria, irão para aterros sanitários e nunca mais serão aproveitadas. Fazer isso com material virgem é um desperdício.
Por que as sacolas precisam ser feitas de material virgem?
Porque material reciclado pode não ter a garantia da desinfecção necessária ou a ausência de substâncias contaminadas, portanto não podem ser utilizadas para transportar alimentos. Para o transporte de alimentos, o ideal é usar embalagens não descartáveis e que dêem garantia de higiene.
Os sacos de lixo à venda se degradam mais rapidamente do que as sacolas plásticas?
Como os sacos de lixo são feitos de material reciclado, a sua diferença em relação às sacolas não é a velocidade da degradação, mas sim o fato de já terem sido utilizados várias vezes. Sempre que reutilizamos ou reciclamos algo estamos evitando a extração de material virgem, e com isso aumentando a vida útil das reservas naturais.
Há sacolas plásticas mais poluidoras do que outras?
Existem sacolas feitas com compostos metálicos e que, ao se decomporem, liberam essas substâncias no ambiente.
É correto usar sacolas plásticas para recolher fezes do cachorro ou é melhor colocá-las nos canteiros, porque viram adubo?
Depende do tamanho do cachorro e do canteiro. O ideal seria que as fezes passassem por um processo de fermentação aeróbia, por meio de uma composteira. A aplicação contínua de material não degradado pode levar a uma concentração elevada de coliformes fecais. Se você ainda não faz compostagem, utilize um saco pequeno em vez de uma sacola de supermercado para juntar as fezes e coloque-o junto com os resíduos comuns.
ZERO HORA - 31 de julho de 2008.
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