quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A busca pela justiça ambiental

Por Julio Godoy, da IPS - Copenhague, 27/10/2009

Existe consenso de que a responsabilidade maior pelas emissões de gases que provocam aquecimento global recai sobre os países industriais. Que dessa responsabilidade derivam consequências políticas, deveria também ser inequívoco. Mas, não é assim. Um exemplo: os governos do país que por muito tempo foi o principal emissor de gás-estufa, os Estados Unidos, negaram-se quase desde o início das negociações internacionais a cumprir obrigações válidas para as demais nações industriais.

Em 1999, o Senado norte-americano negou-se a ratificar o Protocolo de Kyoto, adotado em 1997 para regular as reduções das emissões de gás-estufa dos países industrializados até 2012. A negativa foi oficializada pelo presidente Geroge W. Bush em 2001, que repudiou o Protocolo e dele retirou a assinatura que seu antecessor, Bill Clinton (1993-2001), havia colocado.

Ao seu tempo, Legislativo e Executivo dos Estados Unidos empregaram dois argumentos contra o Protocolo de Kyoto. O primeiro: a redução substancial de emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa prejudicaria a competitividade industrial desse país. O segundo: nações do mundo pobre com altas taxas de crescimento econômico, como Brasil, China e Índia, deveriam ser parte do Anexo I do Protocolo de Kyoto e estarem obrigados a reduzir suas emissões, com independência dos custos que tal redução representaria para seu desenvolvimento.

Esta negativa dos Estados Unidos – e de outros países industriais, como a Austrália – em admitir sua responsabilidade na criação das condições propícias para a mudança climática, continua bloqueando as negociações para alcançar um novo esquema de compromisso para depois de 2012, que se espera conclua em dezembro em uma conferência internacional que acontecerá em Copenhague. Funcionários de organismos internacionais, cientistas e inclusive executivos de multinacionais concordam em prognosticar que, devido às posições de Washington e nações como Índia e China, na capital da Dinamarca não será ratificado um novo tratado contra a mudança climática.

Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, afirmou na semana passada que a reunião de Copenhague não produzirá “um novo tratado internacional completo”. De Boer recordou que os negociadores internacionais dispõem de poucos dias para conseguir um acordo. “Esta alta de tempo nos obriga a focarmos no que pode ser alcançado e planejado”, acrescentou em uma entrevista coletiva dada em Londres.

Christophe de Margerie, diretor-executivo da corporação francesa de petróleo Total, também afirmou na quinta-feira, em Paris, que “as diferentes parte não estão dispostas a se comprometer” na redução de suas emissões de gás-estufa segundo um tratado internacional vinculante. Nesse contexto, Copenhague realizou no último final de semana um fórum promovido pela Organização Global de Legisladores para o Equilíbrio Ambiental (Globe), formada por parlamentares do Grupo dos Oito (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) além de Brasil, China, Índia, México e África do Sul.

O encontro da Globe, criada em 1989, pretende mobilizar esforços em favor dos acordos mínimos que serão necessários em dezembro e mais além. O vice-presidente da Globe e membro do parlamento britânico, Graham Stuart, disse à IPS que a maioria das medidas necessárias para reduzir as emissões nos países industriais não precisa de um tratado internacional. Estas medidas são as que determinam padrões ambientais para a redução de emissões em edifícios, no transporte e nos aparelhos eletrônicos, no estímulo de energias renováveis e na otimização da eficiência energética, além das políticas de reflorestamento.

Benno Pilardeaux, porta-voz do Conselho Consultivo alemão sobre a mudança climática (WBGU), disse as IPS que especialistas ambientais que participam dos preparativos para o encontro de Copenhague consideram possível um acordo em dezembro.”O mais provável é que se estabeleça apenas um marco de posteriores negociações, para continuar os debates em uma nova conferência, a ser realizada em março do ano que vem”, afirmou Pilardeaux à IPS. O WBGU, integrado pelos cientistas de maior prestigio em todas as áreas do saber humano da Alemanha, assessora o governo em questões de mudança climática.

Considerando o bloco das negociações, o WBGU elaborou um novo protesto de reduções de gases causadores do efeito estufa, cujos fundamentos são, precisamente, a justiça ambiental e os limites nas emissões impostas pelo próprio desenvolvimento da mudança climática nos próximos 40 anos. Na proposta, intitulada “Solving the climate dilemma”, o WBGU recorda que a redução de emissões até 2050 está determinada pelo limite do aumento da temperatura média da Terra que os cientistas consideram tolerável e que estabeleceram em dois graus centígrados.

P WBGU insiste que respeitar este limite é imperativo para evitar consequências ambientais irreversíveis, incontroláveis e muito perigosas para a natureza e para a humanidade. A partir desse limite, o WBGU estima que nos próximos 40 anos a humanidade poderá emitir, no máximo, entre 600 bilhões e 750 bilhões de toneladas de dióxido de carbono CO². A margem depende da probabilidade estimada de que a mudança climática ocorra ou não, e em que grau, emfunção desse aumento da temperatura em dois graus.

Se a probabilidade de ocorrer a mudança climática for fixada em 75%, à previsão total de CO² será de 600 bilhões de toneladas. Se a probabilidade cair 67%, se chegará a 750 bilhões de toneladas. “Em qualquer caso”, alerta o WBGU, “até 2050 as emissões de CO² deverão ser reduzidas ao mínimo. A época da economia alimentada por combustíveis fósseis deverá ter terminado na primeira metade deste século”.

Hans Joachim Schellnhuber, coautor do informe do WBGU e principal assessor do governo alemão para mudança climática, disse à IPS que, “por uma questão de elementar justiça ambiental, a previsão total de CO² deve ser divida em partes iguais entre toda a população mundial”. Por que “um cidadão alemão teria direito a emitir mais CO² do que uma pessoa na Índia ou na Tanzânia”, perguntou. “A regra a seguir deve ser dividir de maneira justa a cota global de CO² com que a Terra pode sobreviver até 2050 entre a população mundial total”, acrescentou.

Assim, cada pessoa, independente de sua nacionalidade, tem direito a emitir 110 toneladas de dióxido de carbono nos próximos 40 anos. Schellnhuber, diretor do Instituto de Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático, recordou que cada cidadão alemão emite, em média, 11 toneladas ao ano. Nos Estados Unidos, essa média é de 19 toneladas/pessoas, na Austrália 18 e na China 4,6, enquanto Brasil e Índia têm emissões anuais de CO² inferiores a duas toneladas por pessoa. Destes dados se depreende que os países industriais já consumiram sua cota de CO² estimada pelo WBGU, ou a consumirá em poucos anos. Inclusive a China, segundo suas emissões atuais, dispõe apenas de uma cota para 34 anos.

Schellnhuber argumenta que o uso deste método permitiria estabelecer de maneira sistemática e justa objetivos precisos de redução de emissões até 2020 para todos os países industriais, além de determinar as responsabilidades das nações em desenvolvimento para conceber uma economia livre de carvão no médio prazo. O WBGU expressa a esperança de que “a cota total de carbono constitua a base das negociações para um novo tratado sobre mudança climática”, pois o conceito combina “princípios fundamentais de igualdade com cifras concretas para a redução de emissões, que todas as nações do mundo deveriam aceitar para prevenir a desestabilizaçao do clima da Terra”.

A secretaria da Convenção divulgou na semana passada novos números sobre emissões dos países industriais. Apesar da colocação em prática do Protocolo de Kyoto, a concentração de CO² na atmosfera continua aumentando. As emissões dos 40 países mais industrializados aumentaram 3% entre 2000 e 2007, diz um comunicado da Convenção datado da última quarta-feira. O comunicado acrescenta que, em embora as emissões das 37 nações obrigada pelo Protocolo de Kyoto tenham caído 16% desde 1990,isto se deve à queda das economias do antigo bloco socialista, e não a políticas ambientais e energéticas adequadas.

Fonte: (Envolverde/IPS) - 27/10/2009 - 01h10

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A mudança climática está mais rápida do que se pensava

Por Jim Lobe, da IPS

Washington, 25/09/2009 – Faltando menos de três meses antes para uma negociação mundial-chave para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, um novo estudo divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta que a mudança climática está mais rápida do que se pensava. O informe de 68 páginas intitulado “Compêndio 2009 da ciência da mudança climática” sugere que muitas das mais severas previsões feitas há dois anos pelo Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC) estão cada vez mais próximas de se concretizarem. O IPCC reúne centenas dos mais destacados científicos atmosféricos e do clima do planeta.

O novo trabalho, baseado na informação proporcionada por cerca de 400 grandes estudos científicos e instituições de pesquisa nos últimos três anos, e que será continuamente adaptado, alerta que a Terra pode estar se aproximando rapidamente de um umbral climático, ou a “pontos de quebra” que poderiam distorcer permanentemente todos os ecossistemas que atualmente permitem a vida de milhões de pessoas. Os últimos estudos preveem que a média das temperaturas no planeta poderá aumentar no final deste século no mínimo 4,3 graus ( que era o limite máximo calculado pelo IPCC), mesmo se as nações industrializadas cumprirem suas mais ambiciosas metas de redução nas emissões de gases de efeito estufa, segundo o Compêndio.

“Há apenas dois anos, pensávamos que o nível do mar se converteria em um tema importante em um século ou dois”, disse o diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner. “A última pesquisa (sobre os níveis dos oceanos) é algo que realmente desanima”, afirmou, acrescentando: “Não é algo inconcebível o nível do mar aumentar dois metros durante a vida de uma criança que nasça hoje”. Além disso, destacou que a informação obtida pelos cientistas sobre sistemas-chave da Terra afetados pelo aquecimento global – como clima, gelo, oceanos – contribuem para um “crescimento exponencial de nosso entendimento” sobre os múltiplos impactos da crescente quantidade de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, emitidos na atmosfera.

As últimas pesquisas, destacou Steiner, tendem a confirmar algumas das previsões mais preocupantes do informe 2007 do IPCC. “Necessitamos que o mundo se dê conta, de uma vez por todas, de que o tempo de agir é agora, e que temos de trabalhar juntos para enfrentar este desafio monumental”, escreveu no informe o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que presidiu a cúpula de um dia sobre mudança climática na abertura, segunda-feira, das sessões da Assembleia Geral da ONU. “Este é o desafio moral de nossa geração”, ressaltou.

O Compêndio é divulgado justamente quando o Grupo dos 20 países industrializados e emergentes se reúne a partir de hoje na cidade norte-americana de Pittsburgh. Como na cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos realizada em julho na cidade italiana de Aquila, espera-se que a mudança climática ocupe um dos primeiros pontos da agenda. Naquela oportunidade, os mandatários, incluindo o presidente norte-americano, Barack Obama, se comprometeram a reduzir em 80% as emissões de gases de efeito estufa até 2050, em relação aos níveis de 1990.

A apresentação do informe foi claramente planejada para destacar a urgência de se adotar ações firmes contra as emissões quando se reunirem representantes de 190 países na conferência internacional de dezembro em Copenhague, na qual se começará a preparar um novo tratado mundial que em 2012 substituirá o Protocolo de Kyoto, adotado em 1997. “Enfrentamos mudanças muito graves em nosso planeta, e devemos nos dar conta do quanto são sérios para apoiar as medidas de transformação necessárias”, afirmou Steiner.

O informe conclui que o crescimento na economia mundial no início desta década causou um rápido aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera. Isto contribuiu para um mais rápido aumento do nível do mar, a acidificação do oceano, o derretimento dos gelos do Ártico e o aquecimento das massas polares continentais. A maioria dos modelos desenvolvidos no último informe do IPCC previa um total derretimento do Ártico até o final do século XXI, mas os novos estudos antecipam esse acontecimento para 2030.

Por outro lado, o derretimento das geleiras de montanha – das quais depende um quinto da população mundial para obter água – e da camada de gelo da Groenlândia sofreram uma aceleração em um ritmo muito mais rápido do que o previsto, segundo o Compêndio.”O Ártico é realmente o indicador, porque o que acontece ali” nos diz o que enfrentamos, afirmou Robert Correll. “Está cerca de 30 anos adiante de nós. As coisas acontecem muito mais rapidamente. As geleiras derretem e retrocedem três ou quatro vezes mais rapidamente do que em 1980”, acrescentou.

O informe do IPCC projetava um aumento do nível do mar entre 18 e 59 centímetros até 2100, mas as estimativas mais recentes o situam entre 80 centímetros e dois metros. Além disso, a acidificação dos oceanos ocorre muito de maneira muito mais rápida do que o previsto, de acordo como Compêndio, o que coloca em risco populações de mariscos e corais, bem com a abundante vida marinha que sustentam.

Além do Ártico e dos oceanos, as massas continentais em todo o planeta também mostram crescente evidência do impacto das emissões de carbono em seus climas e ecossistemas. O umbral poderia ser alcançado em questão de anos, e isso causaria mudanças drásticas nos ventos de monções na Ásia meridional, bem como na região do Saara e na África ocidental.

Fonte: (Envolverde/IPS)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Logística reversa terá apoio de cooperativas de catadores

Relatório final sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos destaca as cooperativas de catadores como modelo a ser seguido

Em relatório final sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresentado pelo Grupo de Trabalho (GT) formado para discutir o assunto na Câmara, as cooperativas de catadores são citadas como modelo a ser adotado por fabricantes de embalagens para garantir a implantação da logística reversa, ou seja, do processo de retorno de resíduos e embalagens para reutilização, após o consumo do produto nelas contido. De acordo com o relatório, o texto representa um consenso entre os diversos setores envolvidos com o tema.

Segundo o coordenador do GT, deputado Arnaldo Jardim (PPS/SP), a lei não pode privilegiar, mas demonstra preferência pelas associações e cooperativas de catadores, devido ao seu já comprovado poder de realizar a tão buscada inclusão social. ''Os comandos da legislação são claros no sentido de fortalecer as cooperativas, mas não podemos impor parceria com cooperativas no caso de uma determinada empresa optar por adotar outra medida para o retorno de insumos'', comentou.

Para o diretor executivo da Abralatas, Renault Castro, o mecanismo de logística reversa previsto na proposta do GT parece razoável e exequível para todos os segmentos, embora não tenha ainda sido analisado com profundidade por todos os participantes da cadeia de produção de latas. Tudo indica que a proposta admite o compartilhamento de responsabilidades sobre os resíduos e a utilização de modelos já existentes. A preocupação do setor de latas de alumínio é que seja preservado o atual sistema de coleta dessa embalagem, que funciona de modo autônomo e é considerado referência internacional. O modelo, que permitiu ao país alcançar um índice de 96,5% de reciclagem da lata em 2007, baseia-se fortemente no trabalho de cooperativas e, graças ao elevado valor das latas de alumínio, tem estimulado até mesmo a coleta de outros materiais menos lucrativos para o catador.

''Ao que tudo indica, o modelo de logística reversa previsto pelo relatório não exige mudança em sistema de coleta que já funciona bem, como o da lata de alumínio; estimula a responsabilidade compartilhada, mas não obriga uma substituição de atores, o que pode até contribuir para a maior formalização deles. Nesse caso é preciso verificar a viabilidade do sistema proposto do ponto de vista tributário para não correr o risco de enfraquecer as associações e cooperativas'', observa Renault.

PNRS - A nova proposta de projeto de lei define um marco regulatório para o tratamento do lixo urbano e introduz o conceito de corresponsabilidade em relação ao destino do lixo, envolvendo o setor público e o produtivo (fabricantes, comerciantes e até consumidores). O texto prevê a criação de um Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos e incentivos tributários como o desconto de até 50% de IPI na compra/importação de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados à reciclagem.

O projeto aponta ainda quatro setores que passariam a ser obrigados a implementar o sistema de logística reversa de forma independente do serviço público de limpeza. São eles os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus e óleos lubrificantes, incluindo seus resíduos e embalagens. Para Arnaldo Jardim, a implementação do sistema nesses segmentos virá gradativamente, com a garantia desse princípio na lei.

Fonte: Abralatas


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Lixo que vira literatura

Programa de educação ambiental muda a vida de Maria Clara


Transformar lixo em livros pode ser uma tarefa complicada. A extensionista da Emater Maria Clara Picoli pensa diferente. E a comunidade agrícola de Cristal também. Graças à ação e ao empenho de Maria Clara, com criatividade e colaboração mútua, os produtores do Sul do Estado mostram que é possível fazer milagre e, de quebra, reduzir o impacto ambiental no campo.

Ao coordenar a coleta seletiva no interior do município, a extensionista lidera uma ação aplaudida no meio rural e na cidade.

– É um esforço inédito e único no Estado. Exercer a educação ambiental no meio rural é uma lacuna que devia ser preenchida em várias outras regiões – exalta a diretora da Biblioteca Municipal, Simone Silva.

No projeto Luxo Que Vem do Lixo, a prefeitura mobiliza a população da separar e recolher o lixo seco. Parte dos resíduos é vendida e destinada à manutenção da biblioteca pública, que recebe assinaturas de revistas e jornais. Jogos educativos e eventuais reformas no local, como a pintura do prédio e a conservação dos jardins, também são adquiridos com o recurso. A renda anual chega a R$ 3 mil.

Outra parte do lixo inorgânico é transformada em utensílios para uso dos produtores e para venda. É aí que entra o papel de Maria Clara.

Por meio de oficinas de garrafa PET para produtoras do interior de Cristal, a pelotense de 46 anos também ajudou a diminuir o acúmulo de resíduos e passou a agregar renda à família rural. Com o material recolhido, são confeccionados objetos como pufes, mesas e cortinas.

Graças a esse trabalho, a extensionista foi uma das 12 premiadas com o prêmio do governo do Estado Semente de Vida. Formada técnica em Economia Doméstica pela KVG Consultoria, recebeu o troféu na categoria Gestão Ambiental, em Rio Grande.

– Meu maior prêmio é ver em prática estas ações de conscientização ambiental – diz a colaboradora.


Como tudo começou
A necessidade do projeto no campo partiu dos próprios produtores. Até então, o grande número de sacolas e garrafas plásticas era enterrado, queimado ou depositado em sangas.


FERNANDO HALAL | Rio Grande/ Campo e Lavoura
Jornal Zero Hora - 14 de agosto de 2009 | N° 16062



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Empresas sustentáveis têm funcionários motivados

Crise econômica eleva a importância do movimento de responsabilidade social empresarial para o mercado de trabalho.

Entre os grandes desafios que a transição para um novo modelo econômico deverá enfrentar nos próximos anos está o de gerar novos empregos, os chamados empregos verdes, não só para repor os postos de trabalho que serão fechados junto com as atividades pesadamente emissoras de carbono quanto para atender às demandas das novas gerações.

O tema foi discutido no congresso internacional Sustentável 2009, em mesa integrada por Fabián Echegaray, diretor da consultoria Market Analysis, Paulo Sergio Moçouçah, coordenador de Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, e Luiz Eduardo Rubião, sócio-fundador da Chemtech, moderados por Roberta Cardoso, da FGV. Houve também a participação, via teleconferência, de Bob Willard, autor de The Sustainability Advantage e de The Next Sustainability Wave.

Os empregos verdes vêm crescendo aceleradamente nos últimos anos. De acordo com Paulo Sérgio Moçouçah, da OIT Brasil, a expressão ganhou popularidade a partir da sua inclusão no programa de governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Agora, com a crise econômica, segundo ele, diversos países vêm centrando os esforços para a recuperação econômica investindo em atividades sustentáveis, sobretudo em energias renováveis.

Segundo Moçouçah, a experiência tem comprovado, como argumentava o plano de Obama, que as atividades sustentáveis geram mais empregos que os setores tradicionais. Países como a China, que atualmente investe em atividades sustentáveis cerca 20% do total dos investimentos de sua economia, e a Índia, que também tem investido pesadamente em energia solar, são exemplos dessa capacidade da nova economia.

O elevado potencial para gerar empregos das atividades de baixa emissão é comprovado também por um estudo desenvolvido pela OIT, juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em setembro do ano passado. O estudo revelou que, ao contrário do que se pensou, a crise econômica vem ajudando a superar os altos níveis de desemprego ocorridos a partir de meados dos anos 1990, quando o modelo econômico baseou-se nas atividades do setor financeiro.

Segundo o coordenador da OIT, a crise recolocou a geração de empregos no centro das políticas públicas: “O emprego verde surge com a divulgação do relatório de mudanças climáticas, em 2007, exatamente quando a crise econômica também se inicia. Foi o crescimento do conceito que levou a OIT a assumir a tarefa de tratar da questão das mudanças climáticas no âmbito do mundo do trabalho, por meio do programa global Quero o Verde de Volta”, conclui.

Os impactos da nova economia sobre o mundo do trabalho foram analisados também por Fabián Echegaray, diretor da consultoria Market Analysis, que desenvolveu uma pesquisa para saber como os trabalhadores de 32 países, inclusive do Brasil, estão percebendo as ações de RSE praticadas por suas empresas. Foram entrevistados mais de 3.460 funcionários de grandes empresas, independentemente do cargo.

O estudo, concluído no início deste ano, revelou que nove em cada dez brasileiros apoiam a atuação da empresa como canal pedagógico; para 92% deles, quanto mais socialmente responsável for a empresa, mais motivado e leal será o seu funcionário. Os resultados mostram que, pelas práticas da empresa, os funcionários também desenvolvem maior sentido de autoeficácia pessoal como consumidores, tornando-se capazes de influir no comportamento das empresas por meio da compra consciente.

De acordo com Echegaray, a pesquisa mostra que a empresa sustentável tem funcionários mais receptivos ao seu ativismo na área e que legitimam seu papel educativo. “Eles reagem com entusiasmo e fidelidade diante de uma atuação socioambiental positiva e tendem a acreditar mais na comunicação da empresa sobre suas ações e resultados dos seus investimentos sociais”, conclui ele.

Por Celso Dobes Bacarji, da Envolverde - especial para o Instituto Ethos

(Envolverde/Instituto Ethos)

domingo, 19 de julho de 2009

Responsabilidade socioempresarial: o poder e o fazer do homem

O filosofo alemão Hans Jonas no livro “O princípio da responsabilidade”, nos brinda com parte do canto do coral de Antígona, de Sófocles.

“Numerosas são as maravilhas da natureza, mas de todas a maior é o homem! Singrando os mares espumosos, impelido pelo ventos do sul, ele avança e arrosta as vagas imensas que rugem ao redor!

“Os bandos de pássaros ligeiros; as hordas de animais selvagens e peixes que habitam as águas do mar, a todos eles o homem engenhoso captura e prende nas malhas de suas redes.

“Com seu engenho ele amansa, igualmente, o animal agreste que corre livre pelos montes, bem como o dócil cavalo, em cuja nuca ele assentará o jugo, e o infatigável touro das montanhas.

“Dotado de inteligência e talentos extraordinários, ora caminha em direção ao bem, ora ao mal… Quando honra as leis da terra e a justiça divina ao qual jurou respeitar, ele pode alçar-se bem alto em sua cidade, mas excluído de sua cidade será ele, caso se deixe descaminhar pelo mal.”

Este canto de grande impetuosidade humanística nos ajuda a refletir sobre o poder e o fazer do homem e a ética da responsabilidade na nossa contemporaneidade.

É inegável o poder visionário e a sensibilidade de Sófocles quanto às qualidades, força e engenhosidade do homem na alteração do seu habitat, buscando formas de vida em prol do conforto e desenvolvimento próprio e da comunidade que habita.

Também, é sábio quando o mesmo chama atenção da direção que o homem pode ter em relação ao poder e o fazer e a importância dessa atitude, pois pode levar a auto-eliminação.

Se contemporizarmos as palavras de Sófocles, expressaríamos que o homem que respeita as leis oriundas da natureza e, portanto divinas, bem como as benéficas constituídas por ele próprio, haverá aceitação da comunidade e o seu poder e fazer será em prol do desenvolvimento de si mesmo e de todos e, portanto da preservação de habitat.

Porém, se o mesmo caminhar para o mal, o que se presume de forma irresponsável, ele será excluído e extinto de seu habitat, em função de suas ações de descuido com o meio ambiente e sua comunidade. Exemplo dessa exclusão é a inconformidade da natureza, expressa pelas catástrofes climáticas envolvendo grande número de pessoas e áreas geográficas.

Ora se os Governos, Estados, Nações, empresas são formadas por homens, estes têm um papel primordial na condução de formas mais responsáveis de lidar com a vida e como os aspectos sócio-empresariais.

Porém, a ética e a responsabilidade ainda não foram traduzidas em um bom caminho trilhado pelo homem, vide que persiste o fluxo de poder socioeconômico entre países mais poderosos e menos poderosos, o que denota que continua a exploração do homem pelo homem, dos recursos materiais e da degradação da qualidade de vida aos moldes do mercantilismo medieval e que nos tempos atuais tem nova paginação: globalização.

Salvo o surgimento de países em desenvolvimento que tem melhorado seus índices de desenvolvimento, mas que convivem internamente com regiões ricas e pobres, a configuração de poder permanece ao longo do tempo e assim, cresce a responsabilidade de todos: desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos em encontrar o caminho de sustentação econômica com mecanismos responsáveis para proporcionar mais dignidade e justiça ao homem contemporâneo e a sua perpetuação.

Ao dirigir a lente para o individuo, a opção de ser um homem responsável, ético e, portanto, bem quisto e benéfico para seu habitat apresenta forma diferenciada a depender da cultura: ibérica/latina e anglicana.

Historicamente, em países com origem anglicana, as leis prevêem que o homem pode doar parte ou toda sua propriedade, em vida ou após a morte para instituições com fins diversos. A religião anglicana suscita a cooperação, o bem estar social para o desenvolvimento e preservação de todos, o que impacta em distribuição de renda menos injusta, não eximindo os de uma relação de dominância com outros países.

Exemplos desse estilo são as fundações Ford, Rockfeller e Guggenheim, inicialmente com cunho filantrópico, mas que simbolizam o inicio da temática social na gestão empresarial.

A cultura ibérico-latina, como retrata o escritor Sergio Buarque de Holanda no livro “Raízes do Brasil”, a qual influenciou preponderantemente a maior parte do Brasil, possui uma relação de propriedade ligada à hereditariedade e exemplos de doação a comunidade são menos encontrados e apresenta concentração de renda mais injusta.

Mesmo existindo maior probabilidade de uma cultura sobre a outra, no que toca ao exercício de responsabilidade social e desprendimento monetário, percebe-se em ambas as culturas, que a visão do empreendedor é que personificará os programas sócio-empresariais. Aqueles em que a alma é comprometida com o amor a humanidade, e que trilham caminhos públicos consistentes levam ao bem social e empresarial. Aqueles que trilham os caminhos da responsabilidade sócio-empresarial motivados por fatores particulares, mercadológicos ou de forma parcial no processo produtivo serão expulsos naturalmente.

É o homem no exercício de sua sabedoria que poderá atuar eticamente em suas atividades produtivas, investir socialmente, não apenas através de doações filantrópicas, mas com programas de desenvolvimento socioambiental e comunitário, materializando seu poder e fazer em políticas públicas, educacionais, ambientais e outras que levem ao mundo mais harmônico e justo para todos.

Ivana Maria Oliveira Maciel é colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. Economista, pós-graduada em administração financeira e marketing, mestra na área de energia com ênfase em serviços e participa do Instituto Integra, que objetiva a educação para a mulher e integração dos princípios femininos e masculinos através de desenvolvimento de projetos de geração de renda.

(Plurale)

Sustentabilidade. O futuro não é mais como era antigamente?

Definitivamente, não. Mas fiquem calmos, leitores (as). Como estamos falando de futuro, tudo pode mudar e esta é a nossa única certeza: mudança. Para o bem ou para o mal, a escolha é sempre nossa. Não existem os culpados, só existe a nossa responsabilidade: diante do planeta, do país, da cidade e das organizações das quais participamos. E é nelas que eu quero me focar.

Públicas ou privadas – as organizações humanas são as alavancas capazes de construir outra realidade para o mundo no que diz respeito às dimensões econômicas, ambientais e sociais. A articulação entre governo, empresas, cidadania, instituições educacionais e imprensa, entre outras, é uma fórmula poderosa para encontrarmos soluções conjuntas para os desafios que temos pela frente.

Mudanças climáticas, biodiversidade em risco, hábitos e processos ambientalmente devastadores, lixo, escassez de água, necessidades energéticas, centros urbanos em crescimento caótico, produção de alimentos, educação, saúde e lucros. Mudança de hábitos...

Não é uma agenda pequena, não será simples dar conta. Mas nunca foi fácil enfrentar desafios envolvendo tanta gente junta (se a Terra é nossa única “espaçonave”, vamos precisar nos relacionar com gente que pensa diferente, age diferente, entende diferente). Mas isso a globalização já tinha nos mostrado que seria o principal desafio. E é aqui onde a comunicação entre em cena.

Através do diálogo participativo, lúcido, tolerante a novas abordagens, pontos de vista diferentes; através de canais interativos (e a web já nos ampliou esses horizontes de contato) e na vontade de manter relacionamentos de longo prazo, vamos ser capazes de dar conta deste futuro que se apresenta. Pronto, alguns vão me achar por demais utópico, sonhador – tudo bem. Gosto de sonhar, pois adoro, mais ainda, transformar sonhos em realidade. E trabalhar com comunicação para a sustentabilidade tem me dado esta satisfação. Tem me permitido a possibilidade de conhecer mudanças que de fato estão saindo do papel e acontecendo.

Tenho encontrado empresas que buscam novos caminhos, aprendendo com erros e refazendo processos de maneira inovadora em diferentes setores. Gente comprometida, dentro das organizações, realizando, dia após dia, pequenas evoluções, mas que num conjunto e num espaço de tempo relativamente curto vão frutificar. É o novo pedindo passagem e remodelando velhos paradigmas.

Desde o setor de mineração, de energia até o setor farmacêutico, bancário e cosmético. Sempre com a comunicação como fio condutor dessa evolução cultural, processual e, sim, emocional. Costurando redes sociais pioneiras (ONGs sendo ouvidas em grupos, por exemplo) e possibilitando a troca de experiências (comunidades indígenas dialogando com técnicos e engenheiros) e colocando pessoas diferentes e necessidades múltiplas em colaboração.

Portanto, acredito: é através de um modelo mais sustentável de negócios e relações, pois redes amplas dão maior visão do todo - numa abordagem sistêmica das atividades humanas, que vamos fazer com que o futuro seja mais promissor. Com mais qualidade nas ações, melhor aproveitamento de recursos, menos desperdício, menos injustiças sociais e maior respeito ao meio ambiente. Um legado de grande valor às gerações que ainda estão por vir.

Luiz Antônio Gaulia é Colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. É especialista em Comunicação Empresarial e Comunicação para a Sustentabilidade. Atualmente é consultor da Rebouças & Associados trabalhando com Comunicação para Transformação em empresas como Petrobras, Light S.A. entre outras. http://gaulia.blogspot.com/

(Envolverde/Revista Plurale)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Mercados verdes, produtos mais verdes

Por Redação da Revista Idéia Socioambiental

Com a nova realidade global e a crescente demanda por produtos verdes, grandes corporações começam a repensar suas estratégias de negócios visando adaptar-se a um mercado consumidor cada vez mais engajado e sensível às questões socioambientais. A partir do investimento em pesquisa e em novas tecnologias, alternativas mais sustentáveis surgem a cada dia, inspiradas em casos mundiais já clássicos de inovação verde, como a linha Ecoimagination, da General Eletric, e os veículos híbridos Prius da Toyota.

Segundo Alexandre Alfredo, diretor de comunicação da GE na América Latina, a inovação para produtos mais sustentáveis começou a ganhar força na empresa a partir de 2004. “Foi quando sentimos que havia a necessidade do desenvolvimento de novas tecnologias, que deveriam ser mais limpas e mais amigáveis em relação ao meio ambiente. Essa era uma preocupação em comum dos nossos clientes da GE. Assim resolvemos lançar a Ecoimagination”, afirma.

De acordo com Alfredo, existe uma forte consciência socioambiental em ascensão no Brasil. O consumidor - acredita - está cada vez mais exigente e cobra ações eficientes por parte das empresas, do governo e das ONGs. “Existe uma consciência muito presente. Por conta disso, identificamos várias oportunidades na área. Não abraçamos esse tema porque queremos ser simplesmente corretos, mas porque é uma unidade de negócios que pode gerar muito retorno financeiro”, explica o diretor.

A linha Ecoimagination será lançada oficialmente no Brasil em 2009. Mas os primeiros bons resultados comprovam o sucesso do empreendimento. Em três anos, mais de 5.000 projetos da linha foram lançados, gerando uma economia energética de 97 milhões de dólares e a redução de 600 mil toneladas de CO2 por metro cúbico, contabilizados produção e consumo. O segmento de produtos mais sustentáveis já rendeu à General Eletric um lucro de aproximadamente 14 bilhões de dólares.

Inovações para o mercado verde

Algumas empresas já têm uma posição consolidada em relação a práticas ambientalmente responsáveis. É o caso da Natura. Considerada uma pioneira em sustentabilidade no país, a empresa fez investimentos importantes, na última década, visando substituir elementos fósseis por outras substâncias na composição de seus produtos, e também o álcool comum pelo álcool orgânico na perfumaria e nos desodorantes da marca.

Segundo Daniel Gonzaga, diretor de pesquisa e tecnologia da empresa, o processo de modificação dos produtos pode levar de um a dois anos de estudo. “É necessário garantir que a matéria-prima esteja disponível na quantidade necessária e que a nova fórmula não altere as características sensoriais da composição. Não adianta desenvolver algo sustentável, natural, mas que não agrade o consumidor”, conta.

As inovações na formulação dos cosméticos da Natura só foram possíveis após anos de trabalho no campo de pesquisa e desenvolvimento, com o auxilio de cerca de 200 profissionais de diferentes formações. Para Gonzaga, a união entre as empresas é fundamental para que resultados eficientes possam ser alcançados em menor prazo. “Muitas vezes, temos projetos interessantes do ponto de vista tecnológico, mas que não conseguem ser viabilizados economicamente porque são poucas as empresas interessadas em desenvolvê-los”. Esse tipo de parceria representa o conceito de Open Innovation (Inovação Aberta), uma tendência no mercado que leva empresas a expandirem seus conhecimentos para além dos laboratórios, permitindo economia de tempo e de recursos.

Outra tendência no segmento de produtos mais verdes são os concentrados. Um bom exemplo é a nova versão do Confort de 500 ml, cuja vantagem ambiental é, mantendo o mesmo rendimento da versão de 2 litros, gerar uma economia de cerca de 20% para os consumidores, além de reduzir custos na produção e na confecção de embalagens. Na avaliação de Jorge Lima, gerente de assuntos governamentais e socioambientais da Unilever Brasil, o caso do Confort não reflete apenas o universo dos bens de consumo de limpeza, mas uma tendência global. “O consumidor está sendo convidado a mudar um pouco a sua cultura em benefício do meio ambiente. Acredito que, no futuro, mais produtos serão concentrados”, avalia.

Em relação às embalagens, a Unilever tem feito várias inovações. A redução do tamanho da caixa do sabão em pó Omo, por exemplo, evita o corte de 2,4 mil árvores por mês e reduz em 9% o consumo de combustível para transporte interno e externo. O desodorante Rexona, que antigamente vinha com uma tampa de plástico na embalagem, também passou por uma reformulação para eliminar esse item que terminava na reciclagem pós-consumo. A transição de vidro para PET das embalagens da maionese Hellmann´s, é outro exemplo eficiente, na medida em que resulta em economia anual de 1.029 toneladas de vidro e de 26.000 litros de água.

No mercado desde maio de 2008, esses novos produtos e embalagens, seguem ao pé da letra a nova cartilha da sustentabilidade, estimulando – segundo Lima - uma importante mudança de hábito nos consumidores. “O brasileiro opta tradicionalmente por custo e benefício. Mas hoje, há um terceiro pilar em questão: se o produto possui o selo verde e tem compromisso com a responsabilidade social”, ressalta o gerente da Unilever.

A Tetra Pak, empresa líder no setor de processamento, envase e distribuição de alimentos, também tem disseminado a idéia da sustentabilidade por toda a sua cadeia produtiva A preocupação ambiental com o descarte de seus produtos, aliada à produção recorde de 137 bilhões de embalagens em 2007, levou a empresa a desenvolver uma tecnologia específica para fabricação de diversos objetos a partir da mistura de plástico e alumínio, após a separação do papel que compõe a embalagem – utilizado posteriormente na produção de caixas de papelão e de papel reciclado.

As soluções desenvolvidas pela empresa estimulam o desenvolvimento das recicladoras e geram parcerias eficientes de negócios. Na fábrica Eco-Futuro, por exemplo, embalagens da Tetra Pak já utilizadas passam por um processo de prensagem, resultando em telhas. Na fábrica Polares, o material chamado pellet (mistura de alumínio e plástico) tem sido utilizado na produção de vassouras.

Segundo Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak, a quantidade de clientes que compram embalagens da companhia aumentou consideravelmente nos últimos anos. “É benéfico para uma empresa ter seu nome associado a uma cadeia de fornecedores socioambientalmente responsáveis”, afirma.

Além de criar novos produtos verdes, há um mercado empenhado em tornar mais sustentáveis os já existentes Um exemplo dessa evolução é a indústria automobilística. O novo conceito Flex Start, desenvolvido atualmente pela Bosch, pode resultar na produção de carros menos prejudiciais ao meio ambiente. Um veículo que possui o Flex Start está apto, por exemplo, a fazer uma “partida a frio”, sem precisar do reservatório dos veículos comuns, proporcionando uma redução de até 40% na emissão de poluentes. A previsão é de que esta nova tecnologia esteja disponível no mercado brasileiro a partir de 2009.

Outra novidade que pode ser muito eficiente nas grandes cidades é o sistema Start Stop, que reconhece uma série de condições de uso do carro e desliga o motor automaticamente quando o automóvel está parado em marcha lenta por longo período, sendo acionado novamente apenas com o uso dos pedais. Esse sistema pode reduzir em até 8% o consumo de combustível e em até 5% as emissões de CO2. O Star Stop já integra os veículos europeus e deve estar disponível no Brasil a partir de 2010.

De acordo com Fábio Ferreira, gerente de desenvolvimento de produtos da unidade sistemas a gasolina da Robert Bosch América Latina, a introdução dessas novas tecnologias no mercado, avaliada juntamente com o impacto no custo final dos veículos, tem gerado bons resultados. “É perceptível a disposição crescente dos consumidores para comprar produtos ambientalmente corretos”, destaca Ferreira.

Empresas mais conscientes

A necessidade de conscientizar os novos consumidores também se mostra um desafio para as empresas que investem em produtos mais sustentáveis. Segundo o diretor da GE, o Brasil tem uma nova classe média com grande poder de consumo e, por isso mesmo, inegável capacidade de influenciar os negócios. “Essa mudança reflete na habilidade do país crescer de uma maneira sustentável e na forma como a GE se prepara para atender a essa demanda”.

Para ajudar a fortalecer a consciência socioambiental nessa nova sociedade em formação, a GE aposta na Convocação Regional, evento que está no quinto ano e acontece pela primeira vez na América Latina e no Brasil. Cerca de 20 lideres de opinião, entre governo, empresas e ONGs, se reunirão na segunda semana de outubro para trocar experiências sobre um determinado tema, que, neste ano, será a sustentabilidade. Segundo Alfredo, como os negócios geram um impacto importante para a sociedade, deve partir das empresas o desenvolvimento de alternativas e soluções mais sustentáveis.

Na mesma linha de conscientizar consumidores, a Natura foi a primeira no país a destacar uma tabela ambiental no rótulo de produtos. “Elas contém informações a respeito da quantidade de matéria-prima proveniente de fontes renováveis e quais embalagens são recicladas ou recicláveis”, afirma Gonzaga.

Para Lima, da Unilever, quanto mais consumidores engajados, mais empresas devem aderir às práticas sustentáveis. “De modo geral, quando os consumidores são exigentes, a indústria procura se melhorar. O que temos feito é levar em consideração toda a preocupação durante o processo de produção de novos produtos”, ressalta.

Para Von Zuben, da Tetra Pak, o mais importante na relação com os consumidores é a transparência. “A empresa deve comunicar apenas a realidade. No final das contas, é muito fácil vender. Demora-se anos para se construir credibilidade. E pouco tempo para perdê-la”.

Tendências no mercado verde

Redução de embalagens

Parcerias para o desenvolvimento de tecnologias mais limpas
Reformulação de produtos para redução do impacto ambiental
Desenvolvimento de novos produtos concentrados

(Envolverde/Revista Idéia Socioambiental) - 03/09/2008 - 11h09

A polêmica do plástico oxibiodegradável

Para quem pensava que as sacolas oxibiodegradáveis seriam a resposta para o problema do acúmulo de plásticos na natureza, há uma má notícia: é cada vez mais freqüente, entre os especialistas, a opinião de que o modelo é poluente.

Um dos maiores especialistas em degradação de plásticos do mundo, o americano Joseph Greene esteve em Porto Alegre, no fim de junho, para o 8º Simpósio do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), no qual mostrou os resultados de uma pesquisa sobre o impacto de alguns tipos de plástico no ambiente. Com base no estudo, a Califórnia abandonou a idéia de adotar o plástico oxibiodegradável no Estado - Greene apurou que esse plástico não se desintegra.

- Não queremos que o plástico acabe com o planeta. Plástico é maravilhoso, mas pode se tornar um veneno - avaliou o americano.

Segundo o presidente do Plastivida, Francisco de Assis Esmeraldo, o plástico oxibiodegradável se esfarela com o tempo e é ingerido por peixes e outros animais, o que poderia levar a um desastre ecológico. Ainda assim, a Fundação Verde (Funverde), que divulga o oxibiodegradável no Brasil, afirma que há centenas de laudos comprovando a degradação do material em até 18 meses.

Enquanto isso, o Plastivida estuda alternativas para reduzir o impacto do uso do plástico no Brasil. Em agosto, lançará o Programa Qualidade e Consumo Responsável de Sacolas Plásticas, que promove duas soluções de curto prazo: convencer os consumidores a deixar de lado a mania de usar sacolas duplas e a acomodar mais produtos em cada uma delas.

Prévia de pesquisas realizadas pelo Plastivida em São Paulo mostram que 13% da população utiliza a sacola em duplicidade e que 61% usam apenas metade da capacidade que elas podem suportar - seis quilos, conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

- A culpa não é só do cliente, as sacolas são muito frágeis - aponta Esmeraldo.

Se o instituto alcançar o objetivo - de que apenas 6,5% da população utilize sacolas em duplicidade e 30% aproveite toda sua carga -, a redução no uso de sacolas plásticas pode chegar a 37%. O programa é uma parceria da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Será feito um trabalho de incentivo ao uso consciente com empacotadores e caixas. Além disso, haverá cartazes sobre o projeto nas lojas e um selo com a carga que cada sacola suporta.

Dúvidas verdes

A capa do Ambiente do mês passado, Carregando um problema, motivou uma série de e-mails de leitores com dúvidas sobre o uso de sacolas plásticas. O coordenador da área de Gestão Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Darci Campani, responde às questões de Sidney Charles Day, Andréa Cruz e Octavio Augusto de Souza.

É correto usar sacolas plásticas como saco de lixo?

O grande problema não é o fato de utilizá-las para a colocação de lixo, mas sim a imensa quantidade de sacolinhas que levamos para casa e que não têm outra utilidade senão essa. Às vezes, são tão fracas que nem para colocar o lixo servem. Aí, acabamos gastando mais ainda. As sacolas utilizadas para o transporte dos resíduos sólidos, na sua maioria, irão para aterros sanitários e nunca mais serão aproveitadas. Fazer isso com material virgem é um desperdício.

Por que as sacolas precisam ser feitas de material virgem?

Porque material reciclado pode não ter a garantia da desinfecção necessária ou a ausência de substâncias contaminadas, portanto não podem ser utilizadas para transportar alimentos. Para o transporte de alimentos, o ideal é usar embalagens não descartáveis e que dêem garantia de higiene.

Os sacos de lixo à venda se degradam mais rapidamente do que as sacolas plásticas?

Como os sacos de lixo são feitos de material reciclado, a sua diferença em relação às sacolas não é a velocidade da degradação, mas sim o fato de já terem sido utilizados várias vezes. Sempre que reutilizamos ou reciclamos algo estamos evitando a extração de material virgem, e com isso aumentando a vida útil das reservas naturais.

Há sacolas plásticas mais poluidoras do que outras?


Existem sacolas feitas com compostos metálicos e que, ao se decomporem, liberam essas substâncias no ambiente.

É correto usar sacolas plásticas para recolher fezes do cachorro ou é melhor colocá-las nos canteiros, porque viram adubo?

Depende do tamanho do cachorro e do canteiro. O ideal seria que as fezes passassem por um processo de fermentação aeróbia, por meio de uma composteira. A aplicação contínua de material não degradado pode levar a uma concentração elevada de coliformes fecais. Se você ainda não faz compostagem, utilize um saco pequeno em vez de uma sacola de supermercado para juntar as fezes e coloque-o junto com os resíduos comuns.


ZERO HORA - 31 de julho de 2008.

Reciclar carro reduz 70% de furtos e roubos


Na Argentina, legalização do desmanche desmotivou indústria do crime; Brasil só recicla 1,5% da frota


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A preocupação com o ambiente atingiu não só as montadoras, que fabricam carros mais econômicos, mas também a reciclagem de veículos. Iniciativas no exterior reduziram a poluição e os desmanches ilegais, diminuindo em até 70% o furto e o roubo de veículos.

Foi o que aconteceu em Buenos Aires, quando o Cesvi (Centro de Experimentação e Segurança Viária) da Argentina, em 2007, abriu uma unidade de reciclagem de veículos. Não há financiamento do governo argentino, que apenas regulamenta os desmanches.

Hoje as seguradoras argentinas cedem os carros sinistrados para o centro de reciclagem e recebem 40% do lucro obtido com a venda das peças.

As partes que não podem ser aproveitadas são recicladas, e sua matéria-prima, usada na fabricação de outros produtos.

Já as peças utilizáveis no reparo de um novo veículo são tratadas e vendidas para oficinas ou diretamente para proprietários. Em geral, são 30% mais baratas que as originais.

"As peças precisam de etiquetas de identificação oficiais e nota fiscal, facilitando a ação da polícia", revela Fabián Pons, gerente do Cesvi argentino.

Um processo semelhante acontece no Cesvi da Espanha, que também criou uma unidade voltada para o tratamento de veículos fora de uso.

Reciclagem

"A legislação europeia incentiva a reciclagem de veículos e obriga as montadoras a utilizar, na construção dos carros, materiais facilmente recicláveis", explica o gerente do Cesvi espanhol Ignácio Pérez.

O número de desmanches diminuiu de 3.000 para 500 unidades de reciclagem. "Pela lei, elas fazem maiores transformações", explica Pérez.

O Brasil, porém, ainda está distante desse cenário. Segundo o Sindinesfa (Sindicato do Comércio Atacadista de Sucata Ferrosa), apenas 1,5% da frota brasileira que sai de circulação vai para o processo de reciclagem -na Europa e nos EUA, esse índice chega a 95%.

Segundo José Aurélio, diretor de operações do Cesvi Brasil, "a entidade, sem o apoio de outras empresas, não tem dinheiro para abrir um centro de reciclagem". Na Espanha, ele custou 8 milhões (R$ 24 milhões).

(RICARDO RIBEIRO)

Fonte: Folha de São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ética ambiental e o futuro das empresas

A preservação do planeta passa pela conscientização de todos: consumidores, empresas, órgãos governamentais etc. Pensar o amanhã é nossa obrigação. Porém sem esforço não será possível diminuir os impactos já sentidos nas mudanças climáticas atuais.

A partir da Revolução Industrial, no século 18, o crescimento econômico evoluiu em grande proporção. Para que isso pudesse acontecer, foram necessárias grandes quantidades de energia e o consumo de recursos naturais. Assim, o desenvolvimento industrial passou a utilizar e explorar gradativamente mais o meio ambiente. Novos mecanismos e formas de produção, acrescidos da exploração intensiva e sistemática dos recursos naturais, generalizaram-se e espalham-se de forma descontrolada, sem a preocupação com futuras consequências para o meio ambiente. Um dos resultados dessa expansão é o grave problema ambiental que afeta todo o planeta nos dias de hoje.

A expansão do consumo e da capacidade de produção das indústrias foi motivo de euforia para a economia de grande parte dos países industrializados, porém essa grande demanda também trouxe o uso desenfreado dos recursos naturais necessários para a produção e o desenvolvimento das indústrias. Esse consumo vem fazendo com que a conscientização quanto à importância do uso dos recursos naturais e o impacto que podem causar no futuro sejam motivo de debates em todo planeta, pois, mesmo que o esgotamento destes recursos ainda não possa ser medido, eles não são infinitos.

Empresa ética

Percebe-se que algumas organizações já vêm adotando estratégias e fazendo esforços para apagar, ou pelo menos diminuir, o impacto de seus processos na natureza. A maneira de gerir a utilização dos recursos naturais é o fator que pode acentuar ou minimizar os impactos. No caso das indústrias que têm sua produção numa crescente por várias décadas, é necessário agir para que se possam preser var todos os recursos que estão sendo utilizados. O que é preocupante, pois, como gerir o consumo desenfreado de forma ética?

O papel do setor empresarial e industrial deverá ser o de buscar novos modelos de desenvolvimento e criatividade, mudando atitudes e valores, através de processos que têm como princípio a sustentabilidade ambiental. Este novo cenário deve estar voltado para a busca do reaproveitamento de toda matériaprima ou resíduo utilizado, através de novos processos tecnológicos. Em um futuro próximo, uma empresa ética poderá ser aquela que obtiver os melhores processos de sustentabilidade em seus produtos, pois s erão concebidos pensando na preservação do meio ambiente. O produto descar tado que puder ser reciclado e reutilizado em um processo produtivo será o grande diferencial.

Responsabilidade ambiental

Futuramente as empresas deverão ter um canal de comunicação mais efetivo com seus clientes. Um produto poderá ser devolvido ao final de sua vida útil - pela sua inutilidade, defeito ou descarte e entregue em um canal de distribuição. A empresa recebe o produto devolvido e o reutiliza em sua cadeia produtiva. Isso já acontece em alguns setores. Um exemplo acontece de forma ainda tímida com algumas empresas de telefonia celular, que recolhem de seus usuários aparelhos antigos ou sem uso na troca de um novo. Essa deverá ser a concepção futura das empresas: terem responsabilidades do início ao final da vida útil de seus produtos. Os desafios para atingir a sustentabilidade são grandes. Além disso, a empresa deve estar atenta para não lançar sobre a biosfera resíduos e substâncias que provoquem qualquer dano ambiental.

As empresas e indústrias que se comprometerem nesta nova era da ecoeficiência sustentável cer tamente serão compensadas por suas atitudes éticas para com o meio ambiente e as gerações futuras. E isso nós, como consumidores, devemos exigir. Aprender a consumir de maneira responsável será imprescindível nas próximas décadas. Cabe ao governo também fazer sua parte, através de programas de responsabilidade socioambiental, investindo para um comprometimento com o conceito de sustentabilidade, que é muito falado, porém muito pouco praticado.

Emerson de Fraga Freitas,
Equipe Mundo Jovem.
Endereço eletrônico: emerson@mundojovem.pucrs.br
Artigo publicado na edição nº 396, jornal Mundo Jovem, maio de 2009, página 8.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Água: A primeira grande vítima da mudança climática


Por Hilmi Toros, da IPS

Istambul, 18/03/2009 – Derretimento de gelos, elevação do nível do mar, secas, inundações... a água é o primeiro elemento que sofre os efeitos da mudança climática, disse o especialista Mark Smith, da União Internacional para a Conservação a Natureza (UICN), maior rede ambientalista do mundo. As consequências do aquecimento global ocupam o primeiro lugar da agenda da fase ministerial do 5° Fórum Mundial da Água, que começou segunda-feira (16/03) e terminará no próximo domingo (22/03) em Istambul, na Turquia. Smith, especialista em hidrologia, agricultura e florestas e diretor de programa da UICN, reclama “sistemas de água mais fortes” para lidar com as secas e inundações extremas.

O aquecimento do planeta parece destinado a continuar mesmo se “as emissões de gases causadores do efeito estufa pararem amanhã”, afirmou. É preciso prepara o mundo para “a nova dinâmica climática”, acrescentou. Smith publicou seu livro “Just one planet: poverty, justice and climate chance” (Um só planeta: pobreza, justiça e mudança climática) e trabalhou para o estatal Centro de Ecologia e Hidrologia, e na organização não-governamental Practical Action, ambos da Grã-Bretanha. A seguir um resumo da conversa que manteve com a IPS em Istambul.

IPS - Quais são os principais impactos da mudança climática na água?

Mark Smith - Aqueles sobre os quais ouvimos as pessoas falarem são secas, inundações, tempestades, derretimento de gelos e aumento do nível do mar. Todos eles têm algo em comum: a água. A água deve estar à frente e no centro das políticas de adaptação à mudança climática.

IPS - Quais regiões e países serão mais afetados, e como?

MS - Se pensamos em seca, devemos olhar para onde os modelos climáticos projetam menos chuva. As regiões mais preocupantes são o Mediterrâneo, África meridional, América Central e Ásia central. Também vastos territórios da Austrália, que sofrem uma seca muito séria e prolongada. Quanto às inundações, a preocupação se concentra nos deltas baixos. Há alguns onde vivem enormes populações, com Bangladesh e Holanda, e inclusive megacidades como Xangai e Nova York. Esses deltas também sofrem as consequências do aumento do nível do mar, e diante deste fenômeno as pequenas ilhas são muito vulneráveis.

IPS - É possível prevenir a mudança climática?

MS - A comunidade científica chegou ao consenso de que certa parte da mudança climática é hoje inevitável. Mesmo se as emissões de gases de efeito estufa terminassem amanhã, a concentração já acumulada e o calor armazenado nos oceanos significam que o aquecimento continuará. O que podemos fazer é reduzir esse aquecimento reduzindo seriamente as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases de origem humana causadores do efeito estufa até estabilizar sua concentração na atmosfera.

IPS - Que tipo de preparação recomenda?

MS - Precisamos nos adaptar. Isto significa que precisamos construir e operar infra-estrutura e organizar o modo como vivemos de maneira a ser apropriado para a nova dinâmica climática, e não para o clima ao qual estamos acostumados. Devido ao impacto previsto na água, a alta prioridade é adaptar o modo com a água é manejada e a infra-estrutura que empregamos para armazená-la e drená-la e para fornecer os seus serviços.

Necessitamos de sistemas para o manejo da água que possam funcionar com inundações ou secas extremas, por exemplo. Isso implica assegurar o funcionamento de infra-estruturas como unidades de tratamento e represas. Também implica garantirmos que as bacias fluviais e seus ecossistemas estejam em boa forma e não sofram degradação, porque a natureza ou a infra-estrutura natural das bacias fluviais, amortizam os efeitos da mudança climática. A natureza nos ajudará a resistir ao fenômeno.

IPS - Que margem de ação existe para reduzir esses impactos?

MS- Devemos começar a nos adaptarmos agora, mas, felizmente, especialmente para a água, boa parte da adaptação consiste em fortalecer as bacias fluviais e os sistemas aquíferos. Isto seria importante e benéfico agora, e mesmo se não houvesse mudança climática. Começaríamos bem se investíssemos em bons sistemas de manejo de água, é o que, de todo modo, se deve fazer.

IPS - A mudança climática aumenta a possibilidade de conflito pela água?

MS - Seguramente. Em lugares onde a escassez de água é uma fonte de tensão, a redução das chuvas e dos rios a aumentará. A possibilidade de conflitos entre comunidades ou entre nações aumentará, especialmente onde há outros problemas políticos presentes. A cooperação é um princípio importante no manejo da água. Melhorá-la nas bacias internacionais ajudará a nos adaptarmos à mudança climática. (IPS/Envolverde)


Fonte: (Envolverde/IPS)