Por Redação da Revista Idéia Socioambiental
Com a nova realidade global e a crescente demanda por produtos verdes, grandes corporações começam a repensar suas estratégias de negócios visando adaptar-se a um mercado consumidor cada vez mais engajado e sensível às questões socioambientais. A partir do investimento em pesquisa e em novas tecnologias, alternativas mais sustentáveis surgem a cada dia, inspiradas em casos mundiais já clássicos de inovação verde, como a linha Ecoimagination, da General Eletric, e os veículos híbridos Prius da Toyota.
Segundo Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da GE na América Latina, a inovação para produtos mais sustentáveis começou a ganhar força na empresa a partir de 2004. “Foi quando sentimos que havia a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias, que deveriam ser mais limpas e mais amigáveis em relação ao meio ambiente. Essa era uma preocupação em comum dos nossos clientes da GE. Assim resolvemos lançar a Ecoimagination”, afirma.
De acordo com Alfredo, existe uma forte consciência socioambiental em ascensão no Brasil. O consumidor - acredita - está cada vez mais exigente e cobra ações eficientes por parte das empresas, do governo e das ONGs. “Existe uma consciência muito presente. Por conta disso, identificamos várias oportunidades na área. Não abraçamos esse tema porque queremos ser simplesmente corretos, mas porque é uma unidade de negócios que pode gerar muito retorno financeiro”, explica o diretor.
A linha Ecoimagination será lançada oficialmente no Brasil em 2009. Mas os primeiros bons resultados comprovam o sucesso do empreendimento. Em três anos, mais de 5.000 projetos da linha foram lançados, gerando uma economia energética de 97 milhões de dólares e a redução de 600 mil toneladas de CO2 por metro cúbico, contabilizados produção e consumo. O segmento de produtos mais sustentáveis já rendeu à General Eletric um lucro de aproximadamente 14 bilhões de dólares.
Inovações para o mercado verde
Algumas empresas já têm uma posição consolidada em relação a práticas ambientalmente responsáveis. É o caso da Natura. Considerada uma pioneira em sustentabilidade no país, a empresa fez investimentos importantes, na última década, visando substituir elementos fósseis por outras substâncias na composição de seus produtos, e também o álcool comum pelo álcool orgânico na perfumaria e nos desodorantes da marca.
Segundo Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da empresa, o processo de modificação dos produtos pode levar de um a dois anos de estudo. “É necessário garantir que a matéria-prima esteja disponível na quantidade necessária e que a nova fórmula não altere as características sensoriais da composição. Não adianta desenvolver algo sustentável, natural, mas que não agrade o consumidor”, conta.
As inovações na formulação dos cosméticos da Natura só foram possíveis após anos de trabalho no campo de pesquisa e desenvolvimento, com o auxilio de cerca de 200 profissionais de diferentes formações. Para Gonzaga, a união entre as empresas é fundamental para que resultados eficientes possam ser alcançados em menor prazo. “Muitas vezes, temos projetos interessantes do ponto de vista tecnológico, mas que não conseguem ser viabilizados economicamente porque são poucas as empresas interessadas em desenvolvê-los”. Esse tipo de parceria representa o conceito de Open Innovation (Inovação Aberta), uma tendência no mercado que leva empresas a expandirem seus conhecimentos para além dos laboratórios, permitindo economia de tempo e de recursos.
Outra tendência no segmento de produtos mais verdes são os concentrados. Um bom exemplo é a nova versão do Confort de 500 ml, cuja vantagem ambiental é, mantendo o mesmo rendimento da versão de 2 litros, gerar uma economia de cerca de 20% para os consumidores, além de reduzir custos na produção e na confecção de embalagens. Na avaliação de Jorge Lima, gerente de assuntos governamentais e socioambientais da Unilever Brasil, o caso do Confort não reflete apenas o universo dos bens de consumo de limpeza, mas uma tendência global. “O consumidor está sendo convidado a mudar um pouco a sua cultura em benefício do meio ambiente. Acredito que, no futuro, mais produtos serão concentrados”, avalia.
Em relação às embalagens, a Unilever tem feito várias inovações. A redução do tamanho da caixa do sabão em pó Omo, por exemplo, evita o corte de 2,4 mil árvores por mês e reduz em 9% o consumo de combustível para transporte interno e externo. O desodorante Rexona, que antigamente vinha com uma tampa de plástico na embalagem, também passou por uma reformulação para eliminar esse item que terminava na reciclagem pós-consumo. A transição de vidro para PET das embalagens da maionese Hellmann´s, é outro exemplo eficiente, na medida em que resulta em economia anual de 1.029 toneladas de vidro e de 26.000 litros de água.
No mercado desde maio de 2008, esses novos produtos e embalagens, seguem ao pé da letra a nova cartilha da sustentabilidade, estimulando – segundo Lima - uma importante mudança de hábito nos consumidores. “O brasileiro opta tradicionalmente por custo e benefício. Mas hoje, há um terceiro pilar em questão: se o produto possui o selo verde e tem compromisso com a responsabilidade social”, ressalta o gerente da Unilever.
A Tetra Pak, empresa líder no setor de processamento, envase e distribuição de alimentos, também tem disseminado a idéia da sustentabilidade por toda a sua cadeia produtiva A preocupação ambiental com o descarte de seus produtos, aliada à produção recorde de 137 bilhões de embalagens em 2007, levou a empresa a desenvolver uma tecnologia específica para fabricação de diversos objetos a partir da mistura de plástico e alumínio, após a separação do papel que compõe a embalagem – utilizado posteriormente na produção de caixas de papelão e de papel reciclado.
As soluções desenvolvidas pela empresa estimulam o desenvolvimento das recicladoras e geram parcerias eficientes de negócios. Na fábrica Eco-Futuro, por exemplo, embalagens da Tetra Pak já utilizadas passam por um processo de prensagem, resultando em telhas. Na fábrica Polares, o material chamado pellet (mistura de alumínio e plástico) tem sido utilizado na produção de vassouras.
Segundo Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak, a quantidade de clientes que compram embalagens da companhia aumentou consideravelmente nos últimos anos. “É benéfico para uma empresa ter seu nome associado a uma cadeia de fornecedores socioambientalmente responsáveis”, afirma.
Além de criar novos produtos verdes, há um mercado empenhado em tornar mais sustentáveis os já existentes Um exemplo dessa evolução é a indústria automobilística. O novo conceito Flex Start, desenvolvido atualmente pela Bosch, pode resultar na produção de carros menos prejudiciais ao meio ambiente. Um veículo que possui o Flex Start está apto, por exemplo, a fazer uma “partida a frio”, sem precisar do reservatório dos veículos comuns, proporcionando uma redução de até 40% na emissão de poluentes. A previsão é de que esta nova tecnologia esteja disponível no mercado brasileiro a partir de 2009.
Outra novidade que pode ser muito eficiente nas grandes cidades é o sistema Start Stop, que reconhece uma série de condições de uso do carro e desliga o motor automaticamente quando o automóvel está parado em marcha lenta por longo período, sendo acionado novamente apenas com o uso dos pedais. Esse sistema pode reduzir em até 8% o consumo de combustível e em até 5% as emissões de CO2. O Star Stop já integra os veículos europeus e deve estar disponível no Brasil a partir de 2010.
De acordo com Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produtos da unidade sistemas a gasolina da Robert Bosch América Latina, a introdução dessas novas tecnologias no mercado, avaliada juntamente com o impacto no custo final dos veículos, tem gerado bons resultados. “É perceptível a disposição crescente dos consumidores para comprar produtos ambientalmente corretos”, destaca Ferreira.
Empresas mais conscientes
A necessidade de conscientizar os novos consumidores também se mostra um desafio para as empresas que investem em produtos mais sustentáveis. Segundo o diretor da GE, o Brasil tem uma nova classe média com grande poder de consumo e, por isso mesmo, inegável capacidade de influenciar os negócios. “Essa mudança reflete na habilidade do país crescer de uma maneira sustentável e na forma como a GE se prepara para atender a essa demanda”.
Para ajudar a fortalecer a consciência socioambiental nessa nova sociedade em formação, a GE aposta na Convocação Regional, evento que está no quinto ano e acontece pela primeira vez na América Latina e no Brasil. Cerca de 20 lideres de opinião, entre governo, empresas e ONGs, se reunirão na segunda semana de outubro para trocar experiências sobre um determinado tema, que, neste ano, será a sustentabilidade. Segundo Alfredo, como os negócios geram um impacto importante para a sociedade, deve partir das empresas o desenvolvimento de alternativas e soluções mais sustentáveis.
Na mesma linha de conscientizar consumidores, a Natura foi a primeira no país a destacar uma tabela ambiental no rótulo de produtos. “Elas contém informações a respeito da quantidade de matéria-prima proveniente de fontes renováveis e quais embalagens são recicladas ou recicláveis”, afirma Gonzaga.
Para Lima, da Unilever, quanto mais consumidores engajados, mais empresas devem aderir às práticas sustentáveis. “De modo geral, quando os consumidores são exigentes, a indústria procura se melhorar. O que temos feito é levar em consideração toda a preocupação durante o processo de produção de novos produtos”, ressalta.
Para Von Zuben, da Tetra Pak, o mais importante na relação com os consumidores é a transparência. “A empresa deve comunicar apenas a realidade. No final das contas, é muito fácil vender. Demora-se anos para se construir credibilidade. E pouco tempo para perdê-la”.
Tendências no mercado verde
Redução de embalagens
Parcerias para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas
Reformulação de produtos para redução do impacto ambiental
Desenvolvimento de novos produtos concentrados
(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental) - 03/09/2008 - 11h09
Um comentário:
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http://pt.scribd.com/doc/56081832/15/Narrativas
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